Com o avanço das novas tecnologias, muitos se perguntam se o despacho aduaneiro está com os dias contados. Acompanhando a indústria há anos, acredito que o momento atual exige que os despachantes aduaneiros e as comissarias de despacho agreguem ainda mais valor com o uso das tecnologias emergentes.
Desde a pandemia, diversos setores econômicos aceleraram consideravelmente a adoção de soluções digitais. A crise sanitária global forçou empresas e governos a repensarem seus modelos operacionais, impulsionando a digitalização em uma escala sem precedentes. Por exemplo, em 2020, as exportações mundiais de serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) cresceram 6%, atingindo US$ 676 bilhões, com as tecnologias digitais tornando-se essenciais para manter a continuidade dos negócios, segundo a UNCTAD. Esse avanço foi crucial não apenas para a sobrevivência de muitas empresas durante a pandemia, mas também para o aumento da eficiência e a redução de custos operacionais.
No setor de comércio exterior, a digitalização tem desempenhado um papel transformador. Um exemplo relevante é a utilização cada vez maior de Inteligência Artificial em diversos processos da cadeia logística, oferecendo a oportunidade de digitalizar todo o departamento de comércio exterior das empresas que importam e exportam, além de agilizar o desembaraço aduaneiro.
Em muitas empresas, essas novas tecnologias complementam os sistemas e ERPs existentes, que normalmente carecem de módulos específicos para o comércio exterior. Os módulos disponíveis costumam ser incompletos, incapazes de digitalizar e simplificar processos, desde o pedido até a entrada da nota fiscal no estoque, incluindo o desembaraço digital.
Hoje, com o potencial que temos para digitalizar até 95% do departamento de comércio exterior, é possível criar controles para devolução de contêineres vazios e inúmeras outras funções, trazendo mais eficiência e tecnologia para os processos de importação e exportação.
A adoção dessas tecnologias é mais do que uma escolha estratégica; é uma necessidade inevitável para permanecer competitivo em um mercado global cada vez mais digitalizado. De acordo com a Economic and Social Comission for Asia and the Pacific (ESCAP), em regiões em desenvolvimento, a digitalização do comércio reduziu em mais de 20% os custos operacionais, destacando a importância da transição para processos sem papel e o uso de sistemas digitais.
E onde entra o despachante aduaneiro nesse cenário? Mesmo que o importador possa registrar sua DI automaticamente, o despachante aduaneiro, ao adotar essa tecnologia, pode terceirizar todo o departamento de comércio exterior dos clientes, agregando mais valor ao oferecer serviços completos. Isso inclui a redução da necessidade de pessoal e a aplicação do conhecimento técnico especializado que o despacho exige, agora enriquecido pela tecnologia. Dessa forma, o despachante aduaneiro não só continuará relevante, como poderá expandir seu papel, desde que compreenda como utilizar a tecnologia para oferecer serviços ainda mais completos aos seus clientes.
A digitalização é, portanto, o futuro inevitável de todas as áreas, incluindo o comércio exterior. Cabe aos profissionais do setor abraçarem essa transformação para garantir sua relevância e crescimento.
Rafael Dantas é diretor de Vendas da Asia Shipping
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