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Artigo - Por que Itajaí cometeu um erro estratégico na licitação do porto, condenando a cidade ao desemprego e queda de arrecadação?

Os moradores da região que passam em frente ao Porto de Itajaí se perguntam o que aconteceu com os contêineres e navios que chegavam na cidade. Infelizmente, a APM Terminais, empresa do grupo Maersk - um dos maiores armadores do mundo-, que detinha a concessão do porto, não renovou a mesma com a cidade por inúmeros motivos, mas, principalmente, por saber que Itajaí já estava condenada à estagnação por ter uma restrição de área física para crescimento e por saber que no futuro teremos navios cada vez maiores e que não poderão atracar em Itajaí, devido às limitações operacionais.

Outro ponto decisivo foi que o grupo Maersk adquiriu a Hamburg Sud em 2017 e, consequentemente, assumiu a participação acionária no Porto de Itapoá. Por muitos anos, o que também segurou o interesse dos armadores na cidade é que na região de Itajaí existe um complexo muito grande para carga refrigerada, podendo suportar muita carga de contêiner reefer (carga refrigerada), crucial para os armadores na exportação.

Vamos aos fatos: a cidade movimentou 1.600.000 TEUs em 2020 (equivale a 1.600.000 contêineres de 20 pés) que, ao chegarem ao porto, eram desembaraçados, transportados, desovados, armazenados e devolvidos para inúmeros terminais de contêineres vazios. Isso gerava milhares de empregos e uma grande arrecadação para o município de Itajaí. Infelizmente, os importadores e exportadores já estão direcionando suas cargas para o porto vizinho, o de Navegantes, mas grande parte da carga deverá migrar naturalmente para o porto de Itapoá, que, possivelmente, será o grande beneficiado com essas mudanças.

Isso pode impactar a região de Itajaí em qual aspecto? O primeiro ponto é que existe na região do Vale muitos armazéns para receber as cargas importadas ou exportadas por meio do porto. Em um primeiro momento esses armazéns ainda continuarão lá, pois nenhuma grande empresa muda sua logística e rompe seus contratos de locação da noite para o dia. E acreditem, essas mudanças são minuciosamente estudadas e quando essas empresas tomam uma decisão dificilmente elas costumam voltar atrás.

Porém, agora, com grande parte da carga descarregando no porto de Itapoá, que por sua vez tem sua venda direcionada para a região sudeste do País, dificilmente os importadores e exportadores irão continuar investindo na região do Vale de Itajaí, pois se trata de uma região que possui uma das BRs mais congestionadas do Brasil. Infelizmente, o congestionamento na logística significa custo adicional. Imagine que um caminhão leve 8 horas para ir e voltar durante o verão para a região do Vale do Itajaí, enquanto a carga descarregada em Itapoá, ou em seu entorno, não levaria nem um terço desse tempo no mesmo processo.

Possivelmente, o entorno do Porto de Itapoá, juntamente com as áreas próximas da BR- 101 mais ao norte, deverá se tornar o destino natural dos novos investimentos em logística e armazéns.

Não quero ser o cavaleiro do apocalipse, mas não vejo empresas estratégicas ou armadores (empresas proprietárias da frota global de navios) interessados na região de Itajaí e, mesmo que alguma companhia se interesse, o porto dificilmente movimentará 30% do que já chegou a movimentar no seu ápice.

É importante a cidade pensar rapidamente em um plano B para buscar substituir todos esses empregos e receitas de impostos que migrarão da região do Vale de Itajaí decorrente da saída da carga do porto. Como morador, espero que uma das cidades mais pujantes de Santa Catarina possa encontrar uma alternativa. Se eu fosse dar uma ideia aos governantes, pensaria em transformar a área, quem sabe, em uma versão brasileira de Puerto Madero na Argentina, incentivando a construção civil, pois será muito difícil o Porto de Itajaí se recuperar dessa grande falha cometida por seus gestores.


230714-rafael-dantas-asia-shipping-divulgacao-edit.jpgRafael Dantas é diretor de vendas da Asia Shipping

 

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