Há uns 10 anos presenciei uma situação no aeroporto de Frankfurt, voltando para Guarulhos com duas das minhas filhas. Com o check-in já efetuado a aeromoça avisou no gate 30 minutos antes do embarque: “Estamos overbooked, precisamos de 10 voluntários para desistir do voo. Oferecemos € 200/pessoa, mais hotel no aeroporto e embarque garantido amanhã”. Minha filha mais nova então falou: “Nada mal voltar das férias, recebendo um extra de € 200”. Mas eu falei: “€ 200 é pouco, espera que de repente oferecem € 500”. Nem nos € 300 apareceram voluntários, quando então minha filha se levantou e falou com a aeromoça: “por € 500 eu aceito”. Na verdade ela se precipitou já que fecharam com as duas últimas pessoas por € 800!
No shipping a situação atual não é muito diferente: não tem espaço, navios lotados, não tem contêiner e quando um armador compra contêineres novos, só recebe depois de 6 meses. Com isso, os fretes não param de aumentar e também já há armadores oferecendo recompensas para voluntários à rolagem de carga. Tem fila para tudo: para fazer booking, para receber o vazio, para entregar o cheio e fila para embarcar. Depois, no outro lado, as filas continuam para até receber o contêiner.
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Um cliente me perguntou esses dias: onde isso vai parar? Eu respondi: “só em 2023/24!” E sugeri: “Não discuta preço com o armador nessa altura, se você quer seu embarque garantido”. A melhor maneira de ilustrar a situação atual talvez seja a evolução dos volumes nos portos da Costa Oeste Norte Americana, antes durante e depois da pandemia:
E esse boom está acontecendo na maioria dos portos no mundo. O consumo doméstico aumentou tanto que simplesmente não existe navio e contêiner para atender, já que os armadores, por sua vez, vinham intensamente reduzindo os investimentos em contêineres desde 2019 e em navios desde 2016, como resultado de uma década de resultados ruins ou insatisfatórios, devido a: fretes baixos, bunker alto, demanda instável e overcapacity.
Depois de todos esses anos, chegou a vez dos armadores, estão faturando tudo que podem. E o cliente a essa altura só tem um jeito: pulverizar o volume e absorver os aumentos, usando seu relacionamento para tentar garantir espaço a bordo.
A situação só deve começar a mudar se/quando a demanda global arrefecer e/ou quando os novos navios começarem a sair dos estaleiros. Tem até navio fullreefer com mais de 30 anos de idade, deixando de virar sucata para ajudar a exportar congelados brasileiros!
Só falta bunker disparar, já pensou?? Mas isso não deve acontecer já que os principais produtores (Irã, EUA, Arábia Saudita e Rússia) estão operando com produção reduzida.
Henrik Simon é sócio da Solve Shipping