Em um mundo cada vez mais ligado à abordagem ESG, o meio ambiente frequentemente vem se tornando tema central em muitos negócios. A emissão de gases de efeito estufa (GEE) e a sua redução é pauta atual relevante. O transporte marítimo, por sua própria natureza, já é um modal mais sustentável e é responsável por movimentar mais de 80% do comércio internacional, e corresponde a 3% da emissão de gases de efeito estufa, incluindo o CO2, segundo dados da Organização Marítima Internacional (OMI) e da Comissão Europeia.
A OMI estabeleceu a ambição de reduzir as emissões de carbono da navegação internacional em pelo menos 40% até 2030 e 70% até 2050 – em comparação aos níveis de 2008. Isso significa que há a necessidade de fazer uma transição, nas próximas décadas, em grande escala para tecnologias de emissão zero escalonáveis, gerando grandes mudanças no fornecimento de combustível e criando novas oportunidades para várias regiões geográficas.
Nesse sentido, há um grande foco mundial em combustíveis alternativos como o hidrogênio verde e a amônia. A indústria está buscando soluções para melhorar a eficiência energética dos navios com designs inovadores, e alguns até já estão experimentando barcos elétricos!
Aqui no Brasil, estamos bem posicionados para liderar as soluções sustentáveis, especialmente considerando nosso know-how em biocombustíveis de cana-de-açúcar e a possibilidade de infraestrutura portuária verde. Vejo que o país tem um grande potencial com biocombustíveis, tendo em vista o nosso conhecimento em etanol e biodiesel. O Gás Natural Liquefeito (GNL) também é uma opção interessante, considerando nossas reservas.
Vale ressaltar ainda o enorme potencial do hidrogênio verde com toda a nossa capacidade em energias renováveis, e o Complexo do Pecém, localizado na região metropolitana de Fortaleza, vem liderando esses esforços e segue em uma jornada para atrair investimentos para essa criação. A ideia é que o Ceará se transforme em um polo mundial de produção de hidrogênio verde, sendo uma alternativa limpa aos combustíveis fósseis.
A descarbonização marítima apresenta uma ampla gama de oportunidades relacionadas ao fornecimento desses combustíveis no mercado interno, podendo inclusive ser exportados para outros locais com menor potencial renovável. Nesse sentido, é importante adotar uma estratégia de descarbonização de combustíveis marítimos e sua infraestrutura de abastecimento, investindo pesado em pesquisa e desenvolvimento para termos melhores combustíveis e barcos mais eficientes, sem falar em políticas e incentivos para acelerar a adoção dessas soluções, treinando a nossa força de trabalho para acompanhar toda essa evolução.
O custo inicial é, sem dúvida, um grande desafio. Adotar novas tecnologias não é um investimento barato. Além disso, precisamos de uma infraestrutura robusta para esses novos combustíveis. E, não vamos esquecer, a aceitação da indústria e uma regulamentação consistente são essenciais.
Vejo o Brasil como líder em transporte marítimo sustentável, podendo atrair investimentos, expandir o mercado de biocombustíveis e hidrogênio e melhorar a qualidade do ar nas cidades portuárias. É uma situação em que todos ganham!
Gustavo Paschoa é CEO da Norcoast
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