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Visibilidade de ponta a ponta: como ela pode mudar o Supply Chain local?

Melhor aceitar o que não se pode controlar e concentrar-se no que é possível. Esse conhecido provérbio, originado de um princípio do estoicismo, é cada vez mais seguido pelas indústrias ante as perturbações e incertezas nas cadeias de suprimentos. Afinal, pouco podemos fazer para conter os impactos de uma pandemia, impedir conflitos geopolíticos, acelerar a produção de componentes ou solucionar os impasses trabalhistas que vêm tumultuando o supply chain global nos últimos anos.

O que as empresas podem fazer é garantir que entendem exatamente suas posições, de modo a estarem aptas a tomar as decisões mais inteligentes a qualquer momento, não importa o desafio. Ante o cenário de instabilidade e pressão enorme sobre as operações de abastecimento, indústrias, transportadoras e demais prestadores de serviços logísticos começam a perceber que a visibilidade faz enorme diferença.


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Convém contextualizar o tamanho do problema. De acordo com a pesquisa Supply Chain Resilience Report 2021, do Business Continuity Institute (BCI), 84% das empresas com atuação global sofreram, no ano passado, atrasos com o transporte terrestre interpaíses; 70% afirmaram ter enfrentado percalços no transporte terrestre doméstico, 65% nas movimentações marítimas e 63% nos trajetos aéreos.

Mesmo com a acomodação do caos logístico decorrente da pandemia, o panorama da cadeia de suprimentos global segue extremamente desafiador devido ao conflito no Leste Europeu, às tensões comerciais entre Estados Unidos e China, aos gargalos de infraestrutura em todos os modais de transporte e à escassez de mão de obra em geral. Frente ao sufoco, a virtude esperada de quem atua no supply chain é resiliência. E as organizações mais resilientes e mais bem preparadas para enfrentar instabilidades são aquelas que investem em dados, proporcionando mais visibilidade aos seus processos de compras e entregas. Na prática, isso garante mais previsibilidade e acesso ampliado a insights para a tomada de decisões estratégicas.

Segundo um relatório da McKinsey, os negócios precursores na adoção de uma gestão da cadeia de suprimentos habilitada por Inteligência Artificial (IA), por exemplo, obtiveram ganhos médios de 15% nos custos de logística, de 35% nos níveis de estoque e de 65% nos níveis de serviço, em comparação com concorrentes que se mantiveram fiéis a modelos tradicionais. Também começam a ficar mais nítidas as vantagens que o blockchain e a ciência de dados podem trazer ao planejamento e ao monitoramento de cargas quando comparados aos sistemas dependentes de documentações.

Não é à toa que o uso de plataformas de visibilidade de ponta a ponta em tempo real cresce velozmente em todo o mundo. Elas garantem um nível de controle das operações sem precedentes, permitindo acompanhar desde embarques de matérias-primas até entregas de encomendas para consumidores finais, antecipando eventuais atrasos de todo serviço. Dados de trajetos e situações de grandes centrais logísticas estão “always on”, podendo ser conferidas por interfaces próprias ou por meio de APIs, e com alto nível de precisão – no caso de contêineres, ele pode chegar a impressionantes 20 metros, sem falar na cobertura de 700 portos em variadas regiões do globo.

Ao facilitar a identificação de contratempos, as novas soluções digitais de visibilidade ponta a ponta propiciam um melhor gerenciamento de exceções, apoiam e agilizam a tomada de decisões estratégicas, facilitam a colaboração entre equipes e promovem o aprimoramento de modelos. Trata-se, portanto, de uma oportunidade que não pode passar em brancas nuvens para as indústrias no cenário de pressão enorme sobre a logística.

Os ganhos em inteligência e eficiência fornecidos pela visibilidade de ponta a ponta reduzem custos, ampliam receitas e geram maior satisfação dos clientes, traduzindo-se em diferenciais competitivos valiosos em tempos de concorrência acirrada, altas inflacionárias e clientes mais comedidos tanto no B2B quanto no B2C. Resgatando o início do texto, a tecnologia representa um ponto de controle para as indústrias direcionarem as atenções. Quanto aos desafios conjunturais, não resta saída senão torcer.

Pierre Jacquin, executivo com mais de vinte anos de experiência nas indústrias de tecnologia, inteligência de mercado e Supply Chain, é vice-presidente da startup project44 na América Latina






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