São Paulo - Ao anunciar investimentos de US$ 5 bilhões no Brasil, nos próximos quatro anos, o presidente do grupo ArcelorMittal, Lakshmi Mittal, admitiu que parte desses recursos deverá ser aplicado no Espírito Santo, principalmente na unidade de Tubarão onde há projeto para implantar uma unidade de laminação a frio e outra de galvanização.
Ou seja, dar valor agregado ao aço capixaba, a ponto de ele sair prontinho para produção de geladeira, fogões ou automóveis. Para conseguir produzir essas chapas, a produção de aço bruta da empresa também pode ser elevada, com a construção de um quarto alto-forno, também em Tubarão.
Há ainda projetos de ampliação da produção para a unidade de Cariacica, onde são produzidos vários tipos de aços longos, destinados à construção civil. Ele fez as declarações em entrevista coletiva concedida após a palestra de abertura no Congresso Brasileiro do Aço, que acontece em São Paulo, até amanhã, no Hotel Transamérica.
Mittal disse que ainda não foi feito o detalhamento dos investimentos no país, o que acontecerá ao longo deste ano, mas garantiu que o grupo mantém o interesse no Brasil, por considerar que o crescimento da indústria do aço nos países em desenvolvimento é animador. O executivo afirmou que os brasileiros devem investir na ampliação das vendas de aço para o mercado interno, que é extremamente promissor.
Nesse sentido, ele assegurou que os projetos do grupo envolvem investimentos não só nas unidades do Espírito Santo, como também nas de Minas Gerais, São Paulo e de outros países da América do Sul. Além disso, o grupo quer ampliar os negócios na área de minério de ferro para conseguir, nos próximos anos, se tornar autossuficiente em 75% no fornecimento de minério de ferro para suas unidades de produção de aço no mundo todo.
Em relação aos projetos já aventados de implantação de um laminador de tiras a frio e de um galvanizador em Tubarão, Mittal, assim como o presidente da Arcelor Mittal Brasil, Benjamin Baptista, que acompanhou a entrevista coletiva do executivo após a palestra, afirmou que os projetos estão sendo avaliados. “Nossos planos são de aumentar, nos próximos anos, a produção de produtos acabados“, afirmou Mittal, com tom enfático.
Na entrevista coletiva, o executivo ressaltou que, em Tubarão, a empresa já tem uma produção muito boa de produtos semi-acabados, mas os planos do grupo são de aumentar os produtos destinados às indústrias de eletrodomésticos e automotiva.
Alto-forno
Questionado se há projeto também para a construção de um quarto alto-forno em Tubarão, Benjamin Baptista afirmou que essa possibilidade é mais remota porque a questão ambiental é o fator restritivo e há, ainda, a questão do próprio espaço. “Mas, nada está descartado. Tudo está sendo estudado, inclusive a construção de um outro alto-forno”, afirmou ele.
A possibilidade já foi aventada em anos anteriores, antes de a companhia ser vendida para a europeia Arcelor e, depois, para o grupo anglo-indiano Mittal. Os problemas ambientais não chegaram a ser colocados como totalmente impeditivos.
Antes de optar pela construção de um terceiro alto-forno, a empresa fez a opção pela ampliação e otimização do que já existia. Assim, conseguiu elevar a produção de placas de aço de 5 milhões de toneladas para 7,5 milhões de toneladas por ano.
Também elevou a produção de bobinas a quente de 2,5 milhões de toneladas para 4 milhões de toneladas por ano. (A repórter viajou a convite da ArcelorMittal)
Investimento vai atrair mais empresas
As promessas de investimentos feitas ontem pelo dono da ArcelorMittal, Lakshmi Mittal, animaram empresários e o governo capixaba. É consenso de que a chegada de um laminador de tiras a frio (LTF) - produz folhas e tiras de aço - será importante na atração de investidores que hoje não têm um centavo investido no Estado, caso das indústrias automotiva e de eletrodomésticos, que tem na tira fina de aço um importante insumo.
“É um anúncio de peso. O dono do grupo avisou que vai canalizar boa parte dos investimentos para Brasil e Índia. Por aqui, Tubarão é a preferência. Um laminador a frio agregaria valor à produção industrial capixaba, o que já seria ótimo. Além disso, esse tipo de unidade, por produzir tiras finas de aço, atrai fábricas de automóveis e eletrodomésticos. Foi o que aconteceu com Vega, em Santa Catarina, depois que a Arcelor instalou o laminador a frio na unidade de lá”, explicou o secretário de Desenvolvimento do Estado, Márcio Félix.
É bom lembrar que a fábrica de motores elétricos da Weg, importante fornecedora das indústrias de eletrodomésticos, em Linhares, está sendo construída e, até o final do ano que vem, deve estar em operação. Caso o laminador a frio se confirme, o Estado terá fortes argumentos para a atração dessa parte da indústria.
O presidente do Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico (Cdmec), Fausto Frizzera, diz que para os fornecedores de serviços a notícia é ótima. “Quanto maior o parque fabril, mais serviço aparece para os empresários que prestam serviços para essas grandes plantas. É um ciclo virtuoso. Vale frisar que o laminador de tiras a quente, que agrega um valor menor ao produto, foi importante para que o impacto da crise fosse menor em Tubarão”, salientou Frizzera.
Em relação às conversas mantidas entre ArcelorMittal e Vale sobre a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), Márcio Félix se mostrou satisfeito. “A Arcelor é daqui, já conhece o Estado. Vejo com bons olhos esse contato, já são vizinhos em Tubarão e caso fechem essa parceria em Ubu o Estado só tem a ganhar”. (Abdo Filho)
Arcelor e Vale em conversa sobre CSU
Lakshmi Mittal não descarta a possibilidade de o grupo investir em novos projetos siderúrgicos no Brasil ou em novos projetos de minério de ferro. Ele afirmou que a direção da ArcelorMittal continua avaliando o projeto da Companhia Siderúrgica Ubu (CSU), que a Vale pretende construir, caso consiga o licenciamento ambiental, em Anchieta, no Sul do Estado.
Ele afirmou, porém, que se o investimento na CSU for confirmado, os recursos não virão do montante aprovado para serem investidos no Brasil nos próximos quatro anos, e que foram anunciados ontem. Mittal reconheceu que o grupo tem muito interesse no projeto da siderúrgica de Ubu, que já manteve contato com a direção da Vale, mas ainda não tem uma posição definida.
Mais importante que investir em novos projetos siderúrgicos, a ArcelorMittal quer investir em novas minas de ferro e de carvão mineral, afirmou Mittal. Hoje, os projetos que o grupo têm de carvão já garantem 30% do fornecimento do produto, que é matéria prima para a produção de aço. A Arcelor quer, ainda, chegar a fornecer 75% do minério de ferro que usa em suas siderúrgicas. (Denise Zandonadi)
Entenda a siderurgia
Alto-forno: onde é fundido o minério de ferro, a fim de transformá-lo em ferro-gusa. O gusa é vertido diretamente a partir do cadinho do alto forno para contentores para formar lingotes, ou usado diretamente no estado líquido em aciarias. Os lingotes são então usados para produzir ferro fundido e aço, ao extrair-se o carbono em excesso.
Laminador de Tiras a Quente (LTQ): é a etapa inicial do processo de laminação no qual o material é aquecido a uma temperatura elevada, mais de 1000°C, para que seja realizado o chamado desbaste dos lingotes ou placas fundidas. É onde as placas grossas de aço viram bobinas.
Laminador de Tiras a Frio (LTF): é a etapa final do processo de laminação que tem por objetivo o acabamento do metal, no qual o mesmo, inicialmente recebido da laminação a quente como chapa grossa, tem sua espessura reduzida para valores bem menores, normalmente à temperatura ambiente. Esses semimanufaturados têm aplicações em setores como transportes (rodas, carrocerias para ônibus, equipamentos rodoviários), construção civil (telhas, fachadas, calhas), embalagens (latas, descartáveis e flexíveis) e bens de consumo (panelas, utensílios domésticos).
Galvanização: é o processo no qual o zinco é ligado metalurgicamente ao aço, proporcionando um revestimento anticorrosão. O aço galvanizado é utilizado onde a corrosão é uma ameaça.
“Brasil ficou muito caro para investir”
“Com o custo atual para investir no Brasil, é impossível imaginar que todos os projetos siderúrgicos anunciados ultimamente possam ser implementados, pelo simples fato de que o Brasil ficou muito caro para investir”, afirmou ontem o presidente da ArcelorMittal Tubarão e da ArcelorMittal Brasil, Benjamin Mario Baptista Filho, durante painel no Congresso Brasileiro do Aço, realizado em São Paulo.
Gabrielli confirma complexo em Linhares
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli confirmou ontem que o plano da empresa prevê a implantação de um complexo siderúrgico para a produção de diversos produtos derivados do gás natural, inclusive metanol. Na planta, a ser construída em Linhares, a companhia pretende produzir amônia e uréia, para o setor agrícola, e metanol.
Fonte: (Fonte: A Gazeta/Vitória,ES)/Denise Zandonadi
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