Com os aumentos no exterior e a manutenção de preços do aço nacional, as siderúrgicas brasileiras começam a reverter a invasão de produtos siderúrgicos importados, que marcou esse mercado em 2010.
Segundo informam interlocutores da indústria e do setor de distribuição, trazer aço de fora passou a não ser mais tão vantajoso, dado o ganho de competitividade das usinas locais. Em uma situação que se tornou atípica nos últimos anos, o aço brasileiro já está mais barato - em torno de 5% - do que a média de preço cobrada por grandes produtores no exterior para colocar o produto no Brasil, conforme relatam distribuidores independentes.
A situação tem refletido em uma diminuição no ritmo de importações por importantes consumidores de aços planos. Uma das grandes montadoras instaladas no país diz que já começou a fazer isso e têm conseguido, inclusive, uma redução de custos nas negociações com os fornecedores nacionais.
De acordo com informações passadas pela área de compras da fabricante de carros, ainda é possível encontrar aço a preços mais baixos fora do Brasil, mas, mesmo nesse caso, as vantagens logísticas - como menor prazo de entrega - voltaram a determinar a escolha pelo produto nacional.
Algumas variáveis indicam que as siderúrgicas nacionais, em algum momento deste semestre, farão um ajuste para cima em suas tabelas. Fatores como os aumentos do aço no exterior e a tendência de estabilidade na taxa de câmbio - que pesam na competitividade dos produtos importados - abrem maior espaço para manobras de preços no mercado doméstico.
Também existem pressões de custos decorrentes dos aumentos de preços do minério de ferro e do carvão. Fora isso, a expectativa é que o mercado continue aquecido, na esteira do crescimento em setores que demandam aço, como as indústrias automobilística - que projeta novo recorde de produção neste ano - e de eletrodomésticos, além da construção civil.
Para o analista da corretora Link Investimentos, Leonardo Alves, o preço do aço plano - como bobinas laminadas a quente e a frio - pode subir 10% no mercado doméstico já no primeiro semestre deste ano. "Existe uma demanda razoável e também pressões de custo", cita o especialista ao justificar a estimativa.
Os produtores brasileiros de aço, contudo, ainda não deram a seus clientes sinais de que vão subir os preços. Antes desse movimento, ainda há uma situação de estoques elevados em parte da cadeia a ser resolvida. Na rede de distribuição, 2010 fechou com volume equivalente a mais de 4 meses de vendas, refletindo importações excessivas realizadas no ano.
Assim, o foco do setor no primeiro trimestre é diminuir as compras para reduzir os volumes estocados ao patamar de giro considerado ideal, de dois meses e meio. "O nível está muito alto. Já existe um processo para reduzir os estoques", diz Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda).
Para frear a maciça entrada dos importados, as usinas nacionais de aços planos cortaram preços entre setembro e outubro do ano passado e não alteraram suas tabelas desde então. Mesmo assim, 4,067 milhões de toneladas desse produto entraram no país em 2010, mais do que o dobro em relação às 1,493 milhão de toneladas trazidas em 2009. Ao todo, o país importou 5,9 milhões de toneladas, com desembolso de divisas de US$ 5,483 bilhões, mais que o dobro dos US$ 2,815 bilhões do ano anterior.
A boa notícia para a indústria brasileira é que, após atingir seu pico em outubro, as importações se arrefeceram e tiveram dois meses seguidos de baixa (veja gráfico).
As usinas brasileiras perderam uma expressiva parcela de mercado com a invasão estrangeira, e tentam agora reconquistar posições praticando preços mais competitivos, prática que vem desde agosto. Christiano Freire, presidente da distribuidora Frefer, informa que o preço da bobina de aço laminada a quente - um dos produtos mais básicos da cadeia siderúrgica - está cerca de 5% mais barata do que o produto de usinas de primeira linha do exterior.
"É até uma coisa rara. As siderúrgicas daqui perderam 'market share' e agora querem retomar", diz Freire, que aposta que as siderúrgicas brasileiras só vão subir os preços após recuperarem vendas. "Ainda há um caminho pela frente, mas a tendência é essa (de reajustes)", comenta.
Procuradas, Usiminas e CSN, dois dos maiores produtores de aços planos do país, preferiram não fazer comentários. A ArcelorMittal, por meio do presidente da subsidiária no país, Benjamin Baptista Filho, disse ao Valor na semana passada que não vê perspectiva de aumentos neste trimestre.
Paulo Moraes, gerente comercial da Aços Groth, uma distribuidora de Guarulhos, diz que os preços do aço plano estão abaixo dos valores praticados em setembro de 2009, quando o setor ainda se recuperava dos impactos da crise financeira. "Fechamos nossa última importação em junho. Não vamos fazer isso com os preços muito parecidos (entre o aço nacional e importado)", conta.
Fonte: Valor Econômico/Eduardo laguna | De São Paulo
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