A Aeris Energy deve executar a maior parte dos investimentos restantes em expansão de capacidade produtiva ao longo do primeiro semestre de 2021, afirmou nesta quarta-feira Bruno Lolli, diretor de planejamento e de RI da companhia.
No ano passado, a fabricante de pás eólicas investiu R$ 296,2 milhões de um total de R$ 473 milhões requeridos para aumento de capacidade até o fim de 2021, com o objetivo de atender contratos já firmados com clientes nos próximos anos.
Em teleconferência de resultados, o executivo disse ainda que a expansão fabril ocupa apenas uma parte do terreno onde a planta está instalada, de forma que a companhia pode fazer novas ampliações caso seja necessário.
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Lolli comentou ainda que, para 2021, a Aeris espera melhorar a proporção de linhas de produção maduras e não maduras – nas quais a capacidade produtiva plena ainda não foi atingida – em seu portfólio. No quarto trimestre de 2020, as margens da fabricante foram impactadas pela descontinuidade, já prevista, de cinco linhas maduras.
“Estamos em amadurecimento. Em meados de 2021 esperamos iniciar a produção para um novo cliente, o que deve afetar negativamente as margens. Mas o ponto é a dinâmica de margem. Sempre que temos crescimento, as margens são pressionadas para baixo. Esse efeito dura de três a quatro trimestres", disse.
Balanço
A fabricante de pás eólicas registrou um lucro líquido de R$ 15,63 milhões no quarto trimestre do ano passado, queda de 61,2% em relação a igual período de 2019. Com isso, a companhia fechou 2020 com resultado líquido positivo em R$ 113,2 milhões, 27,6% superior ao observado um ano antes.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ficou em R$ 52,148 milhões entre outubro e dezembro, um recuo de 13% na base anual. Considerando o incentivo fiscal Sudene, o indicador atingiu R$ 45,4 milhões, 33,8% inferior no comparativo anual. No acumulado de 2020, o Ebitda somou R$ 229,14 milhões (+54,6%), enquanto o indicador incluindo incentivo fiscal totalizou R$ 243,20 milhões (+45,4%).
A receita líquida operacional da Aeris atingiu R$ 749,924 milhões no quarto trimestre, crescendo 166% ante igual período de 2019. Em todo o ano de 2020, a receita somou R$ 2,208 bilhões, alta anual de 164,8%, puxada pelas vendas de pás para o mercado interno.
O retorno sobre o capital investido (ROIC) ficou em 20,7% no último trimestre de 2020, uma redução de 8,1 pontos percentuais no comparativo anual. Segundo a empresa, a queda do indicador reflete o aumento de 133% no capital investido médio como preparação para a ampliação de capacidade produtiva, que atenderá a contratos de fornecimento de pás já assinados com clientes para os próximos anos.
Fundada em 2010, a Aeris estreou no Novo Mercado da B3 em novembro do ano passado, com uma oferta inicial de ações que levantou R$ 1,13 bilhão. Controlada pela família Negrão (61,7%), do ex-dono da farmacêutica Medley, a fabricante de pás eólicas tem como clientes grandes multinacionais, a exemplo de Vesta, GE, Nordex-Acciona e WEG. Suas fábricas estão instaladas em Pecém, no Ceará, um dos principais Estados para a geração eólica no país.
Perspectivas
A Aeris Energy entende que o mix entre mercado interno e externo nas encomendas não deve sofrer alteração em 2021, disse Lolli.
“Praticamente 70% dos volumes [de 2020] foram direcionados ao mercado nacional, a expectativa é que isso continue. O contrato com a Siemens não deve afetar isso, porque prevê demanda tanto para o mercado local, quanto para exportação”, afirmou.
No mês passado, a fabricante de pás eólicas informou sobre um potencial contrato com a Siemens Gamesa para fornecimento de capacidade equivalente a 3,3 gigawatts (GW) de potência e, em princípio, com prazo de vigência até 2024 e valor total estimado de R$ 2,5 bilhões. “Mantemos os esforços para concluir a assinatura desse contrato”.
Lolli comentou ainda que a Aeris está trabalhando com uma política conservadora para os estoque, de forma a mitigar eventuais riscos de “lockdown” em países afetados pela segunda onda da covid-19. “Esperamos que esses riscos sejam reduzidos ao longo de 2021. Com a entrada do novo cliente, deve subir os níveis de estoque, mas não em valores superiores aos atuais, o que nos permite manter o capital de giro estável no decorrer do ano”.
Também presente na teleconferência, o presidente da Aeris, Alexandre Negrão, afirmou que a fabricante continua “muito otimista” com o cenário para o mercado eólico no Brasil, independentemente da retirada de subsídios, como prevê a MP 998/2020, que foi aprovada pelo Congresso e aguarda sanção presencial. “As fontes renováveis são as mais baratas, a eólica está muito bem posicionada, com uma cadeia de suprimento muito sólida para captar esse ganho. Continuamos com a perspectiva de instalação na casa dos 3 a 4 GW por ano para os próximos 10 anos no Brasil”.
Negrão também avaliou que a eleição de Joe Biden nos Estados Unidos traz uma perspectiva favorável para as fontes renováveis a nível global no longo prazo, mas sem impactos na demanda no curto prazo. “Quando vem uma nova política renovável, ela demora para repercutir diretamente na Aeris”.
Fonte: Valor