O diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, disse acreditar no protagonismo brasileiro no movimento de transição energética para uma economia de baixo carbono. Ele destacou ainda que o caminho rumo a fontes mais limpas é irreversível e afetará todos os países e empresas, inclusive aquelas que não se reposicionarem.
“O Brasil está muito bem posicionado em termos de participar dessa transição para energias limpas e considerando a pegada de carbono. Espero que o país mostre a sua liderança nessa transição para o futuro para as energias limpas na América Latina e também no mundo”, afirmou, durante participação em evento on-line da FGV Energia.
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Birol destacou que, além do potencial na geração de energia solar e eólica e na produção de biocombustíveis, o Brasil tem uma “história de sucesso” na geração hidrelétrica que não pode ser ignorada.
Ele antecipou que a AIE deve publicar, até o fim deste mês, um relatório sobre a “importância crítica das hidrelétricas” no contexto da transição energética. “Acho um absurdo que hidrelétricas estejam esquecidas nos debates de hoje”, disse. Durante o evento, o assunto da crise hídrica do país não foi abordado.
Birol também comentou sobre a importância da participação das estatais, e não só das grandes petroleiras privadas, no processo da transição. “Espero que as empresas que estão ignorando [a transição] não fiquem surpresas quando os investimentos estratégicos a longo prazo ficarem prejudicados. Essas empresas nacionais, em todos os países, serão afetadas pela transição”, afirmou.
Hoje, no mundo, as petroleiras europeias (como a BP, Shell, Equinor e Total) assumiram compromissos mais ousados que preveem investimentos crescentes em energias renováveis. Outras companhias, como as americanas ExxonMobil, Chevron e a Petrobras, têm optado por um caminho menos radical, baseado em iniciativas de descarbonização dentro de suas próprias operações em óleo e gás.
O diretor-executivo da AIE destacou, ainda, que a transição energética é um passo irreversível e que nenhum país deixará de ser afetado por ela.
“Olho para os países ao redor do mundo e existe uma corrida para chegar a essas metas climáticas, mas essa corrida não é entre os países, é uma corrida contra o tempo. É uma corrida que alguns países ricos estão começando na frente dos países em desenvolvimento, mas a natureza da corrida funciona de forma que precisamos de que todos países cheguem ao final de corrida. Se não, ninguém ganha”, disse.
Birol ressalva, contudo, que, apesar do aumento do engajamento de governos e empresas em promessas rumo à transição energética, as emissões globais continuam a crescer. “Cada vez mais governos fazem mais promessas e, na prática, o oposto acontece”, afirmou.
Presente no mesmo evento on-line, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, defendeu que a transição energética é um processo “complexo e que varia de ritmo e estágio de acordo com diferentes realidades nacionais e regionais”.
“Também não há uma escolha tecnológica única, nem uma receita universal [para a transição]. O sucesso dependerá de todas a tecnologias e fontes viáveis”, disse.
Ele alega que o Brasil está “bem posicionado”, devido ao fato de a matriz energética nacional já possuir uma presença renovável acima da média global.
Bento disse ainda que o setor privado, no Brasil, “está sensível” às mudanças e reforçou, dentro dos esforços do governo, a intenção de publicar em 60 dias as diretrizes de um programa nacional para o hidrogênio verde.
“Em pouco tempo o Brasil será um dos grandes players internacionais em hidrogênio”, disse.
Sem mencionar a crise hídrica atual do sistema elétrico brasileiro ou expectativas quanto à privatização da Eletrobras, Albuquerque afirmou que o governo segue empenhado em criar um ambiente de negócios favorável a investimentos.
“Nos últimos dois anos, 26% do capital estrangeiro que entrou no Brasil, cerca de US$ 40 bilhões foram para o setor de energia e mineração, particularmente o setor de energia. E nós entendemos que, com a retomada da economia, não só do Brasil, como mundial, esse ambiente de negócios vai continuar favorável”, comentou.
Fonte: Valor