Além de também a Alemanha agora ameaçar o acordo UE-Mercosul, a central de agricultores europeus Copa-Cogeca prefere abrir mão de ajuda de até € 1 bilhão (R$ 4,6 bilhões) em troca da reabertura do tratado com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Enquanto a Amazônia continua queimando, as pressões não cessam na área comercial sobre o Brasil em meio à percepção externa de que o presidente Jair Bolsonaro tem pouco interesse em proteger a floresta e os povos indígenas.
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Na Alemanha, o governo fez uma correção na postura adotada até agora. Primeiro, a chanceler Angela Merkel se distanciou do presidente francês, Emmanuel Macron, sobre não ratificar o acordo UE-Mercosul como está hoje. Para Merkel, o acordo pode ajudar na pressão justamente para o Brasil respeitar os compromissos ambientais e de combate à mudança climática.
Isso inclui reflorestar 12 milhões de hectares e fazer uma redução de 45% das emissões de carbono até 2030 comparado a 2005.
A Alemanha é um país de forte identidade com a proteção ambiental. E a ministra da Agricultura, Julia Klöeckner, corrigiu a posição alemã, insistindo que o "o Brasil se comprometeu com o manejo florestal sustentável com a conclusão do acordo do Mercosul". Avisou que, se o governo Bolsonaro não cumprir o acertado, a Alemanha não ficará de braços cruzados, pois, conforme a ministra, é a credibilidade alemã que está em jogo.
Os ministros de Agricultura normalmente são defensivos e não querem muita importação em seus mercados. Mas na Alemanha um ministro para se manifestar assim tem certamente o aval de Merkel.
Até Luxemburgo, paraíso fiscal de 590 mil habitantes, ameaça não assinar o acordo com o Cone Sul se persistirem os problemas ambientais no Brasil.
A Finlândia mantém pedido à UE para investigar a possibilidade de barrar a entrada da carne bovina brasileira. Organizações não governamentais (ONGs) francesas pedem para Macron solicitar à UE sanções contra carne bovina e soja brasileiras.
No fim de junho, quando a UE e o Mercosul anunciaram a conclusão do acordo, o comissário de Agricultura europeu, Phil Hogan, acenou com ajuda financeira de até € 1 bilhão para os agricultores europeus fazerem ajustes em caso "de perturbação do mercado" com a concorrência do Mercosul.
No entanto, a poderosa central agrícola Copa-Cogeca está na mesma linha de Macron, considerando que as garantias do acordo "não são suficientes" contra produção feita com desmatamento, por exemplo.
"Esperamos propostas da Comissão Europeia [por mais garantias], mais do que uma ajuda suplementar como anunciada", afirmou um porta-voz da central agrícola ao Valor.
"No estado atual das coisas, não sabemos como a Comissão Europeia evitará os duplos padrões de produção entre agricultura dos dois lados do Atlântico ou como ela poderá assegurar os controles efetivos num país com uma agricultura tão diversa como o Brasil."
"Nós nos batemos sobre isso antes dos incêndios na Amazônia, mas a questão que se coloca hoje é, uma vez as chamas apagadas, com a pressão midiática diminuída, o que vai acontecer a esse acordo [com o Mercosul]?", indaga a central agrícola.
Fonte: Valor