Os embarques brasileiros de suco de laranja confirmaram as expectativas e registraram aumento significativo nos nove primeiros meses desta safra 2019/20. Segundo dados compilados pela Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), o volume alcançou 861,7 mil toneladas equivalentes ao produto concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês) de julho do ano passado ao último mês de março, 18% mais que no mesmo período da temporada anterior, e a receita cresceu 6% na comparação, para US$ 1,4 bilhão.
A entidade ainda está avaliando o peso da pandemia para o aumento das vendas para alguns mercados, até porque a base de comparação é baixa, mas analistas afirmam que a demanda está em alta porque os consumidores acreditam que a vitamina C pode ser eficiente contra o novo coronavírus, embora não existam evidências científica que corroborem essa tese. “Por mais que acreditemos na qualidade nutricional de nosso produto e fiquemos felizes por ele estar sendo lembrado por consumidores de todo mundo num momento tão delicado, é preciso ter cautela na leitura dos números”, afirma Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, em comunicado.
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Embora cauteloso, Netto confirma que houve uma corrida dos consumidores de alguns mercados, como o europeu, a partir da segunda semana de março em que, “aparentemente”, houve maior procura pelo suco, inclusive para estocagem nas residências. Dessa forma, as vendas do Brasil para a União Europeia, principal destino do suco do país no exterior, registraram incrementos de 26% em volume, para 597,2 mil toneladas equivalente ao FCOJ - o total inclui suco pronto para beber (NFC, na sigla em inglês), que tem volume seis vezes maior, convertido para a mesma base - e de 14% em receita, para US$ 1 bilhão, nos nove primeiros meses do ciclo 2019/20.
Já para os Estados Unidos, segundo maior mercado para o suco brasileiro no exterior, os embarques caíram de julho de 2019 a março de 2020. O volume atingiu 138,8 mil toneladas, uma queda de 16% ante igual intervalo da safra 2018/19, e a receita foi de US$ 224,7 milhões, retração de 11%. “A redução nos embarques ainda é reflexo da alta nos estoques de suco reportados nos EUA, que estão nos maiores níveis dos últimos cinco anos”, diz Netto.
Mas esses estoques tendem a cair, porque os consumidores americanos estão entre os que encaram o suco como uma barreira ao coronavírus. A CitrusBr destaca que, conforme a consultoria Nielsen, as vendas da bebida no varejo americano somaram 131 milhões de litros no período de quatro semanas encerrado em 14 de março, quase 10% mais que no intervalo imediatamente anterior. A receita dessas vendas aumentou 9%, para US$ 245,9 milhões. Foi uma aceleração que não era observada há 12 anos naquele país.
Espelho sobretudo da realidade americana, a bolsa de Nova York refletiu essa onda, que já está esvaziando. Com mais um recuo na sexta-feira, os contratos futuros de segunda posição de entrega do FCOJ ainda acumulam valorização de 7,7% neste ano graças a ganhos observados em março. E a tendência de queda poderá se aprofundar, tendo em vista os movimentos dos fundos que atuam nesse mercado. Conforme dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), os gestores de recursos reduziram as apostas na alta da commodity na semana até o dia 14.
A CitrusBR destaca, finalmente, que as exportações brasileiras avançaram para Japão e China nos primeiros nove meses da safra. Para o mercado japonês, foram 48,9 mil toneladas (alta de 38%), ou US$ 87,1 milhões (28%), enquanto para o chinês foram 36 mil toneladas (alta de 46%), ou US$ 50,6 milhões (1%).
Fonte: Valor