Com o anúncio de hoje da finlandesa UPM, de que vai tirar do papel o plano de erguer uma nova fábrica de celulose de eucalipto no Uruguai, a fila de projetos da indústria finalmente começou a andar. Entre 2019 e 2021, não haverá entrada em operação de grandes capacidades no mercado, o que abriu margem relevante para novos investimentos no setor.
Essa janela já era conhecida da indústria e havia expectativa de que Suzano ou Eldorado Brasil encabeçassem a lista de expansões. Mas, por motivos diferentes, as companhias brasileiras não colocaram em marcha seus projetos e a finlandesa acabou marcando sua cadeira para 2022, o que pode dificultar ou postergar os planos de seus concorrentes.
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A própria UPM reconhece, em comunicado, que a execução do projeto funciona como uma barreira de entrada, que limitará novos investimentos com início de operação no mesmo período. Agora, mais do que anteriormente, a possibilidade de novos projetos vai depender do ritmo de retomada da demanda global.
Neste momento, Europa e China dão sinais de fraqueza e os estoques de celulose no sistema alcançaram níveis nunca antes vistos, especialmente no caso da fibra curta. Entre os mais otimistas, uma recuperação pode começar no fim de 2019. Para os mais conservadores, só deve haver retomada de fato no começo do ano que vem, após o Ano Novo Lunar na China. Seja quando for, serão ao menos dois anos cheios de oferta limitada de celulose.
Em tempos normais, a demanda mundial cresce em torno de 1,5 milhão de toneladas por ano — num bom ano esbarrou em 2 milhões de toneladas, justamente o tamanho da nova fábrica da UPM. Assim, se o momento for bom, a capacidade da unidade em Paso de los Toros tende a ser absorvida sem grandes traumas nos preços, e rapidamente.
Contudo, caso o mercado global repita o desempenho que vem se materializando em 2019, de expansão do consumo inferior a 1,5 milhão de toneladas, haverá risco de um projeto concorrente ao da UPM pressionar excessivamente os preços da celulose. Há alguns anos, a indisciplina dos produtores na execução de novos projetos levou à forte queda dos preços da matéria-prima.
No caso da Eldorado, o litígio entre as sócias J&F e Paper Excellence (PE), que está em arbitragem, inviabiliza a construção de uma nova linha até que se conheça seu desfecho.
Na Suzano, a alavancagem tomada para compra da Fibria demanda foco quase que restrito ao balanço financeiro, especialmente com a queda brusca dos preços da fibra curta e a valorização do real. Portanto, é provável que a companhia siga trabalhando para reduzir o endividamento antes de pensar em crescimento.
Há, porém, novos investidores e outros produtores mapeando oportunidades no setor, que agora também terão de levar em conta os 2 milhões de toneladas adicionais da UPM em seus planos.
Fonte: Valor