Apex recorre às tradings para alavancar exportações
De São Paulo - Quando se fala em tradings, a primeira imagem que vem à cabeça é a de empresas grandes, com capital acima de R$ 100 milhões, responsáveis por negócios vultosos de comércio exterior que, algumas vezes, estão envolvidos em operações não muito transparentes.
No entanto, um movimento da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), iniciado ano passado, está tentando não apenas resgatar a imagem dessas empresas mas, especialmente, aproveitar o background do setor em favor da alavancagem das receitas de exportação das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs).
"Muitas das dificuldades que as empresas de pequeno porte têm para exportar podem ser superadas com o know-how das tradings", acredita Alessandro Teixeira, presidente da Apex e um entusiasta do projeto. Em sua opinião, a inclusão delas na cadeia das vendas internacionais das MPMEs nada mais é do que a terceirização da área de comércio exterior. "As comerciais exportadoras não são mais apenas intermediadoras, pois na prática oferecem uma gama de serviços que as caracteriza como facilitadoras ou consultoras de exportação", resume.
Quando as empresas de tradings foram criadas, em 1972, o objetivo era o de eliminar riscos e custos do imenso desafio que, à época, o país tinha para exportar. Teixeira conta que o mecanismo de incentivo consistia em igualar uma exportação a uma venda interna, colocando o gerenciamento dos custos e riscos envolvidos no comércio exterior a cargo de intermediários comerciais. "Segurança jurídica e risco mais baixo ainda são alguns dos elementos positivos que as tradings ainda podem trazer ao comércio externo das MPMEs do Brasil."
Segundo estudos do Projeto Tradings da Apex, 28% das exportadoras do Brasil são tradings, ou comerciais exportadoras, que responderam por US$ 21 bilhões em exportações em 2008. No total, são 5.670 empresas, das quais pouco menos de 10%, ou 538, têm o perfil adequado para os objetivos do projeto da Apex. "Buscamos as empresas que têm participação forte nos mercados que prospectamos", disse Teixeira. A intenção é ampliar em 10% as exportações das empresas de pequeno porte com o estímulo do Projeto Tradings.
A Três Marias Comercial Importadora e Exportadora, tradicional na área de café solúvel, é uma das participantes do projeto. Apesar de também trabalhar com empresas grandes, a Três Marias é uma empresa média, com faturamento limite de R$ 60 milhões. Seu papel nas vendas exteriores não é apenas de intermediação comercial, como conta Roberto Ticoulat, diretor da empresa. "Temos uma participação efetiva na corrente de comércio exterior junto às empresas, com atuação desde a compra de insumos, muitas vezes armazenagem, transporte e logística, prospecção de mercado e financiamentos para o negócio, aqui e lá fora", diz.
Ticoulat reconhece como positiva a ação do Projeto Tradings, na medida em que abre portas e aproxima do setor as empresas de menor porte. Além disso, vê as ações como uma forma de resgate da credibilidade, que por muitos anos ficou em baixa. "O momento econômico é outro e as comerciais exportadoras tendem a ganhar uma nova identidade", acredita Ticoulat.
A intenção é que, em breve, o setor ganhe uma representatividade nacional, o que irá facilitar a interlocução das comerciais exportadoras com organismos públicos e também com empresas que serão clientes. "A associação existente está desativada e uma nova representação é parte da nova identidade."
Pelo lado de regulamentação, o Projeto Tradings tem o apoio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), representado, por exemplo, pela promessa da Secretaria de Comércio Exterior de trabalhar algumas facilitações para habilitação junto ao Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) e também de criar mecanismos de notificação automática, para facilitar a exportação por meio de tradings, ou comerciais exportadoras.(Fonte: Valor Econômico/C.L.T.)