Maior grupo siderúrgico do mundo, a ArcelorMittal vai separar sua divisão de aço inoxidável do restante da corporação, em estratégia que pode disparar movimentos de consolidação em uma indústria europeia pressionada por excesso de capacidade.
Uma oferta de ações na Euronext, no início do próximo ano, pode dar a força necessária para uma fusão da operação com um grande nome do segmento, como o grupo espanhol Acerinox ou a finlandesa Outokumpu Oyj, segundo alguns analistas.
A ArcelorMittal informou inicialmente, em julho - durante divulgação do resultado financeiro do segundo trimestre -, sobre sua intenção de separar a unidade de aço inox, que respondeu por 7% das vendas do grupo em 2009, de suas principais operações depois de anos buscando uma fusão para reduzir custos.
Mas, ontem, o grupo revelou que vai entregar ações da unidade, que teve receita de US$ 4,2 bilhões em 2009, para investidores a uma razão de 1 para 20 no primeiro trimestre do próximo ano.
O analista Jeff Largey, do Nomura, afirmou que o valor de mercado da unidade é de aproximadamente US$ 2,8 bilhões, sem incluir dívida líquida de cerca de US$ 1 bilhão. Enquanto isso, o valor de mercado da Acerinox é de US$ 3,9 bilhões e o da Outokumpu atinge os US$ 3,3 bilhões.
A demanda global por aço inoxidável, usado desde aplicações em cozinhas a carros e instrumentos cirúrgicos, está sendo puxada pela Ásia, enquanto um consumo estagnado na Europa criou um excesso de capacidade na região. "Dado o excesso de capacidade na indústria, há uma necessidade de consolidação e racionalização. A entrada da ArcelorMittal Stainless como uma divisão individual, listada em bolsa, pode servir como catalizador para isso", disse Largey.
Investidores aguardam há anos que uma atividade de fusão entre os principais nomes do segmento, como a Acerinox, maior produtora de aço inoxidável do mundo, e Outokumpu, levaria ao fechamento de algumas usinas na Europa. Apesar de ser a maior do mundo, na Europa a Acerinox tem apenas 11% de participação de mercado, ante 23% da Outokumpu, disse outro analista.
A ThyssenKrupp, maior grupo siderúrgico da Alemanha, tem uma unidade de aço inoxidável que quer reestruturar e, apesar de não ser listada como empresa independente, pode eventualmente se envolver em consolidação. A ThyssenKrupp Stainless (TKS) é a maior empresa de aço inox da Europa, com participação de 31%. A ArcelorMittal tem 22%, afirmou o analista, que preferiu não ser identificado.
A unidade de aço inoxidável da ArcelorMittal emprega 11 mil pessoas no mundo, cerca de 4% de todo o grupo. Seus principais ativos estão localizados na Bélgica e no Brasil. A unidade brasileira é formada pela a antiga Acesita, hoje ArcelorMittal Inox, considerada a de maior nível de rentabilidade desse negócio no grupo.
A empresa, situada em Timóteo (MG), tem capacidade anual para produzir 900 mil toneladas de aço bruto, mas fabrica também aços elétricos, um segmento que vem crescendo. Em 2009, essa subsidiária produziu 607 mil toneladas de aço bruto. Em aço inox, a siderúrgica brasileira, única na América Latina, detém mais de 90% do mercado doméstico.
Com a separação, a família Mittal - maior acionista da ArcelorMittal - manterá participação de 40% na nova empresa, afirmou um porta-voz da companhia.
(Fonte: Valor Econômico/Reuters, de Bruxelas e Londres/Com Ivo Ribeiro, do Valor, em São Paulo)
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