Produto caiu cerca de 30% nas últimas seis semanas; queda também pode afetar resultado da balança comercial
Ontem, preço recuou para US$ 128,50 por tonelada no mercado à vista, o menor nível desde julho de 2010
Diante da menor produção de aço e da crescente oferta de minério de ferro na China, os preços da matéria-prima no mercado à vista caíram cerca de 30% nas últimas seis semanas, o que pode refletir nos resultados da Vale e da balança comercial brasileira. As cotações servem de referência para os contratos trimestrais da Vale com seus clientes. Mas, pela fórmula de correção, a queda atual só terá reflexo nos preços do primeiro trimestre de 2012.
Os preços do minério recuaram ontem no mercado à vista para o menor nível desde julho de 2010 -US$ 128,50 por tonelada-, no momento em que a produção de aço na China caiu 3% de agosto para setembro.
Adicionalmente, concorrentes dizem que a Vale inundou o mercado chinês de minério de ferro, desviando cargas da Europa -cuja demanda caiu por conta da crise- para a China e passou a vendê-las com preços menores.
"A queda dos preços se relaciona com o minério que estava destinado à Europa e foi para a China", disse Sam Walsh, executivo-chefe da divisão de minério de ferro da anglo-australiana Rio Tinto.
Procurada, a Vale disse que não iria comentar a declaração. Mas a mineradora reconhece que tem negociado com alguns clientes chineses a flexibilização dos contratos trimestrais.
Há um ano e meio, a Vale e outras mineradoras adotaram esse sistema, por pressão da China. Naquele momento, os preços do mercado à vista eram mais baixos do que os dos contratos anuais (padrão até então) por conta da crise global, mas reagiram rapidamente com a retomada econômica.
Graças à reação principalmente da China, o preço médio do minério da Vale subiu 163% entre o fim de 2009 e o final do segundo trimestre deste ano.
Para Pedro Galdi, analista da SLW, agora é um novo momento de ajuste dos preços. É que a crise europeia, diz, fez siderúrgicas cortarem a produção de aço (cujo principal insumo é o minério de ferro) para reduzir a oferta e evitar quedas maiores no preço.
A China, diz, agiu preventivamente e diminuiu a produção em setembro para evitar acúmulo de estoques. Ele vê, porém, tendência de recuperação no longo prazo e diz que a demanda chinesa ainda está firme (a produção de aço cresceu 18% ante setembro de 2010) e pode compensar a freada na Europa.
Se a crise se agravar, porém, e o consumo de minério cair, o impacto na balança comercial brasileira será direto. Segundo a Funcex, o setor de extração de minérios metálicos (o ferro é disparado o principal produto) gerou saldo de US$ 30,1 bilhões até setembro, mais do que todo o superavit da balança (US$ 23,1 bilhões).
Fonte: Folha de São Paulo/PEDRO SOARES/DO RIO/Com agências de notícias
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