O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou ontem a redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic. Com a decisão, que ocorreu por unanimidade, a taxa caiu de 8% para 7,5% ao ano e bate o terceiro recorde consecutivo de baixa - o menor patamar da série histórica iniciada em 1986. Este é o nono corte seguido da Selic, em uma trajetória de declínio que teve início há um ano - em agosto de 2011, quando foi reduzida de 12,5% para 12%. Desde então, o BC tem decidido pela redução de 0,5 ponto percentual a cada nova reunião, com exceção da decisão tomada em março, quando o Copom cortou 0,75 ponto percentual.
Segundo estimativa do mercado, medida semanalmente pelo boletim Focus do BC, 2012 deve terminar com a taxa em 7,25%, o que abre espaço para pelo menos mais um corte neste ano. Mesmo com a trajetória decrescente dos juros, a atividade ainda não deu os sinais esperados de reação. Historicamente, os cortes na Selic levam de seis a nove meses para impactar a economia.
A expectativa do governo é de com juros reduzidos - e os incentivos ao consumidor e a diversos setores da produção - a economia se reaqueça no segundo semestre. O desafio, entretanto, é não estourar a meta da inflação, de 4,5% (com teto de 6,5%) em um cenário que já se mostra inflacionário. No dia 17, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que resultados recentes da atividade comprovam que os incentivos dados pelo governo para reanimar a economia começam a surtir efeito.
Tombini ponderou, contudo, que a direção da inflação para a meta não “é um processo linear”, sugerindo que repiques de preços podem ocorrer nos próximos meses. Para ele, reaquecimento da economia não é risco para a inflação. Em julho, a inflação registrou no acumulado dos últimos 12 meses, alta de 5,20%. No mês anterior a taxa verificada foi de 4,92%. “Esse cenário de crescimento irá se materializar em ambiente de preços sob controle e com a inflação convergindo para a meta”, disse.
A redução da taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual, terá um efeito pequeno nos juros das operações de crédito para consumidores e empresas, segundo análise da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Segundo a associação, este fato ocorre uma vez que existe uma diferença “muito grande entre a taxa Selic e as taxas de juros cobradas aos consumidores que, na média da pessoa física, atingem 103,97% ao ano provocando uma variação de mais de 1.000% entre as duas pontas”. De acordo com as simulações feitas pela Anefac, a taxa média das operações para os consumidores, atualmente em 6,12% ao mês, deve cair apenas 0,04 p.p. (para 6,08%) com o corte anunciado.
Entre as taxas para as pessoas físicas, os juros do cartão de crédito devem cair de 10,69% ao mês para 10,65%. Assim, a utilização do rotativo sobre o valor de R$
3.000,00 por 30 dias deve passar a custar R$ 319,50 de juros - ante R$ 320,70 anteriormente. No caso dos juros para empresas, a taxa média deve cair de 3,53% para 3,49% ao mês.
Na carona do anúncio, o Bradesco ajustou suas taxas de juros de várias modalidades de crédito. Diversas linhas de empréstimos e financiamentos, tanto para clientes
pessoas físicas como para empresas, passam a ter taxas menores.
As novas condições valem para todos os clientes. Para os clientes pessoa física do Bradesco, a taxa de juros mínima do Crédito Pessoal foi reduzida de 1,89% para 1,85% ao mês. Na modalidade CDC Veículos, a taxa mínima foi reduzida de 0,89% para 0,85% ao mês, e a máxima de 2,87% para 2,83% ao mês.
Na modalidade leasing veículos, a taxa mínima diminuiu de 1,59% para 1,55% ao mês, e a máxima de 2,92% para 2,88% ao mês. No financiamento de bens e serviços, a taxa mínima caiu de 2,36% para 2,32% ao mês, e a máxima de 4,83% para 4,79% ao mês.
No cheque especial, a taxa de juros mínima é de 3,95% ao mês. O novo patamar de juros passa a vigorar a partir de segunda-feira.
Redução de juro e alta dos aportes devem caminhar juntos, diz Fiergs
Há um ano o Brasil caminha na direção de uma taxa de juros mais compatível com a praticada no resto do mundo. Mas, para obter maior competitividade e consolidar um cenário sem pressões inflacionárias, são necessários mais investimentos públicos”, afirmou o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor José Müller, ao avaliar a decisão do Copom.
O dirigente destacou a importância dessa decisão para alavancar a economia, uma vez que a indústria gaúcha, após passar o primeiro semestre sem avanços, inicia a
segunda metade do ano também em uma situação difícil. Conforme os resultados da Sondagem Industrial, pesquisa realizada pela entidade, o retrato da atividade descrito pelos empresários em julho demonstra produção estagnada, ociosidade elevada e disseminada, emprego em queda e estoques excessivos. A utilização da capacidade instalada, por exemplo, está há 16 meses abaixo do usual, atingindo quase 40% das empresas. Além disso, mais de 30% delas estão com estoques acima do planejado.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Copom agiu acertadamente ao manter seu ciclo de redução da taxa básica de juros. A economia brasileira ainda não conseguiu retomar o ritmo de crescimento e as previsões são de que os efeitos da desaceleração se prolonguem além do inicialmente esperado, avaliou a entidade. O segundo semestre está em curso, mas as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano estão abaixo dos 2%, assinalou a entidade. A CNI enfatizou que o ambiente atual justifica a continuidade da redução da taxa de juros em 0,5 ponto percentual. Na indústria, setor que mais se ressente da desaceleração da economia, a produção ainda não cresceu no ano. Em junho, o nível de produção é 5,5% inferior ao mesmo mês de 2011, observou a entidade. De outro lado, sublinhou a CNI, a inflação mantém-se dentro da meta, sem previsão de acelerações que possam colocar em risco seu cumprimento no fim do ano.
Força Sindical apoia decisão e quer mais cortes
A Força Sindical apoiou a decisão do Copom de reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual. Em nota, a entidade avalia que “o barateamento do crédito torna mais fácil a entrada do Brasil em um novo ciclo de recuperação econômica” e que “o governo está no caminho certo”. A entidade defende continuidade nos cortes.
“Sabemos que um crescimento vigoroso da economia é excelente para toda a sociedade, em especial para os trabalhadores, porque gera mais empregos e torna mais fácil a negociação por melhores condições de trabalho e melhores salários”, destaca o texto, assinado pelo presidente em exercício da Força Sindical, Miguel Torres. Para a entidade, “o governo deve continuar a praticar esta política de redução da Taxa Selic para livrar o País da especulação financeira, que acaba consumindo e restringindo o investimento de recursos em educação, saúde, segurança e infraestrutura”.
Fonte: Jornal do Commercio/RS
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