A idéia do Banco dos Brics é sensacional. Uma entidade financeira com US$ 50 bilhões a US$ 100 bilhões, contando com apoio da opulenta China, surge da noite para o dia, estabelecendo um contraponto com o esclerosado sistema FMI–Banco Mundial. No site da Fundação Perseu Abramo, do PT, escreveu, de forma entusiasmada, o economista Guilherme Mello: “A criação do Banco dos Brics representa um marco nas relações dos países em desenvolvimento, criando estruturas paralelas de financiamento àquelas tradicionalmente dominadas pelos países ricos. Longe de representar um distanciamento de outras instituições multilaterais, a criação destas estruturas pressiona as organizações atualmente existentes a se democratizarem, sob o risco de ver sua relevância diminuída no cenário internacional. Do ponto de vista dos países menos desenvolvidos, a possibilidade de financiar seus projetos pode representar um novo horizonte de expansão, antes bloqueado pelos interesses econômicos dos países centrais e suas grandes empresas, que dominam politicamente os organismos de crédito internacional atualmente existentes”.
Como em todo bom debate democrático, há o outro lado. Bernardo Santoro, do Instituto Liberal, acha exatamente o contrário. Diz ser uma tentativa de se estabelecer uma espécie de “populismo creditício” internacional. Afirma que o governo brasileiro gasta demais e lembra que todo empréstimo, um dia, precisa ser quitado. Garante que o apoio a países emergentes com problemas no balanço de pagamentos é eufemismo para irresponsabilidade fiscal. Acentua Santoro: “Na prática, se um governo gastar mais do que arrecada, o fundo concederá um empréstimo para bancar a farra de gasto público às custas dos governos e gerações futuras do povo do governo gastador. É um incentivo perene para a falta de austeridade com a coisa pública em um momento em que países do mundo todo apertam o cerco para tentar arrumar a gestão fiscal”.
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Na verdade, um passo dessa magnitude é mais político do que econômico. Porém, o mundo dos números é frio. Se a Venezuela resolve comprar títulos do governo argentino, por solidariedade, esse bom-mocismo tem um custo. Se tiver mais funções sociais do que econômicas, o Banco dos Brics não deixa de se parecer com os nossos bancos de governo. No Brasil, os bancos estaduais quebraram porque, com às vezes boas intenções, os governos regionais resolviam financiar caros empreendimentos, para desenvolver cada estado, mas o resultado é que Banerj, Banespa e outros não conseguiram se manter saudáveis. As caixas econômicas estaduais sempre viveram em dificuldades e, no Governo Sarney, a própria Caixa Econômica Federal, hoje uma potência, passou por momentos de instabilidade.
Agora mesmo, há comentários, no mercado, que os bancos privados se negaram a dar novos créditos ao setor elétrico e que a tarefa foi parar nos bancos do governo. Isso mostra como é perigoso se misturar política com gestão bancária, o que serve como alerta para o Banco dos Brics. A instituição vem em ótimo momento, quando se discute o envelhecimento das estruturas financeiras do pós-guerra – e a própria insignificância da ONU. No entanto, seja qual for a diretriz política do novo banco, deveria dar prioridade a projetos que tenham retorno, pois, em caso contrário, isso iria demandar novos aportes dos sócios que, insatisfeitos, decretariam o fim da empreitada. Por melhores que sejam os objetivos do novo banco, é um projeto de risco. Banco é banco e não entidade de benemerência. O BNDES tem o “social” no nome, mas para isso conta com recursos privilegiados da sociedade – como PIS/Pasep – e, mesmo assim, é sempre socorrido por aportes do governo.
Fonte:Monitor Mercantil/Sergio Barreto Motta