Antes considerado reduto exclusivo dos ricos, o mercado náutico atrai cada vez mais a classe B. As vendas de embarcações de até R$ 100 mil são as que mais crescem na indústria brasileira, a taxas anuais entre 5% e 10% nos últimos dez anos.
"Em 2011, esse segmento representou seguramente pelo menos metade das vendas do setor. À medida que aumenta o poder aquisitivo, cresce também a inclusão náutica", afirma o presidente da Associação Brasileira de Construtores de Barcos e Seus Implementos (Acobar), Eduardo Colunna. No ano passado, o setor inteiro produziu cerca de 3.300 embarcações com motor.
"O mercado náutico continua luxuoso, mas começou a ser mais acessível", diz Caio Ambrosio, organizador do salão náutico Boat Xperience, cuja 4ª edição terminou no último domingo no Guarujá (litoral de São Paulo). Entre os 90 barcos expostos na glamourosa marina Astúrias, havia modelos para todos os bolsos: de R$ 50 mil a R$ 6 milhões. "Um barco de R$ 50 mil é como ter um segundo carro. Ou, ao invés de comprar um apartamento na praia, é possível ter uma lancha por R$ 300 mil", diz Ambrosio.
Circulavam pelo evento discretos corretores que ofereciam crédito para facilitar a compra. Entre as propostas mais acessíveis, era possível parcelar um barco de R$ 50 mil com uma entrada de R$ 20 mil e o restante em 48 parcelas fixas. A estimativa de Ambrosio é que o salão tenha gerado R$ 60 milhões em negócios nos cinco dias de evento, cerca de 20% a mais do que a última edição.
A perspectiva da Acobar é que o setor cresça 10% neste ano, levando em conta a média entre todos os segmentos. Com o mercado aquecido, os estaleiros estão projetando expansão de capacidade. Hoje, as duas unidades do Ventura, em Manaus (AM) e em Capitólio (MG), têm capacidade combinada para fabricar 1.300 barcos por ano. Com investimento de R$ 8 milhões, a empresa aumentará a oferta para 1.800 unidades em 2013. O estaleiro concentra a produção em embarcações a partir de R$ 35 mil até R$ 1,8 milhão. Em 2011 foram vendidas 900 unidades e a projeção é crescer 15% neste exercício.
Segundo o diretor comercial do Ventura, Marco Garcia, as embarcações com preços de até R$ 100 mil são as que mais vendem em quantidade. "O Brasil hoje é a segunda potência mundial em consumo desse tipo de barco. A primeira são os Estados Unidos", afirma o executivo.
Proprietário da R&R náutica, uma das maiores revendedoras do setor, Ruy Piccolo afirma que a atual estrela do seu portfólio é o modelo Psari 195, que sai por R$ 62.400. "É o mais barato e um dos que mais vendem". Segundo ele, são comercializadas entre dez e 12 unidades ao mês. Com o mercado em ascensão, a empresa irá inaugurar a quarta loja própria neste ano e estuda 32 propostas de franquia.
A expansão da indústria também ocorre no segmento dos mais abastados. O Ferretti Group, especializado em barcos de luxo, projeta crescimento de 30% na produção deste ano, chegando a 60 embarcações. "E 2011 já foi um ano bom. O mercado continua aquecido para barcos grandes", afirma o gerente de marketing da empresa, Diego Christiansen.
O modelo mais em conta que a empresa italiana produz no Brasil é o Ferretti 530, que sai por R$ 3,9 milhões. A embarcação de 53 pés (cada pé tem 30,48 centímetros) tem três cabines, sendo duas suítes. Recentemente o jogador Neymar, do Santos, adquiriu um exemplar. O barco mais caro do grupo produzido no Brasil é um modelo de 83 pés, que sai por R$ 15 milhões.
Há cerca de um ano e meio a Ferretti inaugurou a nova fábrica no Brasil, em Vargem Grande Paulista (SP). A empresa, que está há 20 anos no país, planeja expandir a produção para 100 barcos em 2014.
Para Colunna, presidente da Acobar, o Brasil é um dos mercados com maior potencial de crescimento. Ele cita um levantamento de 2008 segundo o qual no Canadá há um barco para cada 15 habitantes e nos Estados Unidos, um para cada 23. No Brasil, a relação é de um para cada 289 pessoas.
Fonte: Valor Econômico/Fernanda Pires | Para o Valor, de Santos
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