A Petrobras, o maior empecilho ao índice referencial das ações brasileiras este ano, poderá ficar atrás do Índice Bovespa em 2011 uma vez que há uma preocupação de que os investimentos da companhia vão afetar seus lucros, segundo afirma a BlackRock.
Will Landers, que supervisiona o Latin America Fund (com US$ 1,05 bilhão em ativos) da maior administradora de ativos do mundo, disse ontem que vendeu ações da Petrobras depois que ela caiu 30% em 2010 e continua com perspectivas inferiores à média do mercado para 2011. Os setores bancário e da construção são os mais atraentes no Brasil e deverão se beneficiar da melhoria da demanda doméstica, disse Landers.
A Petrobras "virou meio que um ver-para-crer", disse Landers, cujo Latina America Fund proporcionou um retorno médio de 20% ao ano nos últimos cinco anos, melhor que 90% dos concorrentes, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O índice Bovespa provavelmente subirá 32% em relação ao fechamento de terça-feira, para o recorde de 90 mil pontos no ano que vem, disse Landers na sede da Bloomberg em Nova York. O índice acumula perda de 1% no ano, a única entre os índices referenciais nas Américas, segundo a Bloomberg. O Ibovespa fechou ontem em alta de 0,38%, nos 68..470 pontos. As ações preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras subiram 0,58%, para R$ 25,72.
Os lucros das empresas que fazem parte do índice provavelmente crescerão 24% no ano que vem, numa base por ação, segundo as projeções médias dos analistas consultados pela Bloomberg. O índice estava sendo negociado em 17 de dezembro a 10,3 vezes as estimativas de lucros dos analistas para 2011, menos que relação preço sobre lucro (P/L) de 11,3 do índice MSCI Emerging Markets, segundo mostram dados semanais compilados pela Bloomberg.
As ações dos setores financeiro e da construção deverão se beneficiar do crescimento econômico do país, mesmo com a esperada alta das taxas do juros em 2011, uma vez que os custos dos empréstimos continuam em níveis históricos de baixa, afirmou Landers. A taxa Selic, atualmente em 10,75% ao ano, estava em 26,5% em 2003.
"Alguns setores vêm sendo punidos demais com essa preocupação com os juros", disse ele. "As construtoras parecem bastante interessantes aqui, porque suas ações caíram bastante. As ações dos bancos continuam com um desempenho abaixo da média, mesmo com eles ganhando muito dinheiro. Eles são muito lucrativos em períodos de alta dos juros. Estes são os dois setores no lado doméstico nos quais apostamos mais no começo do ano."
A taxa referencial de juro brasileira Selic poderá ser elevada para 12,5% no ano que vem, uma vez que o Banco Central (BC) vem tentando conter as pressões inflacionárias. "Há um certo vento contra", disse Landers. "Precisamos ficar de olho no Copom e ver o quanto os juros vão subir", acrescentou ele, referindo-se ao comitê de política monetária do BC.
Os investidores na maior economia da América Latina também vão esperar pelo orçamento de 2011 do novo governo e até onde a presidente eleita Dilma Rousseff está disposta a cortar os gastos, incluindo os recursos para o BNDES, disse Landers.
"Eles precisam reduzir o crescimento para manter a inflação sob controle, apertar um pouco o lado fiscal, conseguir muito crédito do mercado e eventualmente permitir uma queda das taxas de juros" acrescentou ele.
O sistema financeiro brasileiro tem liquidez e as autoridades reguladoras do país estão "vigilantes", segundo Landers. Ele considera o socorro ao Banco Panamericanoum "caso isolado".
O Panamericano, 21º banco do país em ativos, recebeu um socorro de R$ 2,5 bilhões no mês passado de seu acionista controlador, Sílvio Santos, depois que o BC encontrou irregularidades relacionadas a vendas de pools de empréstimos. Posteriormente promotores públicos começaram a investigar alegações de fraude no Panamericano. Um porta-voz do banco em São Paulo disse que ele não comenta investigações em andamento.
"No fim das contas, se qualquer companhia quer cometer uma fraude, é muito difícil apanhá-la enquanto a coisa não vaza", disse Landers. "Nâo há muito o que fazer a respeito."
A ação da Petrobras, terceira maior companhia de petróleo do mundo em valor de mercado, está sendo negociada a 8 vezes os lucros estimados para 2011, comparado a uma média de 9 vezes para as 26 companhias de petróleo e gás do índice FTSE All-Share Oil & Gas Index. Na Exxone na Mobil Corp., a maior do mundo, essa relação é de 11 vezes.
A Petrobras, que é controlada pelo Estado, teve um "ano horrível" em termos de governança corporativa, diz Landers, citando sua venda de ações de US$ 70 bilhões em 24 de setembro, para ajudá-la a financiar os investimentos de US$ 224 bilhões no desenvolvimento de campos de petróleo offshore e no aumento da capacidade de refino até 2014. A companhia, com sede no Rio, está desenvolvendo o campo offshore de Tupi e poderá ficar com uma participação mínima de 30% no campo do governo chamado Libra. Estas são as maiores descobertas de petróleo nas Américas desde a descoberta do campo de Cantarell no México em 1976.
Tupi e Libra, que podem ter até 8 bilhões de barris e 15 bilhões de barris, respectivamente, estão na região de águas profundas conhecida como pré-sal, que se estende ao longo da costa brasileira. O presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli pretende dobrar a produção da companhia para 5,38 milhões de barris/dia até 2020, ante os 2,7 milhões de barris de 2010. "A base de ativos que a Petrobras tem é fantástica", disse Landers.
Como parte da venda de ações, a Petrobras emitiu cerca de US$ 42,5 bilhões em papéis para o governo brasileiro, em troca dos direitos de desenvolvimento de 5 bilhões de barris de petróleo das reservas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está apertando o controle do Estado sobre a indústria nacional do petróleo depois da descoberta de Tupi. O presidente diz que o Brasil depende da riqueza do petróleo do país para combater a pobreza.
"Eles precisam provar que conseguirão gerar taxas de retorno apropriadas", disse Landers. "Seus planos são muito ambiciosos, dobrar a produção de petróleo nos próximos dez anos. Se eles conseguirem isso, será uma transformação para o Brasil. Mas vai custar caro para a Petrobras."
(Fonte: Valor Econômico/Fabiola Moura e Eric Martin, da Bloomberg | De Nova York/Tradução de Mário Zamarian)
PUBLICIDADE