Vinte e seis anos depois da privatização, a Embraer deve passar a ter novamente uma relevante participação estatal. Em ação semelhante à do governo americano na crise de 2008 para salvar a General Motors, o BNDES deverá aportar pelo menos US$ 1 bilhão para comprar ações a serem emitidas pela empresa, o que diluirá participações dos atuais sócios.
A resistência do Ministério da Economia à operação foi vencida, em grande parte, pela proximidade entre o titular da pasta, Paulo Guedes, e o vice-presidente do Conselho de Administração da Embraer, Sergio Eraldo Pinto. Eles foram sócios na Bozano Investimentos, hoje Crescera. Essa relação, que azeitou a decisão do governo de não usar a ação preferencial (“golden share”) para vetar a venda para a Boeing, facilitará também o desenlace agora no sentido inverso.
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Uma emissão de ações para a venda no mercado de capitais foi descartada em razão da crise. Novas parcerias apenas serão buscadas quando a pandemia estiver superada. A ideia não é que a União, que hoje tem, por meio da BNDESPar, cerca de 5% da companhia, volte a controlá-la. Isso a engessaria na disputa de mercado. A busca é por liquidez para atravessar o fundo do poço da pandemia.
O passo seguinte ainda está em aberto. O discurso oficial será o de que a Embraer foi vítima de traição da Boeing e precisa se recuperar para ser vendida. É uma maneira de justificar a contradição com o discurso de campanha de Bolsonaro, que criticava a “caixa preta” do BNDES.
Analistas acreditam que o vice-presidente, Hamilton Mourão, depois da pandemia, tentará buscar uma parceria para a Embraer na China, que teria viabilidade duvidosa. Primeiro porque houve stress com o atual governo por causa da covid-19. Depois, porque uma aquisição da China prejudicaria as vendas do cargueiro C-390 Milllenium aos EUA.
Fonte: Valor