SÃO PAULO - A forte demanda interna e a baixa produção nacional alavancaram nos primeiros cinco meses as importações brasileiras. A afirmação é do diretor da Fractal, Celso Grisi. De acordo com o executivo o Brasil precisa investir em infraestrutura, logística e pólos industriais em todas as regiões brasileiras, não somente no sudeste.
"Os déficits e quedas dos saldos comerciais nas Regiões Sul, Norte e Nordeste acontecem pela baixa diversificação da pauta exportadora em conjunto com a falta de condições dos setores industriais, agrícolas e de serviços em atender a demanda interna do País. Precisamos equipar essas regiões para que o saldo volte a ser positivo", pontuou.
Na mesma linha de raciocínio, o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Ivan Ramalho, afirmou que o próximo passo do governo é auxiliar os estados e regiões brasileiras a ampliarem sua participação no comércio internacional por meio de pautas diversificadas, de maior participação em feiras e eventos, e da abertura de Zonas de Processamento ao Exportador (ZPE).
"Vamos incentivar as regiões carentes no comércio exterior, pretendemos elevar a logística e infraestrutura nestes locais, para com isso possibilitar uma maior inserção no mercado internacional. Hoje temos o auxílio das ZPEs que possibilitam cada região a redução de impostos federais e estaduais em muitas operações, como na fabricação de produtos e na venda ao exterior. Essa atitude ajudará a elevar o saldo comercial em conjunto com outros benefícios, como o aumento dos números de mão de obra empregada", relatou Ramalho.
Outro ponto abordado pelo secretário são as parcerias com outros países, como a China, que abriu uma filial do Banco da China no Brasil para ensinar aos empresários brasileiros como adentrar o mercado chinês com mais facilidade e sucesso.
Para Grisi, o incentivo é uma ótima oportunidade para estas regiões deficitárias em comércio exterior; contudo, ele afirma que o processo é longo.
"Isso é viável num prazo mais longo. Primeiro, porque não são fornecedores tradicionais ao mercado internacional e a entrada é sempre muito lenta, requer inúmeros cuidados e conhecimentos. Segundo, porque precisa ter estrutura mais organizada, com ampla logística e investimento em tecnologia de ponta", argumentou o diretor da Fractal.
Dados
Segundo o Mdic, entre janeiro e maio deste ano a única região em que cresceu o número de exportações e que ampliou o saldo comercial foi a Sudeste. Na comparação com o mesmo período de 2009, houve um acréscimo de 169% no saldo, ao passar de US$ 1,065 bilhão para US$ 2,870 bilhões.
Em contrapartida, a Região Sul apresentou a maior queda no mesmo item comparado, ao passar de US$ 2.970 bilhões para déficit de US$ 257 milhões.
Na opinião do professor do Centro de Estudos Calil & Calil, Mauro Calil, a queda ocorre pela competitividade e mercado dos produtos brasileiros frente às mercadorias indianas e chinesas.
"O sul do País tem alguns setores predominantes, como o agronegócio e o setor calçadista e têxtil. No caso de sapatos, os empresários brasileiros perdem muito espaço com os produtos mais baratos vindos da Índia e da China, a competitividade faz com que o Brasil sofra até mesmo nos parceiros do Mercosul, como a Argentina. No caso do setor agrícola, houve uma perda das safras pela questão climática, pelas chuvas do início do ano. Podemos esperar uma melhora, mas ainda a tendência é ruim. No caso da pecuária, os frigoríficos estão migrando para o centro-oeste do País, o que faz os empresários sulistas inclusive importarem carne de outros estados, como Mato Grosso e São Paulo", relatou.
Os dados do Mdic da Região Centro-Oeste apontam uma ligeira queda do saldo comercial, que passou de US$ 2,737 bilhões nos primeiros cinco meses de 2009 para US$ 2,459 bilhões no mesmo período deste ano.
"O centro-oeste vem se dando melhor do que outras regiões pela superioridade do Brasil no agronegócio. Outro ponto importante é o aumento dos preços das commodities como a soja, carro-chefe da região, e a aceitação no mercado internacional", declarou Grisi.
As Regiões Norte e Nordeste, por sua vez, passaram de US$ 1,010 bilhão para déficit de US$ 468 milhões, e de US$ 628 milhões para US$ 39 milhões, respectivamente. "Estas regiões não têm perfil exportador, e, com o aumento do consumo, a produção nacional não está dando conta; por isso estamos comprando mais para suprir a demanda", concluiu Grisi.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) quer melhorar os resultados de regiões do Brasil que hoje têm baixos níveis de exportação. Segundo Ivan Ramalho, secretário do Mdic, um dos instrumentos para atingir este objetivo são as Zonas de Processamento ao Exportador (ZPEs). "Além dos incentivos fiscais das ZPEs, vamos incentivar as regiões carentes no comércio exterior, pretendemos elevar a logística e a infraestrutura nestes locais, para com isso possibilitar maior inserção no mercado internacional", disse. Neste ano, até maio, a Região Sudeste registrou aumento tanto das exportações quanto do saldo da balança comercial.
Fonte: DCI/Karina Nappi
PUBLICIDADE