As agências de classificação de risco erraram tanto nos últimos anos que perderam quase toda sua credibilidade. Foram alvo de processos nos Estados Unidos e na Europa. No entanto, nem por isso os brasileiros conscientes devem deixar de ouvir as vozes que vêm de fora, mesmo que seja para rebatê-las, sem emoção, com tecnicalidade. Em uma fábula infantil, todos elogiavam a roupa do rei, até que um estranho alardeou que o rei estava nu. Cabe aos brasileiros verificar qual sua verdadeira situação. Se as agências estiverem erradas, tanto melhor. Recentemente, Standard & Poor’s rebaixou a perspectiva dos títulos brasileiros de estável para negativa. Agora, foi a vez da Moody’s, que passou a perspectiva do país de positiva para estável. Apesar das negativas do governo, que afirma estar a dívida líquida sob controle, o mercado internacional critica não só a relação da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) como ainda deplora a falta de investimentos e o baixo crescimento da economia.
O déficit em transações correntes é algo bem objetivo: no ano passado ficou em US$ 54,2 bilhões e, este ano, deve chegar a US$ 75 bilhões, enquanto o Investimento Estrangeiro Direto (IED) se limitará a US$ 65 bilhões. Embora, em Nova York, a presidente Dilma tenha apresentado uma inesperada agenda liberal, a verdade é que governo e empresários não falam a mesma língua. Melhor prova não há de que os constantes adiamentos de leilões para obras de infra-estrutura. E muitos economistas temem que, em 2014, por ser ano eleitoral, o governo parta para soluções heterodoxas – como mais aumento de endividamento público para nutrir os bancos estatais.
Também afetam a imagem do governo a gestão dos negócios da sessentona Petrobras – obrigada a vender ativos para reforçar o caixa – e o imbróglio na área de energia, que debilitou a Eletrobras e assustou os investidores privados. Um ponto especial é a dívida interna. Pouco se fala no tema, mas, no orçamento, consta rubrica de R$ 1 trilhão para pagamentos de juros e amortizações da dívida. Diante disso, fica até estranho se falar em destinação de royalties para a saúde. E se confirma a suspeita de que, se o imposto do cheque fosse restaurado, boa parte da receita iria não para hospitais, mas para quitar juros – de uma dívida que sempre aumenta, pois é continuamente rolada. Moody’s e Standard & Poor’s podem não bons parâmetros, mas qualquer alerta deve ser recebido com atenção. Se um bêbado gritar que uma casa está pegando fogo, mesmo diante da pouca credibilidade da fonte, é essencial que se apure o que realmente está ocorrendo.
Fonte: Monitor Mercantil/Sergio Barreto Motta
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