A operação brasileira da americana Caterpillar assumiu uma decisão desafiadora em tempos de perda de competitividade da indústria no país: nacionalizar os componentes mais vitais na montagem de suas máquinas.
Uma das possibilidades discutidas pela gigante de máquinas é ter fabricação própria no Brasil de algumas das linhas de componentes que hoje são importados da matriz nos Estados Unidos.
Luiz Carlos Calil, presidente da Caterpillar no país, diz que o projeto se centra em peças consideradas mais críticas ao processo produtivo, como, por exemplo, sistemas de mangueiras de alta pressão, responsáveis pela circulação de fluidos das máquinas.
A instalação dessas linhas garantiria não apenas o suprimento às fábricas de máquinas da Caterpillar no Brasil, como também teria seu excedente destinado ao mercado de reposição de peças ou a operações da companhia ao redor do mundo.
Em outra frente, a fabricante tenta atrair fornecedores instalados nos Estados Unidos e na Europa para a área de influência de suas fábricas.
Calil reconhece, no entanto, que a tarefa tem sido árdua. Segundo ele, cerca de oito potenciais candidatos a desembarcar no Brasil ainda estão avaliando condições fiscais, legais, trabalhistas e cambiais para ver se vale a pena apostar no país.
Pesam contra os investimentos na montagem de indústria local a perda de competitividade com a valorização do real e a pesada carga tributária, fatores que se somam a reajustes salariais que nem sempre são acompanhados por ganhos de produtividade dos funcionários.
A própria direção da Caterpillar no Brasil reconhece que chegou a trocar alguns componentes nacionais por importados, em virtude das condições mais vantajosas para se trazer produtos do exterior.
A filial brasileira, contudo, sustenta a necessidade de fortalecer a cadeia de fornecimento local, com expectativas de retorno no longo prazo. O desafio consiste em convencer a matriz e novos fornecedores a explorar as oportunidades que surgirão a partir dos investimentos em infraestrutura a serem realizados no Brasil ao longo dos próximos dez anos.
Em outra época, a falta de escala tornava inviável uma fábrica de componentes no país, mas os volumes alcançados pelo mercado brasileiro - e a tendência de crescimento traçada para os próximos anos - passaram a justificar o projeto, conta Calil.
Além de Estados Unidos e Europa, a Caterpillar já tem fábricas próprias de peças em mercados emergentes como China e Índia. No Brasil, os componentes de marca própria são importados de outras unidades mundiais do grupo.
A maior parte das peças usadas na fábrica da Caterpillar em Piracicaba (SP), no entanto, vem de fornecedores locais, que garantem um índice de nacionalização de pelo menos 60% das máquinas - uma condição para se ter acesso às linhas de financiamento com taxas mais baixas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A tendência é que as necessidades da empresa no Brasil comecem a crescer a partir de setembro, quando está previsto o início da produção de retroescavadeiras na nova fábrica em Campo Largo, no Paraná. Lá, a Caterpillar ainda trabalha no desenvolvimento de um grupo de fornecedores que possa atender a seus padrões de qualidade e volumes demandados.
De acordo com Calil, podem abrir filiais na região algumas das empresas que já fornecem para a fábrica de Piracicaba.
A unidade de Campo Largo é o principal projeto da empresa no momento, consumindo aproximadamente metade do programa de investimento de R$ 350 milhões conduzido no país.
Além de retroescavadeiras, a unidade deverá iniciar em abril a produção de carregadeiras de rodas de pequeno porte.
Com a inauguração da fábrica paranaense, a Caterpillar gradualmente reduzirá a fabricação desses dois produtos em Piracicaba até desativar as linhas a partir de meados de 2011. No ano passado, a empresa teve R$ 2,22 bilhões em vendas no país.
Fonte:valor Econômico/Eduardo Laguna | De São Paulo
PUBLICIDADE