Depois de concluir o que classifica como sua terceira onda de crescimento, a Companhia Brasileira de Offshore (CBO) vai “hibernar” para absorver a aquisição de dez barcos de apoio a atividades offshore antes de iniciar um novo ciclo de expansão. Com 44 embarcações, a empresa é uma das maiores do país na oferta deste serviço para petroleiras. Ao mesmo tempo que expande oferta de embarcações, a CBO estuda lançamento de ações e vê espaço para consolidação no setor.
Em 2019, a CBO comprou dez embarcações, cada uma por cerca de um terço do valor de uma nova, aproveitando-se de um cenário iniciado cinco anos antes, quando a oferta era muito maior do que a demanda, o que levou à queda das taxas diárias de afretamento. O cenário naquela ocasião se deu por causa da crise econômica, do alto endividamento da Petrobras - que resultou, posteriormente, num amplo programa de desinvestimentos - e pelo impacto das investigações da Operação Lava-Jato. A companhia suspendeu ou reviu contratos que deixaram segmentos da indústria com capacidade ociosa.
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A empresa fez estudos de mercado, que apontaram a aquisição de embarcações como um caminho mais rápido para crescer. “A partir de 2018, a gente estudou esse mercado para saber para onde estávamos indo, pois entendemos que a CBO não ia continuar crescendo construindo embarcações”, disse o diretor-técnico comercial da companhia, Marcelo Martins.
Ele ressaltou que o cenário que vislumbraram no passado começou a se concretizar recentemente: as taxas diárias voltaram a crescer. “Quem comprou, comprou”, brincou o diretor-presidente, Marcos Roberto Tinti. Os dois últimos barcos desta aquisição entraram em operação neste mês.
A CBO pertencia ao grupo Fischer, tradicional armador brasileiro, até ser comprada, em 2013, pela Vinci Partners e pelo Pátria Investimentos, além do braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar). Hoje a empresa não descarta adquirir companhias do setor, até porque enxerga que a consolidação é um movimento natural num segmento em que cinco ou seis operadores detém 50% a 55% do total de embarcações. O restante, afirmou Tinti, está na mão de outras 40 companhias.
“O mercado é pulverizado”, disse Tinti. Uma mostra do poder de fogo da CBO se deu em setembro do ano passado, com a aquisição da filial brasileira da italiana Finarge, por US$ 94,4 milhões. Com a compra, a companhia incluiu cinco embarcações na frota - quatro, já com contratos com a Petrobras.
Segundo o diretor-presidente, a CBO está preparada para a realização de um IPO - a empresa possui capital aberto desde 2015, mas ainda não está listada em bolsa. A emissão de ações depende apenas da melhoria das condições de mercado: “A empresa está pronta, estruturada. Temos conselho de administração com dois conselheiros independentes”, afirmou Tinti.
Um caminho natural para a CBO - e todo o setor - é o da oferta do afretamento para o segmento de eólicas offshore, que ainda está em gestação no país. Tinti e Martins salientam que o tema ainda depende de marco regulatório, porém, uma forma de acelerar a implantação das eólicas marítimas seria a adaptação da lei 9.432, voltada para a navegação, que em vez de tratar de atividades de exploração e produção de petróleo, poderia ter a redação alterada para atividades de exploração e produção de energia.
“Já temos um marco regulatório pronto, vamos usar no mercado de eólica offshore", disse Martins. “E saindo os primeiros campos, como aconteceu lá atrás, virão a reboque os investimentos e a necessidade de embarcações”, completou Tinti.
Um dos insumos principais para a operação dos barcos de apoio é o óleo combustível, altamente poluente e emissor de gases de efeito estufa. O modelo de negócios da CBO prevê que o custo do combustível seja do cliente, mas como forma de agregar valor ao serviço e enquadrar-se aos critérios ESG, a empresa desenvolveu um projeto em que busca reduzir o consumo de combustível e as emissões de CO2 - dentro da meta de zerá-las até 2025. Para acelerar o cumprimento do objetivo, a empresa vem comprando créditos de carbono desde setembro do ano passado, informa Martins.
Em paralelo, a companhia está realizando estudos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em busca de soluções alternativas ao óleo combustível. Uma das linhas de pesquisa envolve o uso de propulsão elétrica e baterias em embarcações. Também analisa a possibilidade de se adotar o gás natural no lugar do óleo combustível, na modalidade liquefeita. O problema, segundo os executivos, é que o suprimento carece de uma infraestrutura ainda inexistente.
A empresa também acompanha o movimento de seus concorrentes europeus, para o uso de hidrogênio verde como substituto dos fósseis. Nessa linha de estudos, ainda preliminares, a CBO analisa alternativas como o etanol. “Eu não posso falar muito, não posso dar ‘spoiler’, mas combustíveis alternativos estão na pauta da CBO e estamos trabalhando com força neste sentido”, afirmou Tinti.
Fonte: Valor