Após consolidar sua posição de locomotiva do avanço do grupo argentino Los Grobo na safra passada (2010/11), a brasileira Ceagro expande o plantio de grãos neste ciclo 2011/12 enquanto trabalha o terreno para diversificar suas operações na próxima temporada.
"Esperamos um crescimento forte em 2011/12, tanto na produção própria quanto na originação de grãos e na área de insumos", afirma Paulo Fachin, CEO da Ceagro Los Grobo. Fundada por Fachin em 1994, a Ceagro Agronegócios passou ao controle do grupo argentino no início de 2010.
Paranaense, Fachin criou a Ceagro para investir na distribuição de insumos agrícolas na confluência das regiões de Cerrado dos Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, o conhecido "Mapito". O modelo começou a mudar no início dos anos 2000, e no ano passado ganharam corpo negócios em Goiás, Minas e Bahia, o que acelerou uma expansão que já vinha em ritmo forte.
Balanço ainda não publicado mostra que o faturamento da Ceagro alcançou quase R$ 600 milhões no ano-safra 2010/11 (julho de 2010 a junho de 2011), ante pouco menos de R$ 400 milhões no ano civil 2010 e em linha com os incrementos observados desde meados da década passada.
Segundo Fachin, o Ebitda da Ceagro foi de R$ 25 milhões em 2010/11, ainda pressionado por custos relacionados à entrada em outras fronteiras fora do "Mapito" e à montagem de filiais em Mato Grosso. O lucro líquido foi de R$ 5,6 milhões. "Não teremos essa mesma pressão em 2011/12".
A soja continua a ser a grande protagonista agrícola da Ceagro, sempre afinada com a estratégia regional do Los Grobo, que também planta o grão na Argentina, no Paraguai e no Uruguai e, no total, fatura aproximadamente US$ 1 bilhão por temporada.
No Brasil, a produção própria de soja, em terras arrendadas, deverá ocupar 57 mil hectares em 2011/12, aumento de 14% sobre 2010/11. Segundo Fachin, no ciclo atual a oleaginosa ocupa 90% da área total de plantio, cabendo ao milho os 10% restantes.
Cerca de 70% da futura colheita de grãos já foi negociada, o que garantiu melhores condições de mercado que as atuais, mais turvas em virtude da resiliente crise financeira em países desenvolvidos.
Essa estratégia de antecipação das vendas é sustentada pela atuação da empresa no mercado de insumos, num esquema de trocas conhecido como "barter". A Ceagro espera produtividade de 50,8 sacas de 60 quilos por hectare em suas áreas próprias de soja em 2011/12, ante 51 em 2010/11. No milho, estima 125 sacas por hectare.
Na originação de soja, que envolve a produção de terceiros, a Ceagro espera mais de 700 mil toneladas no total no ciclo atual, incluindo negócios em Mato Grosso (iniciados em 2010), ante 550 mil na temporada anterior. No milho, serão 50 mil. A companhia tem mais de 500 fornecedores de grãos, também considerados clientes na troca por insumos.
Para o plantio da temporada 2011/12, a Ceagro negociou o equivalente a US$ 125 milhões em defensivos, 20% acima de 2010/11. Além disso, recentemente a companhia fez uma parceria que tende a elevar o peso dos fertilizantes no negócio. Mesmo sem a associação, a Ceagro negociou mais de 100 mil toneladas de adubos neste ciclo.
É o barter que se fortalece, e a construção de uma misturadora de fertilizantes no "Mapito", com investimentos de cerca de R$ 15 milhões, também deverá inflá-lo.
Ainda que o milho represente um papel secundário nos negócios da empresa, Fachin tem boas perspectivas para o cereal. "O milho vai ganhar espaço no Brasil. A China está passando de exportadora a importadora, a demanda americana subiu por causa do etanol e há espaço para exportar".
Com o fortalecimento das exportações brasileiras, continua, é possível explorar melhor o mercado futuro, "hedgear" com eficiência as operações e conferir segurança à cadeia. E, além disso, há déficit de milho para rotação de culturas em algumas regiões do país.
Se a aposta da Ceagro no milho começa a engrenar, no algodão ela terá início na próxima safra (2012/13). Paulo Fachin informa que a empresa já tem 3 mil hectares na Bahia para isso.
A diversificação deveria ser aprofundada com recursos oriundos de uma planejada abertura de capital, que foi adiada em razão do mau momento do mercado financeiro. Compra e venda de terras e açúcar e etanol estavam nos planos, que estão sendo revistos.
Fachin detém 40,5% da Ceagro, cabendo à Los Grobo Agro do Brasil uma fatia 59,5%. Esta tem 66,6% do capital nas mãos da holding argentina Los Grobo. A Vinci Partners, por meio do fundo PCP, tem 21,56% da holding e 33,3% da Los Grobo Agro do Brasil.
Fonte: Valor Econômico/Por Fernando Lopes | De São Paulo
PUBLICIDADE