Chevron errou ao demorar um dia para inspecionar poço, diz ANP. Avisada sobre mancha de óleo, Chevron achou que problema era com Petrobras e perdeu um dia até decidir verificar sonda e poço perfurado. Para chefe de segurança da Agência Nacional do Petróleo, Rafael Moura, inspeção devia ter sido feita no ato, já que Chevron tivera problema com sonda na véspera. Um dia após depor ao Senado, executivo fala a deputados e muda versão.
BRASÍLIA – A petroleira norte-americana Chevron errou ao não inspecionar sua sonda e o poço que ela perfurava tão logo soube que havia uma mancha de óleo nas imediações e ao deixar para verificar só no dia seguinte. A demora é inexplicável pois, na véspera da descoberta da mancha, a perfuração tinha apresentado um problema inesperado, e esse problema já era de conhecimento da empresa. Se a Chevron agisse diferente, um dia de derramento de óleo teria sido evitado.
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A avaliação é do chefe de segurança operacional da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Rafael Moura, que, nesta quarta-feira (30), participou na Câmara dos Deputados de mais uma audiência pública sobre o desastre ambiental protagonizado pela multinacional.
Depois da audiência, a reportagem perguntou a Moura sobre as explicações dadas pela Chevron na véspera, em depoimento no Senado, sobre como lidou com o vazamento nas primeiras horas após o aparecimento de uma mancha de óleo no mar.
Aos senadores, o superintendente de meio ambiente da Chevron, Luiz Pimenta, mostrou que, quando a mancha foi descoberta, em 8 de novembro, a empresa achou que era problema da Petrobras, primeira a avistar o óleo. A Chevron tivera uma situação inesperada na perfuração do poço no dia 7 mas só decidiu inspecioná-lo no dia 9. “Não sei se devia inspecionar no dia 7, mas no dia 8 com certeza”, disse Moura à Carta Maior.
A demora da Chevron para associar o problema com a perfuração ao vazamento configura despreparo ou incompetência. Caracterizá-la responde a uma das dúvidas mais importantes sobre o derramento, a ponto a de seu supervisor de meio ambiente, Luiz Pimenta, ter tentado, perante deputados, mudar a versão apresentada ao senadores, para camuflar a lentidão.
Aos senadores, Pimenta havia dito que, no dia 8, a Chevron participara da busca da origem da mancha “em apoio à Petrobras”, pois a mancha estava mais perto das instalações da Petrobras do que das suas próprias. Que no dia 8 manteve uma equipe de “stand by”. E que foi só no dia 9, depois da inspeção da sonda que constatou o vazamento, que a empresa “assumiu a resposta”.
Aos deputados, Pimenta disse coisa diferente. Que a equipe de segurança estava “de prontidão” desde o dia 9. E que a empresa “deu combate” à mancha “independentemente de saber de quem era”.
Kick: origem de tudo
Segundo Moura, já está claro que a origem do derramento foi o evento inesperado do dia 7, chamado tecnicamente de “kick” – um espalhamento de óleo durante uma perfuração. Falta saber ao certo porque o “kick” ocorreu.
Para a ANP, há fortes indícios de que foi por obra da empresa, não da natureza, como a Chevron diz. “Um kick não acontece sozinho. E a geologia da Bacia de Campos [local do derramento] já é conhecida há 40 anos”, afirmou Moura.
Em pelo menos duas ocasiões públicas, a Chevron usou a linha de defesa “ foi culpa da natureza”. Disse isso no dia 10, por meio de sua porta-voz no Brasil, Heloísa Marcondes, em pronunciamento à imprensa. E o reafirmou pela boca do presidente da empresa para América Latina e África, Ali Moshiri, em entrevista a jornalistas na segunda (28), após reunião no ministério de Minas e Energia.
Mas se a culpa é da natureza, que teria pregado uma peça com um “kick” inesperado, por que o presidente da empresa no Brasil, George Buck, dissera em audiência pública na Câmara dos Deputados que pediu “desculpas” ao povo brasileiro? E por que o superintendente de meio ambiente disse nesta quarta (30) que a empresa está “envergonhada”?
Uma primeira conclusão sobre as causas e responsabilidades pelo desastre deverá ser conhecida até o dia 16 de dezembro, quando a Polícia Federal (PF) deve concluir inquérito. A posição da ANP será manifestada até o dia 7 de fevereiro, dois meses depois de a Chevron encaminhar um relatório com sua versão dos acontecimentos.
Fonte: Correio do Brasil (André Barrocal)