Indústria brasileira deixa de ganhar esse valor devido à perda de clientes para chineses no mercado externo
XANGAI - A concorrência de produtores chineses tirou da indústria brasileira US$ 12,6 bilhões em exportações a seus três principais mercados, entre 2004 e 2009, segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que analisa os embarques para EUA, Argentina e União Europeia (UE). O levantamento mostra ainda que a disputa com a China também custou à indústria local US$ 14,4 bilhões em vendas internas.
Nos seis anos analisados, a China dobrou a participação nas vendas de bens industriais à UE, para 22%, enquanto a presença do Brasil passou de 1% para 1,2%. Nos EUA, a fatia chinesa passou de 11% para 25%, enquanto a brasileira caiu de 1,2% para 1%.
Segundo a Fiesp, a principal razão para a substituição de produtos brasileiros por chineses é o câmbio, que está desvalorizado na China e valorizado no Brasil. "Enquanto a taxa de câmbio chinesa permaneceu praticamente estagnada em patamar estimulante às exportações, o Brasil assistiu a permanente valorização de sua moeda", relata o estudo.
Com base em dados do instituto americano Peterson Institute for International Economics, as duas moedas estão em desequilíbrio, com o real valorizado em 16% e o yuan desvalorizado em 40%. Essa diferença torna os produtos chineses mais baratos em dólares e encarece os brasileiros, criando cenário hostil para a indústria nacional.
"A China vai ter de valorizar sua moeda em algum momento. Ela terá de ter câmbio flutuante para se integrar ao mundo de maneira competitiva e ser uma economia de mercado", disse o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, que participou na semana passada de reunião do Conselho Empresarial Brasil-China, em Xangai.
Pequim iniciou processo de valorização do câmbio em meados de 2005 e permitiu a valorização em 20% da moeda até junho de 2008, quando interrompeu o movimento em razão da crise financeira internacional. Desde então, o yuan é mantido no patamar de 6,83 por US$ 1.
Apesar da pressão internacional, a China deve manter o gradualismo na política cambial e permitir tímida valorização no segundo semestre, que os analistas estimam em 3%, distante dos 40% apontados pela Fiesp.
O mercado no qual o Brasil mais perdeu espaço para os chineses foi a UE, com prejuízos de US$ 6,2 bilhões de 2004 a 2009. Em seguida aparecem EUA, com US$ 5 bilhões, e Argentina, com US$ 1,4 bilhão.
No caso da UE, o que o Brasil deixou de exportar equivale a pouco mais de 3% dos embarques totais para a região no período. Proporcionalmente, as perdas para os EUA foram maiores e representaram 3,7% dos embarques para o país.
Ritmo alucinante
As perdas atingem desde setores de alta tecnologia aos que são intensivos em mão de obra, como calçados e têxteis. O segmento que mais sofreu foi o de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, com 17,1% dos US$ 12,6 bilhões. No mercado doméstico, 29% das perdas se concentraram no segmento de material eletrônico e de comunicação.
"As importações da China estão crescendo a um ritmo alucinante e setores da economia que poderiam estar crescendo sofrem com a concorrência desleal dos produtos beneficiados pelo câmbio", ressaltou Giannetti.
Segundo ele, o segmento de máquinas e equipamentos é um dos que mais sofrem diante da concorrência de produtos chineses que entram no País a "preços aviltantes". Giannetti afirmou que as empresas com projetos de siderurgia, energia e infraestrutura consideram em primeiro lugar a importação de máquinas e equipamentos chineses para as obras e plantas industriais. "Há dez anos, éramos nós que fornecíamos equipamento para a Hidrelétrica de Três Gargantas", lembrou, fazendo referência à gigantesca usina chinesa.
Enquanto a China abocanhou fatias cada vez maiores do comércio internacional para se transformar na maior potência exportadora do mundo em 2009, o Brasil teve expansão tímida de sua participação.
Em 2000, o país asiático aparecia em sétimo lugar no ranking dos maiores exportadores, com fatia de 3,9%. As vendas brasileiras representavam 0,9% e ocupavam a 28ª posição. Nove anos depois, a China estava em primeiro lugar, com 9,6% das exportações globais. O Brasil subiu para a 24ª posição, com fatia de 1,2%.
Fonte: O Estado de S. Paulo /Cláudia Trevisan
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