Uma das maiores estatais chinesas quer ampliar seu consumo de minério de ferro e de produtos de aço do Brasil. Novata em solo brasileiro, a Hangzhou Cogeneration Import and Export (Ciec), subsidiária do grupo Hangzhou Steam Turbine & Power Company, também busca contratos de fornecimento de produtos e serviços para projetos do pré-sal, da indústria naval e do setor ferroviário.
"Esperamos vender mais produtos do Brasil para a China e para o mundo. Não só minério de ferro, mas também semi-acabados", disse ao Valor o presidente mundial da Ciec, Jiang Yuan Qing, durante visita a Belo Horizonte esta semana.
Placas, tarugos (barras) e metais como silício, cobre e manganês são alguns dos itens que a empresa diz ter interesse. Nos primeiros seis meses de atuação no país, a trading comprou 40 mil toneladas em produtos de aço de siderúrgicas como CSN, Gerdau e Usiminas, entre outras. Mas ainda não fechou nenhum embarque de minério de ferro. A estatal, cuja filial brasileira começou a operar em maio em Belo Horizonte, está em busca de fornecedores da commodity no país.
Nas palavras de Daniel Reis, ex-diretor da ArcelorMittal e hoje presidente da Ciec no Brasil, a empresa chinesa quer ocupar um espaço que ainda pertence a grandes tradings ocidentais. "O que a Ciec quer é comprar direto dos fornecedores. Temos dinheiro e temos mercado. Para que pôr uma trading no meio?" A estatal, segundo seus executivos, está entre as dez maiores tradings da China.
Pequim possui 51% da Ciec e o restante está nas mãos de investidores privados. O grupo ao qual pertence é 100% estatal. E graças ao Estado dispõem de uma linha de crédito de US$ 3,5 bilhões. "Isso nos permite pagar os nossos fornecedores em 24 horas. Um dos problemas das trandings europeias é que elas dependem de tramitação mais lenta até que o pagamento chegue ao cliente final", disse Reis.
A expectativa de negócios da empresa (com suas seis subsidiárias pelo mundo) é, segundo Jiang, fechar o ano tendo importado 13 milhões de toneladas métricas de minério de ferro, carvão e gusa (dos quais 11 milhões só de minério) e mais 4 milhões de toneladas métricas de produtos de aço. Seus dois maiores fornecedores de minério são a Rio Tinto e a BHP Billiton, ambos na Austrália. Da Vale terão sido 1 milhão de toneladas - por intermédio de tradings.
Quanto às exportações de produtos de aço este ano, a previsão de Jiang é que a empresa chegue a 1,2 milhão de toneladas métricas. Os destinos principais são países asiáticos entre eles Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia e Índia. EUA e Europa representam atualmente mercados menores para a empresa. Outros 2,8 milhões de toneladas deverão abastecer até o fim do ano somente o mercado chinês.
Mesmo com uma desaceleração da atividade econômica prevista para ocorrer na China e em grande parte das economias pelo mundo no ano que vem, Jiang não acredita na retração da demanda por minério de ferro e produtos de aço. "Nossas vendas devem se manter no nível deste ano", disse. "A economia da China está em bom estado até agora. O Produto Interno Bruto, segundo algumas estimativas, deve crescer 9,2% este ano e 9% em 2012."
Muitas empresas chinesas que exportam produtos de aço ainda não se recuperaram da crise de 2008. As exportações este ano devem ficar em 40 milhões de toneladas métricas, ante os 80 milhões de 2007. Mas Jiang vê um movimento que poderá ajudar a demanda. "A China está fazendo um grande ajuste de seu setor industrial e isso continuará no próximo ano com o objetivo de melhorar o parque. Algumas empresas vão desaparecer, mas outras vão crescer."
De acordo com o executivo, a escolha do Brasil como sede de uma das subsidiárias (as outras são em Hong Kong, Singapura, Coreia, Dubai e Vietnã) tem o propósito de, além de facilitar a compra de matéria-prima e semi-acabados do país, abrir mercados para produtos e serviços chineses. "Queremos promover os serviços e produtos do grupo [ao qual pertencem], como máquinas, turbinas a vapor e construção naval", disse o executivo. "Nossa companhia pode ser parceira na área de fornecimento de alguma empresa no setor do pré-sal, por exemplo", continuou ele. "Queremos reforçar a venda de produtos de aço no Brasil."
A empresa olha possíveis oportunidades de negócios para seus serviços e produtos envolvendo estaleiros, plataformas e linhas férreas, acrescentou depois o executivo brasileiro da empresa.
A Ciec faturou US$ 5,5 bilhões no ano passado. O grupo ao qual pertence, e que tem ao todo 18 subsidiárias, faturou US$ 9 bilhões. Jiang veio ao Brasil em uma comitiva organizada pelo banco chinês Citic e o espanhol BBVA - viagem que incluiu uma parada no México.
Fonte: Valor Econômico/Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
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