O Brasil e a China estão entrando em uma batalha pela necessidade estratégica de cobre da África, cujo ganhador sairá da briga com a aquisição mais cara de uma companhia de mineração diversificada.
O Jinchuan Group, maior produtor de níquel na China, está avaliando uma oferta pela Metorex , que tem sede em Johanesburgo, disseram ontem duas pessoas familiarizadas com o negócio. A Metorex é negociada a 6,1% acima do preço proposto pela Vale, de 7,35 rands sul-africanos por ação, o maior prêmio para negócios em discussão na África. Isso faz com que a operação tenha maior probabilidade de conseguir um preço maior, segundo dados compilados pela Bloomberg.
A Vale, maior produtora mundial de minério de ferro, e o Jinchuan estão interessados nas minas de cobre e cobalto da Metorex na República Democrática do Congo e na Zâmbia, após a demanda da China pelo cobre utilizado em construções e equipamentos eletrônicos ter puxado os preços do metal para um nível recorde neste ano. A oferta da Vale, de 7,9 bilhões de rands (US$ 1,1 bilhão), já dá à Metorex um valor equivalente a 30,2 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da companhia, a maior relação entre as aquisições no setor de mineração diversificada de mais de US$ 1 bilhão, segundo dados da Bloomberg. A oferta pode chegar a 10 rands por ação, disse a First Asset Investment Management Inc.
"Os brasileiros e os chineses têm um grande apetite por mineração", disse Andrew Ross, sócio e operador global de renda variável na First New York, empresa de investimentos com sede em Nova York. "Eles se veem em concorrência direta por esses recursos naturais estratégicos", completou o especialista. A assessoria de imprensa da Vale disse que a empresa não comentaria o negócio. Jaques de Bie, porta-voz da Metorex, fez referência ao comunicado da empresa divulgado em 17 de junho, que revelou o interesse "não solicitado" de outra parte. "Não é uma proposta ou uma oferta firme ou uma intenção firme de fazer uma oferta", disse de Bie. "É somente uma expressão de interesse neste momento". Segundo fonte próxima ao assunto, o Jinchuan não tomou uma decisão quanto a uma proposta, pois ainda é muito cedo pra isso. Wang Wanshou, representante do Jinchuan, disse ontem que não tinha nenhuma informação sobre o negócio.
Murilo Ferreira, presidente da Vale afirmou que a empresa precisa aumentar a produção de cobre
A Metorex é dona da mina aberta de cobre e cobalto de Ruashi, na província de Katanga no Congo, além da mina subterrânea Chibuluma, na Zâmbia. A empresa tem reservas de cobre estimadas em 4,74 milhões de toneladas, que incluem 1,8 milhão de toneladas no projeto Lubembe no Congo, disse a companhia em abril. "Bons ativos de cobre são difíceis de encontrar e ativos de cobre da Zâmbia são valorizados", disse John Stephenson, que ajuda a administrar US$ 2,8 bilhões na First Asset Investment em Toronto. "Tanto a Vale quanto o Jinchuan podem aproveitar a exposição ao cobre e isso seria um grande benefício para as duas", completou.
A Vale está tentando aumentar a produção de cobre em quase cinco vezes para 1 milhão de toneladas até 2015. A empresa, cuja produção de minério de ferro respondeu por 75% da receita no ano passado, cortou esta semana a projeção para a produção da matéria-prima em 10%.
A empresa brasileira já tem presença na Zâmbia por meio da Konnoco, uma parceria com a sul africana Rainbow Minerals. O presidente, Murilo Ferreira, disse a investidores em maio que a companhia precisa acelerar estudos para aumentar a produção de cobre. "A Vale não tem sido bem sucedida na montagem de um negócio de cobre com seus ativos no Brasil", disse Anthony Rizzuto, analista da Dahlman Rose & Co em Nova York. "Estamos falando de uma empresa que precisa pagar para conseguir expandir esse negócio, que eles consideram muito estratégico por natureza".
A proposta da Vale, equivalente a 30,2 vezes o Ebitda dos últimos 12 meses, é três vezes maior que o valor mais alto já pago no setor de mineração em uma aquisição de mais de US$ 1 bilhão, segundo dados da Bloomberg. O recorde anterior foi a compra da Jubilee Mines pela Xstrata, por US$ 2,5 bilhões, ou 10,1 vezes o Ebitda, em 2007.
O principal acionista da Metorex, o Industrial Development, disse que é "prematuro" discutir outras propostas. O IDC, banco estatal da África do Sul, apoiou a oferta da Vale em maio. "Não temos uma posição sobre uma nova oferta já que nenhuma nova oferta foi apresentada até agora", disse Mbuyazwe Magagula, novo diretor da área de mineração do IDC, em entrevista ontem.
Os acionistas votam a proposta da Vale em 22 de julho. O acordo com a Metorex permite que outros possíveis compradores tenham acesso às mesmas informações financeiras apresentadas à Vale, o que deixa a porta aberta para outras propostas.
Vale e Jinchuan estão interessadas nas minas de cobre e cobalto da Metorex no Congo e na Zâmbia
O presidente do conselho do Jinchuan, Yang Zhiqiang, disse em entrevista, em 7 de março, que a empresa, que não tem ações em bolsa, está em busca de participações em mineradoras de outros países. A empresa, com sede na província chinesa de Gansu, produziu 400 mil toneladas de cobre, 130 mil toneladas de níquel e 6 mil toneladas de cobalto no ano passado.
"Cobre e cobalto estão em forte demanda na China", disse Bernard Horn Jr., presidente da Polaris Capital Management LLC, de Boston, que administra mais de US$ 4 bilhões em ativos, incluindo mais de 25 milhões de ações da Metorex. "Então certamente não me surpreende que alguns compradores chineses estejam potencialmente interessados nisso". A China ajudou na reconstrução do Congo há três anos para ter acesso ao cobre e ao cobalto. O Congo tem um terço do cobalto mundial, que é usado em implantes médicos e baterias recarregáveis.
O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, disse em fevereiro que o país, maior usuário mundial de cobre, tem planos de construir 36 milhões de moradias para a população de baixa renda nos próximos cinco anos. "A demanda por cobre vai continuar a crescer", disse Rizzutto, da Dahlman Rose. "O cobre é um alicerce do desenvolvimento da infraestrutura". "A ação tem sido negociada acima do valor da oferta, então há alguns investidores por aí que estão muito convencidos de que vai haver uma oferta melhor", disse Stephen Meintjes, chefe de pesquisa da Imara SP Reid, em Johanesburgo.
Uma proposta concorrente ficaria em 8 rands por ação, ou 8,8% acima da oferta atual, disse ele. Uma "proposta arrasadora" pode ficar perto de 9 rands, disse Meintjes. Stephenson, da First Asset Investment, estima que a proposta vencedora pode chegar a 10 rands por ação, o que representaria 38 vezes o Ebitda, segundo dados da Bloomberg. O negócio não é caro, levando em conta os lucros futuros de três projetos de mineração o Congo que ainda não começaram a operar, disse Meintjes.
Fonte:Valor Econômico/Tara Lachapelle e Rita Nazareth | Bloomberg
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