O arroz, que já teve uma redução de área no plantio devido aos preços pouco remuneradores aos produtores, está sendo afetado por enchentes em áreas do Rio Grande do Sul, principal produtor nacional. A quebra de safra pode ser maior do que a prevista.
Já o feijão, que também não remunerou bem o produtor em 2018 e teve queda de área no plantio, está sendo afetado pela instabilidade do clima atual.
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“Chuvas torrenciais e calor extremo afetam a produção e a qualidade do produto”, diz o analista Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting de Curitiba.
Essa instabilidade de safra vai chegar ao bolso do consumidor e à inflação.
Segundo Brandalizze, o arroz já sofreu as consequências de um período de nebulosidade no mês passado, o que diminui a produtividade do cereal. Neste mês, algumas regiões estão sob água, o que também deve prejudicar a qualidade das lavouras que já estão com cachos em formação.
A Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul) tem a avaliação de que as enchentes vão gerar perdas significativas para a cultura no estado.
A área a ser colhida deverá ficar abaixo de 990 mil hectares, e a produtividade cai para 7,4 toneladas por hectare. O resultado será uma safra de 7,3 milhões de toneladas no estado, inferior aos 8,2 milhões do ano anterior.
Se esses dados se confirmarem, a Federarroz estima uma safra de apenas 10,5 milhões de toneladas no país. O consumo previsto pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) é de 11,7 milhões.
Os países do Mercosul tradicionalmente são fornecedores de arroz para o Brasil, mas também estão sendo afetados pelo clima. Essa necessidade de importação vai ocorrer em um momento de alta nos preços internacionais, principalmente nos da Ásia, segundo Brandalizze.
A queda na área de plantio, tanto do arroz como do feijão, se deve a uma perda de remuneração dos produtores nos anos recentes. Mesmo que os preços atuais do arroz subam R$ 10 por saca e superem os R$ 50, eles ainda ficarão próximos dos custos de produção, que é de R$ 47 por saca, segundo a Federarroz.
O feijão-carioquinha de melhor qualidade, que está sendo negociado entre R$ 200 e R$ 220 por saca, tem alta de 100% em relação aos valores de há um ano. Essa alta, porém, apenas repõe os valores normais da leguminosa, segundo o analista da Brandalizze. Em períodos de crise de abastecimento, a saca já chegou a R$ 600 por saca, diz ele.
Conforme dados divulgados na semana passada pela Conab, o consumo nacional de feijão deverá atingir 3,1 milhões de toneladas nesta safra. Brandalizze diz que a primeira e a segunda safras já apresentaram problemas. Dependendo dos preços, a área de plantio da terceira poderá crescer, elevando a oferta. A colheita, porém, só ocorrerá na metade do ano.
No caso do arroz, os estoques finais de safra previstos pela Conab ficam abaixo de 400 mil toneladas, um volume bem inferior à média dos últimos sete anos, que foi de 1 milhão de toneladas.
Os dados mais recentes do órgão estimam safra nacional de 11,2 milhões de toneladas e suprimento total (incluindo produção, estoques iniciais e importações) de 13,1 milhões.
RECEITAS COM SOJA PODERÃO CAIR PELA PRIMEIRA VEZ EM OITO ANOS
Após oito anos de altas consecutivas, o VBP (Valor Bruto de Produção) da soja deverá cair em 2019. É o que prevê José Gasques, do Ministério da Agricultura, em estudo sobre o comportamento dos principais produtos agrícolas e agropecuários do país.
O valor bruto da soja deverá recuar para R$ 139 bilhões nesta safra, 2,2% abaixo do registrado em 2018. Além de uma quebra de safra em relação ao volume do ano passado, os preços de 2019 poderão ficar em patamares menores, dependendo da oferta mundial e dos rumos da guerra comercial entre EUA e China.
O algodão, um produto que ganhou força nas safras recentes, também terá uma valor de produção menor. Na avaliação do ministério, o valor recuará para R$ 34 bilhões, 1% menos do que o anterior. Em 2016, contudo, o VBP do algodão era de apenas R$ 14 bilhões.
A cana de açúcar também terá uma receita menor, mas o milho apresentará ganho de 14% no ano, atingindo R$ 53 bilhões.
O VBP da agricultura, incluindo 17 produtos, somará R$ 381 bilhões, com queda de 1%. Já o da pecuária sobe para R$ 200 bilhões, 2% mais do que no ano anterior. Segundo o Ministério da Agricultura, o valor total da produção brasileira será de R$ 582 bilhões em 2019.
VENDA DE ETANOL É RECORDE NA REGIÃO CENTRO-SUL
A comercialização de álcool somou 1,79 bilhão de litros em dezembro na região centro-sul, 25% mais do que em igual período anterior.
Para a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), os preços favoráveis do derivado de cana impulsionaram as vendas. O valor médio atual do etanol no país corresponde a 65% do da gasolina. Dependendo dos modelos de carro, a utilização do álcool é favorável até uma paridade de 73%.
Desde o início da safra, em abril passado, as vendas de etanol já somam 23,1 bilhões de litros no centro-sul. Desse volume, 16,2 bilhões foram de etanol hidratado.
Fonte: Folha SP