A normalização do calendário de plantio das lavouras de verão, após o atraso ocorrido em 2021, deverá trazer para níveis habituais também os preços dos fretes rodoviários. Segundo levantamento feito pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (EsalqLog) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, nos meses de janeiro ou fevereiro, algumas rotas podem ter preços 50% mais altos na comparação anual, mas dificilmente atingirão os patamares recorde de março deste ano.
De acordo com o pesquisador Fernando Bastiani, os valores devem se aproximar dos praticados em 2019. Naquele ano, o mercado de transportes foi marcado por discussões e incertezas em virtude de um julgamento sobre a tabela de preços mínimos que não ocorreu no Supremo Tribunal Federal (STF).
PUBLICIDADE
“No ano passado, com o atraso no plantio de soja, houve uma forte concentração de colheita em março e, com isso, os grãos disputaram mercado com o açúcar. Em 2022, o pico deverá ser em fevereiro”, afirma o pesquisador. O fluxo do escoamento da safra vai se distribuir ao longo do tempo em momentos diferentes em cada região. “Haverá colheita no fim de dezembro em alguns pontos de Mato Grosso e, no Sul do país, ela deverá se estender até abril”, completa.
A safra recorde de soja e a recuperação da safra de milho verão são outros dois elementos de sustentação dos preços do frete. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que país colherá 142,8 milhões de toneladas de soja em 2021/22, volume 4% maior que o de 2020/21. No caso da primeira safra de milho, o aumento previsto é de 17,6%, para 29 milhões de toneladas.
Segundo o levantamento da EsalqLog, o preço do frete na rota entre Sorriso (MT) e o porto fluvial de Miritituba, em Itaituba (PA), deverá aumentar 53,7% no mês que vem em comparação com janeiro deste ano, passando de R$ 133,75 a tonelada por quilômetro rodado para R$ 205,57, em média. O pico deverá ocorrer em fevereiro, quando chegará a uma média de R$ 232,23 a tonelada, ou 11,3% a mais que em fevereiro de 2021 — e ainda abaixo do ápice de março deste ano, de R$ 248,75 a tonelada.
Nas rotas do Sul do país, como a que liga Cascavel ao porto de Paranaguá, no Paraná, o preço médio estimado para janeiro de 2022 é de R$ 96,52 a tonelada, valor 48,5% superior à média de R$ 65 de janeiro deste ano. Para fevereiro, a previsão é de aumento de 30,9%, a R$ 134,68, e, para março, o custo médio estimado é de R$ 142,22, abaixo do recorde do ano passado, de R$ 193,86.
Apesar de não chegarem aos níveis observados no ano passado, os valores médios previstos para o frete de grãos ultrapassam as indicações da tabela mínima de frete rodoviário. A EsalqLog/USP foi a entidade que elaborou a tabela de referência a pedido da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Na média, os valores também são remuneradores para os caminhoneiro, afirma o Bastiani. A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) informa que o custo médio para o segmento aumentou 28% no primeiro semestre de 2021 (a entidade não divulgou os dados depois de julho). O diesel, por exemplo, subiu 28% nesses seis meses, mas também aumentaram os custos de itens como pneus (30%) e mão de obra (8%) — sem falar nos preços dos caminhões, que subiram até 50%, a depender do modelo.
Para o segundo semestre, Bastiani calcula um pico de preços entre julho e agosto em razão do adiantamento da safra de soja, que deve permitir a antecipação do plantio do milho safrinha. “Com a previsão de safra recorde de milho, se tudo der certo, os preços do frete estarão muito altos no começo do segundo semestre, com algumas regiões registrando seu recorde do ano”, diz.
A Conab estima que a segunda safra de milho será de 86,3 milhões de toneladas, uma alta de 42% em relação à temporada 2020/21, que quebrou quase devido à seca.
Para o mercado de fertilizantes, conhecido como frete de retorno, a tendência, avalia a EsalqLog, é de leves correções nos preços em julho e agosto, quando os produtores compram insumos para a próxima safra de verão.
Fonte: Valor