A indústria brasileira se esforça para reduzir s emissões de CO2, quer dar publicidade às ações já implementadas e pretende criar um espaço próprio nos fóruns internacionais que debatem a adoção de medidas para mitigar as emissões dos gases de efeito estufa. A proposta será apresentada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em Cancún, no México, onde começa hoje a 16ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas - a CoP-16.
O documento "CoP-16: as Contribuições da Indústria Brasileira", aprovado pela direção da entidade industrial, e obtido pelo Valor, apresenta, logo no primeiro parágrafo, seu propósito: "Os processos industriais são responsáveis por apenas 4% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil".
A ideia - apoiada em números levantados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, e que serão apresentados em Cancún - é tirar a indústria do foco principal de ações de combate ao aquecimento global. Ainda assim, diz Heloísa Menezes, diretora da CNI que fará parte da delegação que está no México, "o setor industrial já faz há tempos controle de emissões, então é preciso ir além".
A missão de Heloísa será dar publicidade às iniciativas já desenvolvidas por companhias que reduziram seu consumo de energia, alteraram seus insumos para fontes renováveis ou contam com sistema próprio de coleta e reciclagem. "Exemplos não faltam, nosso papel é aproveitar o estande que o governo brasileiro vai montar para agrupar todos esses casos". Mais que isso, o Valor apurou que a CNI espera aproveitar a proximidade com integrantes do governo, no México, para pleitear benefícios fiscais e financeiros aos industriais que adotam ações de combate ao aquecimento global.
Para que as empresas possam receber incentivos fiscais ou condições mais generosas de acesso à recursos, as medidas já colocadas em prática seriam, de acordo com proposta da entidade, agrupadas em blocos, de acordo com os efeitos gerados por elas.
A posição da CNI, exposta no documento, é ambiciosa, uma vez que descreve como "fundamental" o estabelecimento de um espaço formal para o setor privado no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática.
"Tendo em vista o papel central cumprido pelo setor privado na implementação de políticas de combate à mudança do clima, torna-se necessária a criação um ambiente formal para discussões técnicas ligado ao processo negociador e a eventuais órgãos executivos dos mecanismos de financiamento e de transferência de tecnologia que deverão ser criados", diz o documento.
Para Heloísa, as discussões não podem "ficar só com os governos", uma vez que "é o setor privado, indústria à frente, quem implementa as mudanças acordadas pelos governantes". "Por que, então, não participamos diretamente das discussões?", pergunta.
No México, além da CNI, estão também representantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de empresas do setor elétrico, da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Fonte: Valor Econômico/João Villaverde | De São Paulo
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