Com uma dívida de R$ 11,96 bilhões, a Atvos, braço sucroalcooleiro do grupo Odebrecht, entrou nesta quarta-feira (29) com um pedido de recuperação judicial. O pleito foi protocolado na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo e aprovado pelo juiz João de Oliveira Rodrigues Filho.
A derrocada da companhia é um revés importante para o grupo Odebrecht e para os bancos, principalmente os públicos. O BNDES é o maior credor, com R$ 4,1 bilhões a receber. Em seguida vem Banco do Brasil, com R$ 3,8 bilhões, a Caixa Econômica Federal, com R$ 530 milhões, o Itaú, com R$ 390 milhões, e o Bradesco, com R$ 260 milhões.
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Com o aval da Justiça, a companhia deverá apresentar um plano de recuperação dentro de 60 dias. Conforme apurou a reportagem, é bem provável que o plano implique numa perda expressiva para os credores, porque sua estrutura de capital não comporta mais que R$ 5 bilhões em dívida.
No pedido de recuperação judicial, ao qual a reportagem teve acesso, a Atvos relata que vinha negociando uma "saída amigável" com os bancos, quando foi surpreendida por um "ataque específico e desgarrado" de um dos credores.
Segundo próximas ao processo, trata-se do fundo americano LoneStar, com o qual a companhia possui uma dívida de R$ 1,1 bilhão. Os americanos arrestaram na Justiça parte da receita com a venda de etanol, o que asfixiou financeiramente a empresa. Com a recuperação judicial, vão parar de receber o dinheiro.
Em nota à imprensa, a Atvos informou que "entrou com o pedido de recuperação judicial para preservar suas operações, garantir o equilíbrio financeiro e reforçar o seu compromisso com os mais de 10 mil empregados". A empresa está sendo assessorada pelo escritório E. Munhoz Advogados e pela RK Partners.
O presidente Odebrecht S.A, Luciano Guidolin, também enviou comunicado aos funcionários a fim de tentar isolar o restante do grupo da crise. "O pedido da Atvos restringe-se a ela própria e não envolve a Odebrecht S.A, nem outras empresas", disse.
Mas o fato é que o todo o grupo enfrenta uma situação financeira delicada. A construtora OEC está renegociando diretamente com os detentores de bônus no exterior uma dívida de US$ 3 bilhões (R$ 12 bilhões). As conversas não vem sendo fáceis.
A OR, do ramo imobiliário, passa por dificuldades e está na mesa a possibilidade de também pedir uma trégua à Justiça. O estaleiro Enseada entrou em recuperação extra-judicial, mas seus negócios não vão bem. Apenas a Ocyan, de petróleo e gás, equacionou satisfatoriamente suas dívidas, enquanto a petroquímica Braskem vai bem.
A Atvos -ainda com o nome de Odebrecht Agroindustrial- iniciou suas atividades em meados de 2007, no auge do poder político e dos negócios da família Odebrecht, que entrou em diferentes ramos e se endividou significativamente. Hoje a companhia tem nove usinas de açúcar e álcool em São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e capacidade para produzir 700 mil toneladas de açúcar e 3 bilhões de litros de álcool combustível. É a segunda maior produtora de etanol do país.
A empresa entrou em dificuldades pela primeira vez em 2016, após a prisão do herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht, por corromper políticos e funcionários públicos. Também agravou o problema a situação do setor de açúcar e álcool, que sofria com o congelamento do preço da gasolina pela Petrobras, tornando o etanol pouco rentável.
Na época, a então Odebrecht Agroindustrial promoveu uma primeira reestruturação de sua dívida, transferindo cerca de R$ 2 bilhões de débitos para sua holding e oferecendo em garantia ações da Braskem, até hoje a empresa mais saudável do conglomerado. Itaú e Bradesco aproveitaram a operação e passaram boa parte de suas créditos para a holding e, por isso, estão menos expostos hoje à recuperação judicial da companhia do que as instituições públicas. A condição, no entanto, foi emprestar mais R$ 1 bilhão à família Odebrecht para injetar em outros negócios.
Já naquela época especialistas em reestruturação de empresas diziam que a melhor saída para a empresa de açúcar e álcool era a recuperação judicial, mas os Odebrecht resistiram, com receio de perder o crédito nos bancos e de que a crise engolfasse todo o grupo. A empresa então mudou de nome para Atvos. Os problemas, contudo, persistiram conforme o previsto. No pedido de recuperação judicial, a companhia informa que perdeu R$ 1,2 bilhão de receita com a greve dos caminhoneiros e que sofreu com problemas climáticos na safra de cana de 2018 e 2019. Sua principal dificuldade, contudo, é o endividamento excessivo.
Fonte: JB