Com dificuldade para exportar café por causa do frete marítimo, exportadores têm recorrido a outro meio de transporte, bem mais caro: o avião. Embora continue sendo uma via de exportação pontual e represente uma parcela pequena do total embarcado, a modalidade mais do que dobrou em 2021, ante 2020. De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), 0,07% dos contêineres exportados este ano foram por via aérea, ante 0,03% no ano passado e 0,05% em 2019.
O movimento ocorre principalmente com as variedades mais caras. Para o café solúvel, os embarques aéreos cresceram 150,6% entre janeiro e agosto de 2020 e o mesmo período de 2021 – embora o volume exportado por aviões também não chegue a 1% do total.
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O diretor Comercial do Café Labareda, Gabriel Afonso Lancha Alves de Oliveira, afirmou ao Broadcast Agro que precisou enviar uma carga de 300 sacas de 30 kg de cafés especiais para o Reino Unido de avião. “O cliente ficou cerca de quatro meses sem receber café por causa de atrasos na logística, e o contrato era de envios mensais”, afirmou. “Não conseguimos vagas em navios há três meses, e como o cliente não pode ficar sem café, foi preciso encontrar uma maneira de enviar.”
Segundo ele, o embarque por navio custaria US$ 0,15/kg; enquanto por avião, ficou em US$ 1,30/kg – diferença de 767%. Nesse caso, o custo extra ficou com o comprador, já que o contrato acertado entre as partes era do tipo Free on Board (FOB), portanto a responsabilidade do vendedor só vai até o despacho da mercadoria.
O Cecafé estima que entre maio e agosto de 2021, os entraves logísticos no transporte marítimo impediram que o Brasil exportasse cerca de 3,5 milhões de sacas de 60 kg de café, o que equivaleria a aproximadamente US$ 500 milhões. De acordo com a entidade, nos dois primeiros meses do atual ano-safra (julho e agosto), o volume de café exportado pelo Brasil caiu 18,7%, para 5,54 milhões de sacas de 60 kg, principalmente por causa dos gargalos logísticos – embora a receita tenha avançado em 2,8% no período, para US$ 831,7 milhões.
Demanda por navios
Os problemas com o frete marítimo vêm do aumento na demanda por navios com o avanço da vacinação contra a covid-19 e a reabertura de algumas das principais economias globais, como a dos Estados Unidos e as de países europeus. A reabertura faz com que haja maior demanda por bens e alimentos nessas nações.
O diretor geral do Cecafé, Marcos Matos, disse que o transporte aéreo é pontual – nunca passou de 0,1% do total de café embarcado pelo País. “Vamos trabalhar sempre na diversificação de modais”, disse ele, destacando medidas do Ministério da Infraestrutura como o marco ferroviário, em discussão no Congresso, e a BR do Mar. Ele destacou também que o aumento nos embarques aéreos vale principalmente para produtos de maior valor agregado, como o solúvel, e não para o café verde, que representa a maior parte das exportações brasileiras.
De acordo com o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Aguinaldo Lima, os embarques por transporte aéreo vêm aumentando desde março. “Sempre houve um pequeno volume de produtos de maior valor agregado transportado por via aérea, e às vezes alguns atrasos de embarque obrigam o uso como último recurso. Mas agora está virando quase uma constante”, disse ele. “Precisa acontecer para cumprir determinados contratos, mas não é uma tendência, e sim necessidade.”
O setor busca estimar quanto tempo ainda deve durar as dificuldades com frete marítimo. Na avaliação do Cecafé, a situação só deve ser superada a partir do segundo semestre do ano que vem. Lima, da Abics, afirma que “as expectativas não são muito boas. Algumas projeções dizem que estará resolvido no primeiro trimestre de 2022, outras, só no segundo semestre. Não se sabe.”
Fonte: Estadão