Brasília - As incertezas econômicas nos Estados Unidos foram insuficientes para impedir que o país se tornasse, em novembro, o mercado com maior crescimento de compras de produtos brasileiros entre os principais parceiros comerciais do Brasil. Puxadas principalmente por commodities como petróleo, produtos semimanufaturados de ferro e aço, café e suco de laranja, as exportações brasileiras aos EUA cresceram 73,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, bem acima do aumento de quase 55% nas vendas à China.
Enquanto o resultado das exportações caiu no mês passado em relação a outubro para União Europeia, China e Argentina, como é habitual nesta época do ano, as vendas subiram mais de 30% para os EUA também sob essa base de comparação. Em pelo menos dois dos principais casos de aumento, os investimentos de companhias brasileiras nos EUA ou em associação com empresa estrangeira tiveram papel essencial: as vendas da Petrobras aos EUA e as exportações de placas de aço da Companhia Siderúrgica Atlântico (CSA) foram destaque.
"O petróleo chama a atenção, já representa mais de 20% do que exportamos aos Estados Unidos", confirmou a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres. "Entre janeiro e novembro, as vendas de petróleo aumentaram cerca de 20% em quantidade e 41% em preços."
As vendas de placas de aço da usina da CSA, sociedade da ThyssenKrupp com a Vale, a partir de sua usina na zona Oeste do Rio de Janeiro, foram o principal impulso que provocou um aumento de 435% nas exportações desse tipo de produto ao mercado americano, um aumento de quase US$ 1,3 bilhão nas vendas em novembro, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Esse aumento fez com que a mercadoria passasse de 13º lugar entre os principais produtos de exportação aos Estados Unidos para o terceiro lugar.
Os aumentos de vendas de produtos como o aço e o suco de laranja (62% a mais) garantiram a predominância dos bens industrializados na pauta de vendas aos EUA, mas os produtos básicos ganham cada vez mais espaço nas exportações ao país. Os chamados bens primários não chegavam a 30% entre janeiro e novembro do ano passado. Neste ano, já representam um terço do total das vendas ao mercado americano. Um dos responsáveis pela relativa primarização da pauta de vendas aos americanos é o café, que tem compensado a pequena redução na quantidade vendida - fenômeno sazonal, devido ao ciclo de safras do grão - com forte aumento de preços em relação ao ano passado.
Os preços do café exportado, segundo o Ministério do Desenvolvimento, mantiveram-se estabilizados entre outubro e novembro, quando, porém, chegaram a um nível quase 45% superior ao de novembro de 2010. Entre janeiro e novembro, as vendas de café aos EUA aumentaram quase 72%, desempenho que, segundo avaliou o diretor-geral do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Guilherme Braga, é um reflexo do bom momento que vive a exportação da commodity no mundo, com manutenção do consumo apesar da crise.
"O aumento das vendas aos Estados Unidos se explica principalmente pelas commodities, e em função dos preços", comentou o vice-presidente da Associação dos Exportadores do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Os analistas não veem nos bons números da balança comercial com os Estados Unidos uma tendência identificável que permita fazer previsões seguras sobre o futuro das exportações ao país.
Em alguns casos, uma empresa ou um negócio específico gerou, nos últimos 11 meses, fortes aumentos, como foi o caso das vendas de álcool etílico, de pouco mais de US$ 470 milhões, o triplo do alcançado no mesmo período do ano passado. As vendas de uma empresa que usa o álcool como componente de produtos destinados ao mercado japonês explicam esse resultado, segundo técnicos do ministério.
"É incrível como situações específicas, pontuais, podem ter reflexo importante na pauta", reconheceu Tatiana Prazeres. Ela notou que algumas manufaturas mais sofisticadas também tiveram bom desempenho, como as máquinas e equipamentos para terraplanagem e outras atividades, 11º item das exportações aos americanos, que dobraram entre janeiro e novembro. A estratégia de uma multinacional americana no comércio entre suas filiais está por trás desse aumento.
Na primeira semana deste mês, com apenas dois dias úteis, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 319 milhões, resultado de exportações de US 1,785 bilhão e importações de US$ 1,466 bilhão. No ano, a balança tem superávit de US$ 26,293 bilhões, com exportações de US$ 235,697 bilhões e importações de US$ 209,404 bilhões, e média por dia útil de superávit de US$ 113,8 milhões.
Fonte: Valor Econômico / Sergio Leo
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