O gigantesco projeto de produção de alumínio primário da multinacional anglo-australiana Rio Tinto no Paraguai começa a ser negociado com o novo governo do país e já se volta para o mercado brasileiro.
Segundo informou ao Valor o governo paraguaio, o presidente Federico Franco autorizou o início das negociações com a empresa. Essa nova etapa do projeto começa com a constituição de um time do governo e um da empresa para as discussões e deve durar oito meses. "O governo quer estabelecer que no mínimo 40% do alumínio processado pela Rio Tinto no complexo seja transformado no Paraguai", afirma Diego Zavala, vice-ministro de Comércio do Paraguai. Outros pontos importantes que o governo vai colocar na mesa de negociações envolvem o fornecimento de energia - os preços e condições -, os impactos ambientais, as formas de tributação e as garantias para os investimentos da empresa.
O projeto da Rio Tinto está desenhado para ter capacidade de produção de 674 mil toneladas de alumínio primário por ano. Deverão ser investidos US$ 3,5 bilhões para a construção da unidade de fundição. Ao se considerar os desembolsos necessários à infraestrutura do parque industrial, os recursos podem ultrapassar os US$ 4 bilhões, segundo o governo paraguaio.
O ponto-chave para a Rio Tinto é a garantia de fornecimento e de preços competitivos da energia, o insumo de maior peso no setor de alumínio primário, podendo representar até um terço dos custos.
Como a questão será levantada e definida durante essa etapa de negociações, Zavala não informa como está equacionado o fornecimento de energia para o parque industrial. E nega os rumores de que o governo planeja subsídios. "Não recebemos nenhuma instrução do governo para estudar qualquer tipo de subsídio de energia. Devemos incentivar com regime tributário", afirma.
A estratégia do governo é atrair empresas que possam utilizar o excedente de energia do país. E o Brasil está no centro desses planos. O projeto inclui a atração de transformadoras do metal brasileiras para se instalarem no entorno da unidade da Rio Tinto e, assim, criar um polo de fabricação de itens como cabos e fios, componentes e peças fundidas e embalagens, entre outros produtos. "O objetivo é ser um bom parceiro do Brasil. São diversos empresários que querem produzir transformados, mas a oferta de alumínio no Brasil estagnou", explica Zavala.
Com um prazo previsto para ser concluído - no melhor dos casos - em três ou quatro anos, o mercado fica agora atento à real viabilidade do projeto. No Paraguai falta alumina, matéria-prima para a produção do alumínio. O país carece ainda de insumos como o coque e os combustíveis para alimentação da unidade. Desse modo, a Rio Tinto vai comprar alumina do mercado. Isso faz com que a logística seja um dos maiores desafios do plano de custos da multinacional: é essencial que o parque seja instalado próximo a portos e a navegabilidade dos rios Paraná-Paraguai será indispensável.
Além disso, o Paraguai não tem mercado para o processamento do alumínio, tampouco mercado consumidor. Por isso depende mesmo da atração de empresas transformadoras de fora.
Segundo Zavala, o governo de Federico Franco está focado para resolver essas questões. "Há maior dinamismo agora. O governo leva a sério esse projeto", pondera. Apesar da saída do presidente Fernando Lugo, o ministro de Indústria e Comércio paraguaio, Francisco Rivas, continuou no posto. O grupo de trabalho relacionado ao projeto da Rio Tinto se manteve praticamente o mesmo, segundo Zavala. Ele subiu de cargo: antes prestava serviços ao governo, era assessor do ministro. Agora, Zavala está no posto de vice-ministro.
Autoridades já sugeriram que a mudança de governo no Paraguai teria envolvido interesses de grandes empresas no país, que tiveram negócios prejudicados pelo antigo comando. Segundo Zavala, não há diferenças entre o antigo e o atual governo na orientação para o projeto. "Ambos mostraram interesse e quiseram negociar", diz.
Fonte: Valor / Vanessa Dezem
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