O ciclo dinâmico da economia brasileira, especialmente do setor petróleo, e a vizinhança do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) criaram um novo polo de atração de indústrias no município de São Gonçalo, região metropolitana da capital fluminense. Em uma área deteriorada do bairro de Guaxindiba, à margem da rodovia BR-101, 15 empresas já instaladas ou em instalação projetam investir R$ 376 milhões até 2015 e se organizam para melhorar a infraestrutura local.
São Gonçalo é a segunda cidade mais populosa do Estado do Rio de Janeiro e funciona principalmente como dormitório de trabalhadores pobres. O Complexo Industrial e Empresarial de São Gonçalo (Ciesg) nasce em um terreno histórico para a cidade que abrigou de 1932 a 1986 a fábrica de cimento Mauá, que tinha ferrovia e canal de navegação próprios, mas até hoje não tem água encanada.
Fechada, a cimenteira deixou de herança no local algumas fábricas do ramo, como a Kerneos (cimento refratário) e a Chryso (aditivos para cimento), e um terreno plano de 7,5 milhões de metros quadrados, adquirido em meados da década passada por dois investidores. É na área de 2,5 milhões de m2 à esquerda da BR-101 para quem está indo em direção ao norte do Estado que está hoje a maior concentração de empresas e onde está sendo formalizada a criação do Ciesg.
"Em 2006, quando já havíamos adquirido a área, surge a notícia da instalação do Comperj que abriu novas perspectivas para o projeto", conta Ricardo Campos, diretor da Sirisa Participações e Investimentos, dona da área. Campos disse que precisou se associar a um investidor francês para viabilizar o projeto que ele batizou de Tecnopark Barão de Mauá, onde, segundo ele, está investindo R$ 13 milhões. Outra área, de 5 milhões de m2, foi comprada por um investidor da capital fluminense.
O traçado da estrada que vai ligar o Comperj ao terminal que a Petrobras construirá na localidade de Praia da Beira, embrião de um futuro porto de barcaças, a cerca de 6 quilômetros do Ciesg vai, vai passar pelo terreno do complexo, mas Campos não lamenta a perda de área. Ao contrário, fecha os olhos e sonha com uma espécie de Houston brasileira na terra do cantor e compositor Seu Jorge, com todo o trajeto da rodovia margeado de indústrias do setor petróleo. Ele já planeja a desobstrução do canal de 1.350 metros ligando a área do complexo à baía de Guanabara.
Por enquanto, não é o Comperj que está povoando o Ciesg. O maior fluxo vem do setor petróleo, mas da área de exploração de óleo e gás no mar (offshore). A Logshore, uma das líderes do processo de organização do complexo, foi a primeira a se estabelecer no terreno. "Aqui era uma área de 'desova' de cadáveres. Compramos o terreno a R$ 1 o m2, e já está custando R$ 200", relata Renato Temperini, diretor da Logshore, empresa que é também concessionária do porto de Niterói, hoje totalmente especializado no apoio a Offshore.
Com cem empregados, a Logshore está investindo R$ 52 milhões, ampliando o parque de tubos e equipamentos para empresas que operam na bacia de Campos (RJ). Temperini explica que, embora mal urbanizada e sem água encanada (as empresas perfuram poços para se abastecerem), a área possui gás canalizado e fibra ótica, além de energia elétrica.
Em março os empresários da área reuniram-se com o vice-governador Fernando Pezão, que é também secretário de Obras, e receberam a promessa de agilizar o abastecimento de água que beneficiará também os 40 mil habitantes pobres dos bairros da área.
As empresas querem que o município faça melhorias na região e estenda às empresas do Ciesg benefícios fiscais praticados em outras áreas da cidade, como a redução da alíquota de 5% do Imposto sobre Serviços (ISS). O secretário de Desenvolvimento de São Gonçalo, Adolpho Konder, que vem sendo o contato dos empresários com o município, foi procurado mas não respondeu aos recados deixados.
Apesar da vocação petrolífera, o maior investimento programado vem do setor de fármacos e equipamentos médicos. A B. Braun, multinacional que tem fábrica em outro bairro de São Gonçalo (Arsenal), vai aplicar € 100 milhões (R$ 230 milhões). A Aliança (grupo Ficher), está investindo R$ 40 milhões e a Brasco (Wilson Sons) investe R$ 30 milhões.
Fonte: Valor Econômico/Chico Santos | Do Rio
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