As exportações do complexo soja, que inclui o grão, o farelo e óleo, poderão retomar a liderança nas vendas externas do Brasil em valores em 2013, uma vez que se espera uma safra recorde e os preços futuros da oleaginosa estão em máximas históricas em função da grande quebra da produção dos Estados Unidos.
De outro lado, os preços do minério de ferro, atual líder da pauta de exportações do Brasil, estão sofrendo os efeitos de uma economia mais lenta na China, o maior consumidor global, e caíram para menos de 100 dólares/tonelada na semana passada, o menor patamar visto desde o final de 2009.
"As commodities metálicas e minerais não estão resistindo à crise e estão cedendo. Ao contrário, as commodities do agronegócio estão resistindo à crise e até subindo de preço", afirmou à Reuters José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Ele ressaltou que essa alta nas cotações dos preços dos produtos agrícolas ocorre principalmente pelas perdas expressivas na safra de soja e milho dos Estados Unidos, tradicionalmente os maiores produtores e exportadores dos dois produtos.
A declaração do presidente da AEB foi feita após a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) divulgar a sua primeira projeção para a nova safra, na qual apontou que as divisas geradas pelos embarques do complexo soja em 2013/2014 (fevereiro/janeiro) poderão atingir 29,9 bilhões de dólares.
Já as exportações de minério de ferro, na avaliação do executivo da AEB, provavelmente cairão abaixo de 30 bilhões de dólares em 2012, contra 41,8 bilhões em 2011, e muito provavelmente seguirão a tendência de baixa em 2013.
"Este ano cai abaixo de 30 bilhões a exportação de minério, e essa queda, se o cenário não se reverter, continua em 2013, os preços hoje estão preços de 2009", completou Castro, lembrando um período crítico de baixa do minério, após a crise de 2008.
Os números da Abiove e a avaliação da AEB consideram também que o clima colabore na safra que começa a ser plantada a partir de setembro, e com colheita se intensificando no início de 2013. Na safra passada, não foi o caso. O Brasil perdeu cerca quase 10 milhões de toneladas pela seca e acabou colhendo 66,6 milhões de toneladas do grão.
Na nova safra, a Abiove prevê uma colheita de 81,3 milhões de toneladas, o que elevaria o Brasil à condição de maior produtor e exportador global, superando os EUA.
"Os preços estão muito altos e há expectativa de grande safra... Salvo imprevisto, os preços para o ano que vem devem ser muito altos, por isso muitas empresas já estão vendendo antes mesmo de a safra ser plantada", comentou ele.
Na bolsa de Chicago, os futuros da soja atingiram um recorde histórico em meados de julho e seguem firmes.
No Brasil, no embalo das cotações também recordes, que superam 80 reais por saca em várias praças, os produtores já comercializaram mais de 40 por cento do que esperam colher no ano que vem, segundo analistas do mercado.
SOJA LIDERA NO ANO
Uma mostra do que se espera para o ano que vem pode ser verificada já em 2012.
A exportação do complexo soja já supera a do minério e a do petróleo no acumulado de 2012 até julho, mas essa situação não deve permanecer até o final do ano, considerando que os estoques da oleaginosa no Brasil estão baixos, após o setor embarcar quase tudo nos sete primeiros meses, especialmente no que se refere a soja em grão, que responde pelo grosso das exportações.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações do complexo soja somaram 19 bilhões de dólares até julho, contra 18,3 bilhões de dólares do petróleo e derivados e 17,7 bilhões de dólares do minério de ferro, cujas exportações no mesmo período do ano passado somaram 22,1 bilhões de dólares.
Para o ano, as exportações de minério deverão fechar o ano próximas de 30 bilhões de dólares, enquanto a do complexo soja estão estimadas em 23,4 bilhões de dólares.
Mas não seria a primeira vez que o complexo soja superaria o minério. Em 2009, após a crise financeira iniciada em 2008, os preços de exportação do minério no Brasil despencaram para cerca de 50 dólares a tonelada (média do ano), aproximadamente metade do valor projetado para 2012.
Em 2009, os embarques do minério renderam divisas de 13,2 bilhões de dólares, ante 17,2 bilhões do complexo soja, segundo cruzamento de dados do governo e da indústria.
A AEB ainda não tem projeção para 2013. Mas os preços do minério caíram na semana passada, no mercado à vista da China, para cerca de 100 dólares a tonelada, o menor valor em quase três anos --o equivalente a 75 dólares/t no Brasil (base FOB).
Fonte: Reuters / Roberto Samora
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