O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, aguarda a conclusão de uma investigação conduzida pela Controladoria-Geral da União (CGU) na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para iniciar uma ampla reformulação na diretoria da estatal.
O ministro espera ter o processo "totalmente concluído" até 30 de setembro. Nos bastidores, o governo avalia que o resultado da investigação apontará "inúmeras" falhas e erros administrativos. A Conab foi pivô de denúncias de corrupção e desvios de dinheiro que culminaram com a queda do então ministro Wagner Rossi (PMDB), indicado ao posto pelo vice-presidente Michel Temer.
O presidente da Conab, Evangevaldo Moreira dos Santos, criou, por determinação do ministro, uma coordenação jurídica permanente para acompanhar os processos da estatal. Mendes Ribeiro mantém, porém, apoio à investigação da CGU. "Eu já pedi, inclusive, ao [ministro Luis Inácio] Adams um servidor cedido para isso. Já temos um procurador da AGU acompanhando as coisas. Essa prorrogação não atrapalha", disse ao Valor. "Tem time que joga 30 dias e não ganha, mas isso não quer dizer que não vai ganhar mais", afirmou.
Em meio às investigações ainda sem conclusão, os partidos políticos já brigam para emplacar nomes na diretoria da Conab. O PTB, apurou o Valor, apresentou uma lista de indicados ao governo e dirigentes do PMDB pressionam por nomes ligados à legenda. O ministro, deputado do PMDB gaúcho, já avisou que indicará o novo diretor financeiro.
"O que eu preciso pensar é no diretor financeiro. Aí, eu preciso pensar. Eu preciso de tempo", disse Mendes. Hoje, o diretor administrativo Rogério Abdalla, indicado pelo ex-ministro Rossi, acumula o financeiro. A vaga está aberta desde a demissão de Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), por envolvimento em pagamentos supostamente irregulares.
As mudanças preparadas por Mendes Ribeiro serão feitas para organizar o "caos administrativo" em que se encontra a Conab. A estatal tem hoje um déficit de R$ 28 milhões e mais de 100 imóveis sem uso em todo o Brasil, segundo informou o ministro. O grave problema financeiro, segundo Mendes, tem origem na Previdência da estatal. A Conab tem um prejuízo mensal R$ 1 milhão com as contas de seu instituto de previdência. "O interessante é que você tem R$ 28 milhões de déficit e paga R$ 1 milhão de previdência ao mês. Se tirar os R$ 12 milhões equivalentes a um ano, já não seriam R$ 28 milhões e, sim, R$ 16 milhões", disse.
A Conab, segundo Mendes Ribeiro, também precisa de mais funcionários. Mas a precariedade financeira impede novas contratações. O quadro atual conta com mais de 4 mil pessoas. "Como eu vou colocar mais funcionários se eu tenho problema de previdência?", perguntou. A Conab é "extremamente qualificada" e a função dela é "fundamental" para a agricultura, avalia o ministro. O problema é a "desmotivação" dos servidores. Além disso, o ministro avalia que a estatal estava "largada" pelo ministério. "Se demorasse mais um pouquinho a Conab iria para o Desenvolvimento Social".
O "caos" administrativo deixou a Conab, segundo o ministro, com mais de 100 imóveis sem uso espalhados pelo Brasil. Na semana passada, Mendes Ribeiro recebeu uma lista de propriedades que geram custo e passam por depreciação. "Me disseram que os imóveis têm custos e que estavam sem uso. Eu disse para fazer disso política agrícola".
O plano do Ministério da Agricultura é doar ou trocar os imóveis em parceria com consórcios municipais. Mendes conta com a ajuda das prefeituras para uma contrapartida. "Vamos construir poço na casa do agricultor, vamos colocar piscicultura para que ele tenha renda. É trocado. Eu troco", disse.
Ele deu um exemplo prático: em Caxias do Sul (RS), o prefeito José Ivo Sartori (PMDB) quer assumir, de vez, um prédio da Conab. "Eu disse para ele: Tá bem, eu te dou, desde que tu leves para os municípios que farão parte [do projeto]. Pegue todos os prefeitos e vamos desenvolver".
Fonte: Valor Econômico/Tarso Veloso | De Brasília
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