A produção de peixes de cultivo no Brasil cresceu 5,9% no ano passado e alcançou 802,9 mil toneladas, segundo dados da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) que estão em anuário lançado nesta segunda-feira. O crescimento, o maior desde 2015, foi puxado pela “descoberta” dos produtos de peixe pelo consumidor durante a pandemia.
“O [consumo de] peixe nativo teve impacto negativo no começo da pandemia porque a comercialização ocorre em mercados abertos, que fecharam [com as medidas de isolamento]. Mas, em um segundo momento, especialmente no último trimestre de 2020, foi de boas vendas e de remuneração ao produtor”, disse Francisco Medeiros, presidente executivo da PeixeBR.
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O maior aumento da demanda foi pela tilápia. Com a maior procura, a produção da espécie cresceu 12,5%, para 486,2 mil toneladas. Com isso, a tilápia representou 60,6% da produção nacional, acima da participação de 2019 (de 57%). O ciclo de produção da tilápia é mais curto que o dos peixes nativos, de cerca de sete meses, e consegue responder mais rapidamente às mudanças do mercado.
“Os consumidores tinham contato com tilápia no food service, mas não levavam para casa. Na pandemia, houve um trabalho excepcional de levar o produto para os atacarejos”, onde os preços do produto chegaram a níveis competitivos no primeiro semestre de 2020, disse Medeiros.
Segundo o dirigente, as indústrias processadoras e fabricantes passaram a apresentar nas embalagens novas formas de preparo e de entrega do peixe, o que tornou o produto mais acessível para o consumidor. “O resultado principal foi o consumidor aprender a fazer nosso produto e descobrir que é mais fácil fazer um filé de tilápia do que um filé de carne bovina, ou que preparar uma coxa de frango. Esse detalhe foi responsável pelo aumento de consumo“, afirmou.
Já a produção de peixes nativos caiu 3,2% no ano passado, para 278,7 mil toneladas. Em parte, a queda ainda foi reflexo do mau momento do mercado de 2019, quando a baixa remuneração levou à redução do alojamento de alevinos.
A produção das demais espécies, incluindo carpa, truta e pangasius, principalmente, cresceu 10,9%, para 38,1 mil toneladas.
Medeiros afirmou que, mesmo com o aumento de ração, puxado pela alta do milho e da soja, o custo de 2020 ainda ficou “bastante satisfatório” tanto na produção de peixe nativo como de tilápia.
A região Sul continuou liderando a produção nacional, com 44% do total. O Nordeste passou a ocupar a segunda posição, refletindo políticas públicas de incentivo ao setor e “esforço empreendedor”, disse Medeiros.
Dentre os Estados, o Paraná continuou liderando a produção de peixes de cultivo, com 172 mil toneladas produzidas em 2020. Os produtores paranaenses foram responsáveis por captar cerca de 50% dos financiamentos disponíveis para custeio da produção (incluindo as linhas do Pronaf). Segundo o executivo da associação, o sucesso do Estado é explicado pela agilidade do licenciamento ambiental, pré-requisito para se obter crédito.
As exportações de peixe também cresceram em 2020. Em volume, os embarques aumentaram 8%, para 6,7 mil toneladas e a receita subiu 4,4%, para US$ 11,7 milhões. O aumento das exportações se concentrou no primeiro semestre, mas caiu na segunda metade do ano, quando o setor voltou-se para atender a demanda interna. “Em 2020, pela primeira vez, houve esse controle com mercado interno e exportação fazendo autorregulagem”, afirmou o presidente da PeixeBR.
Outro fator que limitou as exportações foram as limitações logísticas. A redução dos voos por causa da pandemia diminuiu as possibilidades de escoamento, e a restrição da oferta de contêineres em determinados momentos do ano também dificultou os embarques de farinha e óleo de peixe.
A expectativa do setor para este ano é de que a taxa de crescimento da produção neste ano seja ainda maior, com a retomada da produção dos peixes nativos. No caso da tilápia, os números de alojamento de alevinos nos dois primeiros meses do ano indicam que a produção de 2021 “deve seguir com dois dígitos” de incremento.
Para os peixes nativos, a expectativa da PeixeBR também é de aumento da produção, após o avanço da remuneração dessas espécies no segundo semestre de 2020. Esse movimento já resultou em maior procura por alevinos, que estão em fase de criação.
Com o aumento de produção, também é esperada uma alta nas exportações neste ano, mas a recuperação deve aparecer mais no terceiro trimestre.
Por outro lado, o setor deve enfrentar o desafio neste ano do aumento dos custos de ração, refletindo a alta do milho e do farelo de soja. Na visão da associação, será um “desafio” repassar esse custo ao mercado, já que a maioria dos consumidores está com poder de compra reduzido.
Fonte: Valor