Do Rio - A direção da Petrobras, que frequentemente reclama do fato de as ações da empresa patinarem no mercado, embora não pare de crescer, anda também irritada com as críticas feitas por analistas de mercado aos valores dos seus investimentos em comparação aos realizados em outras regiões do planeta, com destaque no segmento de refino. O diretor de abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, disse que há cerca e um mês e meio fez uma reunião com 25 desses analistas na tentativa de mostrar a eles que não faz sentido comparar preços de refinarias, construídas ou em construção, no Brasil e em países com economias mais estruturadas.
No dia 14 deste mês, quando a estatal recomprou por US$ 850 milhões os 30% da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), no Rio Grande do Sul, que havia vendido em 2001 por US$ 500 milhões à espanhola Repsol, os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes, da corretora Itau BBA avaliaram a operação como "outro movimento caro no negócio de refino de baixo retorno".
Eles calcularam que a estatal brasileira pagou US$ 14,9 mil por barril de capacidade (a Refap processa 190 mil barris de óleo pesado por dia) contra uma média de US$ 4,7 mil por barril em transações semelhantes realizadas no mundo nos últimos dois anos. Pelo mesmo parâmetro, preço total por barril refinado, o relatório da corretora concluiu que a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, orçada em US$ 12 bilhões, vai custar US$ 50 mil por barril de capacidade (terá capacidade 230 mil barris ao dia).
"Tive uma reunião gigantesca, três horas de conversa, com 25 analistas, para falar sobre essas comparações", disse Costa. Segundo ele, o tipo de comparação que é feito pelos analistas "não é correto" porque não leva em conta os investimentos periféricos, em infra-estrutura e suprimentos, que a Petrobras é obrigada a fazer como parte do investimento na unidade, enquanto as unidades de países como Estados Unidos, da União Europeia e até da Arábia Saudita não precisam fazer o mesmo. Além disso, de acordo com o executivo, muitas vezes a comparação é feita entre refinarias sofisticadas, como disse ser a Refap, e unidades muito simples, apelidadas de "chaleiras" no jargão setorial.
O executivo usou como exemplo a refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), pertencente à própria Petrobras. Segundo ele, a unidade foi construída em um local que já contava com todas as facilidades como geração de energia, valor, gases industriais e outras, além de terminal portuário e um poliduto, o "Colonial Pipeline", que leva os produtos diretamente para Nova York sem necessidade de estocagem.
Costa disse que todas essas facilidades são contratadas pela refinaria e entram no balanço como custos operacionais e não como investimentos, barateando enormemente a unidade. Em 2007 a Petrobras pagou cerca de US$ 370 milhões por 50% da refinaria que processa 106 mil barris de óleo por dia. A perda de uma disputa judicial elevou posteriormente o valor total para US$ 466 milhões
No caso da refinaria de Pernambuco, o executivo da Petrobras afirmou que, mesmo sendo o empreendimento localizado na área do porto de Suape, foi necessário construir um novo pier de atracação com dragagem e enrocamento para permitir a entrada de petroleiros. Além disso, segundo ele, a estatal teve que fazer uma termelétrica para assegurar o suprimento de energia porque a distribuidora local não garantiu o suprimento constante de 150 megawatts.
"Toda a infraestrutura entra no custo da refinaria", resume. Costa propõe que, ao comparar preços, os analistas levem em conta apenas as unidades operacionais daqui e do exterior para que possa haver comparabilidade.
Fonte: Valor Econômico
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