Representantes de grandes grupos empresariais brasileiros aproveitaram ontem o 6º Encontro Nacional da Indústria (Enai) para reclamar da ausência de uma política industrial consistente e de longo prazo no Brasil. O termo "custo Brasil" - historicamente usado para reclamar da carga tributária e dos gargalos da infraestrutura - voltou à tona. Para os industriais, os vários acordos e medidas pontuais que vão se somando na regulamentação dificultam o planejamento do empresário. "Não adianta discutir mudanças pontuais que refletem em poucos setores. Precisamos de uma política industrial consistente e de longo prazo", disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.
O empresário André Gerdau, presidente do Grupo Gerdau, reforçou a tese de que a falta de um plano de longo prazo atrapalha os negócios. "Os investimentos no setor do aço demoram cerca de cinco anos entre o planejamento e a execução. Sem estabilidade é difícil o planejamento. Precisamos saber qual é a regra do jogo que estará valendo para investir", disse.
Mais recente esboço de política industrial do país, o plano Brasil Maior foi praticamente ignorado pelos empresários, mas foi defendido pela secretária de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Heloisa Regina Guimarães de Menezes. "O Brasil Maior tem metas que devem ser acompanhadas pelo setor privado. Se atingirmos as metas estipuladas, estaremos avançando muito em competitividade", disse. Além de Gerdau e Andrade, outros industriais presentes não acreditam que esse plano esteja funcionando para o setor.
Para José Rubens de La Rosa, presidente da Marcopolo, fabricante de carroceria de ônibus, a resolução de alguns gargalos em infraestrutura ajudaria o setor. "A União deve priorizar investimentos em infraestrutura no seu orçamento, o que deixaria a economia mais vibrante e aqueceria os mercados", observou. O presidente da CNI lembrou que agora é o momento para essa reorganização do governo, com a proximidade dos grandes eventos esportivos.
Heloisa Menezes concordou que a redução do "chamado custo Brasil" contemplaria tanto industriais como empresários de maneira geral, mas, segundo ela, o Mdic tem dificuldades em articular a redução da carga tributária com os outros ministérios e níveis de governo. "A reforma tributária é muito difícil. Temos que lidar com dezenas de governadores e centenas de prefeitos nessa conversa. Alterações pontuais na taxação sobre investimentos, na folha de pagamento e nas exportações são mais viáveis", na opinião de Heloisa. "Mas a ideia presente no atual governo é que as medidas de desoneração não se esgotam no que foi feito até agora", concluiu.
Em um dos debates, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, defendeu o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre automóveis e a exigência de conteúdo nacional de 65%. "O Brasil desperta interesse em toda parte, quem quiser vender aqui, que venha produzir e gerar emprego aqui", disse ele. Mercadante defendeu ainda que a exigência de conteúdo nacional seja imposta não apenas para as montadoras, mas para o restante da cadeia produtiva, como o segmento de autopeças. "Para mim, 65% [de conteúdo nacional] é pouco, vamos exigir mais, vai ter que ter cadeia produtiva no Brasil", disse o ministro.
Fonte:Valor Econômico/Carlos Giffoni e Tainara Machado | De São Paulo
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