SÃO PAULO - A CVDVale é uma empresa que foge do lugar-comum: produz diamante sintético em uma" linha de produção" que é um grande laboratório científico, com o "chão de fábrica" repleto de doutores em Física e cujo fundador, Vladimir Airoldi, trabalhou na Nasa, nos Estados Unidos, há vinte anos, para entender o processo de criação de uma pequena empresa com capacidade inovadora.
Essa empresa, que fica em São José dos Campos (SP), está para dar um grande passo em direção ao crescimento. No mês que vem, começam os testes da Petrobras na camada pré-sal com duas brocas "protótipo" da CVDVale para perfuração de petróleo, utilizando diamante sintético na ponta. "Fizemos enxertos de diamante, produzido a partir de gases, nas brocas, numa iniciativa pioneira no mundo", garante Airoldi.
O diferencial dessa tecnologia, assegura o fundador da CVDVale, é a maior durabilidade da broca fabricada pela empresa - vantagem importante quando se trata de fazer perfurações de quilômetros em águas profundas, como é o caso do pré-sal.
A tecnologia para desenvolver brocas com pontas de diamante foi desenvolvida pela empresa, em primeiro lugar, para um segmento bem diferente do de petróleo. As primeiras brocas desse tipo foram oferecidas ao setor odontológico, lembra Demian Waldman, principal diretor executivo (CEO) da CVDVale: "Entramos nesse mercado no ano passado e a receptividade foi imediata. Já temos cerca de 2 mil dentistas que utilizam nosso produto".
O êxito da primeira iniciativa incentivou o desenvolvimento para outras áreas. Por enquanto a expectativa da empresa é em relação à camada pré-sal, mas há outras oportunidades que podem ser criadas, como vendas para a área de mineração.
"Fazemos o desenvolvimento tecnológico e a concepção do uso do produto", afirma Waldman. Para fazer esse trabalho - raro no Brasil - de desenvolver produtos utilizando tecnologia de ponta e levá-los ao mercado, a CVDVale tem entre seus sócios o Criatec, fundo que investe em empresas com esse perfil e que tem como acionistas o BNDES (majoritário) e o Banco do Nordeste. "Esse apoio é fundamental, mas infelizmente pouco disseminado no País", diz Vladimir Airoldi.
Tecnologia brasileira
As iniciativas de desenvolvimento de tecnologia para a exploração do petróleo no pré-sal também contam com incentivos de fundos formados pela arrecadação de impostos do setor de petróleo e gás no País. O maior deles é o CTPetro. Neste mês, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) lançou os dois primeiros editais para estimular o desenvolvimento de projetos e de tecnologia nacional para fornecimento às empresas exploradoras.
São duas chamadas públicas que somam recursos não reembolsáveis de R$ 130 milhões. A primeira trata do desenvolvimento de projetos na forma de cooperação entre empresas e Instituições de Pesquisa Científica e Tecnológica (ICT). Já a segunda tem como meta o apoio financeiro à criação, adequação e capacitação de laboratórios que tenham como foco o desenvolvimento de projetos relacionados ao pré-sal.
Segundo a analista do Departamento de Instituições e Pesquisas da Finep, Cláudia Perasso, a instituição tem por meta aumentar a capacidade da indústria nacional de atender à demanda da Petrobras quando a exploração do pré-sal realmente decolar. "O objetivo é aumentar a escala de produção e preencher as lacunas tecnológicas que existem atualmente e que não são preenchidas pelo conteúdo nacional", disse.
Dentre as áreas desses projetos há uma série de setores que representam gargalos no desenvolvimento tecnológico e que, por esta razão, terão prioridade nesta que é a primeira chamada pública para o desenvolvimento tecnológico do pré-sal. São eles: válvulas, conexões/flanges, umbilicais submarinos, caldeiraria, construção naval e instrumentação/automação que foram identificadas por meio de um estudo do Prominp e da Coppe.
Para o diretor do Departamento de Segurança da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Cássio Vechiatti, que atua na área de válvulas e bombas para petróleo e gás, esse programa poderá ajudar a indústria a alcançar a escala que ainda não possui no campo de equipamentos para a exploração de petróleo.
De acordo com Vechiatti, a indústria brasileira ainda não conseguiria atender à demanda da Petrobras caso houvesse um aumento significativo de pedidos, o que levaria à importação desses equipamentos.
As chamadas estão abertas a todas empresas, que podem submeter projetos individualmente ou em consórcio. Há, porém, a exigência de que pelo menos uma empresa possua sede no País e de que todos os projetos estejam vinculados a uma ICT. O valor mínimo de um projeto é de R$ 1 milhão, e a empresa deverá aportar recursos como contrapartida com base em seu faturamento no desenvolvimento do projeto.
Para empresas de micro e pequeno porte (faturamento de até R$ 2,4 milhões ao ano), o aporte deve ser de 5%. Para pequenas (de R$ 2,4 milhões a R$ 16 milhões), a alíquota sobe para 10%. Nas médias empresas (entre R$ 16 milhões e R$ 90 milhões), o desembolso aumenta para 50%, e para as enquadradas como média-grande e grande (faturamento acima de R$ 90 milhões), a contrapartida é do mesmo valor solicitado. A analista destaca que a Finep abriu a possibilidade de que essa contrapartida a ser apresentada possa ser financeira (em dinheiro) ou não-financeira, que inclui recursos humanos (horas de trabalho).
Fonte: DCI/Theo CarnierMaurício Godoi
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