O mercado global de minério de ferro está encolhendo com a diminuição dos embarques do Brasil após o desastre da barragem da Vale e paralisação das minas. Dados de rastreamento de navios destacam um declínio acentuado do volume de carga sendo embarcado.
Os embarques do Brasil, maior exportador depois da Austrália, caíram para 3,4 milhões de toneladas na semana encerrada em 5 de abril, segundo dados da GlobalPorts compilados pela Bloomberg. O volume está abaixo dos 3,9 milhões no período anterior e é muito menor do que os volume semanais entre 5 milhões e 8 milhões de toneladas dos primeiros meses do ano.
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“Esperamos outro salto dos preços”, disse Jeremy Sussman, diretor-gerente de metais e mineração da Clarksons Platou Securities, reafirmando a previsão de que o rompimento da barragem da Vale pode elevar os preços para US$ 100 a tonelada. O aviso já havia sido dado em fevereiro, logo após o desastre.
O mercado transoceânico tem sido abalado por cortes da oferta em 2019, estimulando uma valorização dos preços para os maiores níveis em vários anos: o índice de referência do minério atingiu US$ 90. Primeiro foi o rompimento de uma barragem da Vale em janeiro, que forçou a mineradora a reduzir a produção e declarar força maior para as entregas. Em março, um ciclone na Austrália interrompeu a produção da Rio Tinto Group e da BHP. O Citigroup estima que os preços devem atingir US$ 100 a tonelada, prevendo uma crise de abastecimento.
“Não acreditamos que o impacto da traagédia no Brasil tenha sido realmente sentido ainda, pelo menos em toda sua extensão, no mercado chinês do ponto de vista físico”, disse Sussman. “Nosso rastreamento de embarques sugere que a Vale estava exportando com os estoques até meados de março”, segundo relatório enviado por e-mail.
Os dados da GlobalPorts se somam às evidências de uma queda no ritmo de exportações do Brasil e reforçam o quadro de que o impacto da crise da Vale levará meses para ficar totalmente claro. Dados do governo brasileiro mostram que as exportações caíram para 22,2 milhões de toneladas em março, o menor volume para este mês desde 2009.
Uma viagem do Porto de Tubarão, em Vitória, a Qingdao se estende por cerca 20 mil quilômetros, e um cargueiro capesize que atravessa a rota pelo Cabo da Boa Esperança para depois voltar ao Brasil leva de 85 a 90 dias, segundo o Bloomberg Intelligence. Isso significa que os menores volumes embarcados pelo Brasil em março e neste mês serão refletidos na China no final de abril em diante.
Ainda assim, os volumes de minério nos portos da China, o maior importador mundial do insumo usado na fabricação do aço, aumentaram desde o desastre do Vale. Os estoques somavam 148,9 milhões de toneladas na semana passada, o maior nível desde setembro, segundo dados da Shanghai Steelhome E-Commerce.
“Esperamos que os preços do minério de ferro permaneçam acima de US$ 90 a tonelada no curto prazo com a menor oferta dos mercados físicos, já que a interrupção das exportações de minério de ferro da Vale só está sendo sentida pelos importadores agora”, disse o Commonwealth Bank of Australia esta semana. A queda de “estoques nos portos será o principal sinal para o crescente aperto”, segundo o banco.
Fonte: Bloomberg News