Demanda e preço para cima colocam Vale no topo
Justificar a preferência por Vale, com o recorde de 7 indicações para a Carteira Valor de janeiro, é relativamente simples, afirma o diretor do banco Geração Futuro Wagner Salaverry, que mantém a aposta desde outubro. Demanda forte e expectativa de alta nos preços são os dois fatores que prenunciam uma conjuntura bastante favorável para a mineradora em 2010, destaca. "A Vale encerra o ano operando a plena capacidade, apesar da queda de cerca de 30% na produção mundial do setor siderúrgico."
Se a China, principal cliente da mineradora, foi quem segurou a operação no período de crise, tudo indica que este ano será melhor ainda, acredita Salaverry. Não só porque a expectativa é de crescimento forte para a economia chinesa - há poucos dias, o governo daquele país revisou para cima a estimativa de expansão do PIB de 9% para 9,6% -, mas por conta da recuperação de outros mercados consumidores.
A melhora da demanda significa condições mais favoráveis para a Vale dar início à rodada de negociação de preços do minério de ferro para 2010, acrescenta a estrategista da Ativa Corretora, Mônica Araújo, que decidiu incluir a empresa entre as recomendações para janeiro. "O cenário está muito mais propício para produtores do que para consumidores de minério de ferro, uma vez que a oferta no mundo ainda é limitada."
Um sinal de retomada da produção mundial são os preços do minério de ferro no mercado "spot" (à vista), argumenta a estrategista da Itaú Corretora, Cida Souza. "Entre as empresas de commodities, a Vale é a nossa preferida, graças à combinação favorável entre preço mais alto e demanda forte." Cida destaca o novo recorde de preço do minério de ferro registrado na segunda metade de dezembro, de U$ 115 a tonelada. Foi o segundo do ano e, de acordo com ela, representa um prêmio de quase 50% em relação ao preço dos contratos fechados em meados do ano passado.
Com a China, lembra a estrategista da Itaú , os contratos ficaram em aberto e as negociações, balizadas pelo mercado "spot". O que era um risco acabou beneficiando a Vale, que conseguiu capturar o aumento de preços, diz. Essa alta no mercado "spot" ainda deve favorecer a empresa no processo de negociação dos preços para 2010, acredita Cida. "O aumento de 20% esperado para este ano (consenso entre os analistas) pode até ser ultrapassado", afirma.
Retomada do consumo e preço estável também sustentam as apostas em Petrobras, outro destaque na Carteira Valor de janeiro. Mesmo desconsiderando a exploração do pré-sal, a Petrobras é uma das empresas de petróleo que mais vai crescer no mundo nos próximos anos, afirma Salaverry. "Se a economia brasileira se expandir 5% em 2010, a Petrobras vai capturar esse ganho, já que a maior parte das receitas da companhia vem do mercado interno."
O preço do petróleo também não deve ser um problema. Com a perspectiva de recuperação da economia mundial, com Estados Unidos crescendo cerca de 2%, Europa se recuperando, emergentes mantendo o ritmo de expansão e o mercado interno a todo o vapor, não dá para imaginar que o preço do petróleo vá se derreter, avalia Salaverry. Na terça-feira, a Agência Internacional de Energia divulgou perspectiva de crescimento de 1,7% no consumo neste ano, o que deve sustentar o preço do petróleo na casa dos US$ 80 o barril.
"A visão para o mercado de petróleo é muito positiva", afirma o analista de petróleo do Geração Futuro, Lucas Brendler. O enxugamento da demanda, que atingiu o mundo todo durante a crise, começou a se reverter, puxado pelos emergentes. Agora, com a perspectiva de recuperação das economias desenvolvidas e uma oferta que é limitada - por conta do declínio natural da produção e da meta de redução da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) -, a perspectiva é de estabilidade ou até de alta nos preços, reitera Brendler.
A Petrobras está em melhor condição de aproveitar esse cenário favorável, acrescenta o analista do Geração, cujos fundos da casa têm mais de R$ 650 milhões aplicados na estatal. Isso porque a empresa já produz petróleo, além de refinar e distribuir. A OGX, que também aparece entre as indicações para a Carteira Valor de janeiro por conta de sua campanha de exploração do óleo, ainda está em fase pré-operacional, compara. Os primeiros barris só devem ser produzidos em 2011.
Em termos de percepção de valor, Brendler também prefere o conservadorismo. Segundo ele, a Petrobras tem mais de 15 bilhões de barris em reservas certificadas, enquanto que a OGX não tem nada, só um potencial de exploração estimado em 7 bilhões de barris, segundo relatório da D&M. A perfuração dos dois primeiros poços indica um potencial de cerca de 2,5 bilhões de barris. A Petrobras ainda tem outros 13 bilhões de reservas não certificadas, ressalta o analista. O Geração Futuro trabalha com um potencial de alta para as ações da Petrobras de cerca de 30% ao longo deste ano. Para a OGX, na avaliação de Brendler, a valorização tende a ser maior, mas o risco também.(Fonte: Valor Econômico)