Poucos meses depois de se prepararem para uma longa queda na demanda por aço causada pela pandemia de covid-19, as siderúrgicas estão tendo dificuldades para acompanhar a retomada dos pedidos das indústrias americanas.
As produtoras de aço desativaram cerca de um terço da capacidade de produção doméstica de laminados planos no segundo trimestre, quando os clientes cancelaram pedidos e fecharam fábricas para desacelerar a disseminação do novo coronavírus.
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Desde que muitas fábricas reabriram, um ou dois meses depois, a demanda por aço para carros, eletrodomésticos e maquinário se recuperou, em parte graças ao aumento das compras de consumidores americanos.
O preço de referência para chapas de aço laminadas a quente dobrou desde o início de agosto para a maior alta em dois anos, chegando a US$ 900 a tonelada, de acordo com a S&P Global Platts. Distribuidores de aço disseram que os preços crescentes e a disponibilidade reduzida de aço geraram pânico na compra de alguns fabricantes.
“Há pessoas comprando mais do que precisam”, disse Bill Hickey, presidente da distribuidora Lapham-Hickey Steel, da região de Chicago.
Surpresa
O retorno rápido aos níveis anteriores surpreendeu executivos de uma indústria siderúrgica que estava em crise há mais de um ano antes da pandemia. “Isso pegou todo mundo desprevenido”, disse Todd Leebow, presidente da Majestic Steel, distribuidora com sede em Cleveland.
As siderúrgicas reiniciaram a maior parte da produção que haviam parado durante o segundo trimestre, mas os pedidos continuam ultrapassando os suprimentos. Os prazos de entrega de pedidos de chapas de aço aumentaram para cerca de dez semanas, ante menos de quatro.
A espera pelo aço revestido e outras variedades que precisam de mais processamento pode chegar a três meses, de acordo com os distribuidores.
A E&E Manufacturing, que estampa e solda peças de metal para a indústria automotiva, informou aos clientes que alguns embarques provavelmente serão atrasados devido à disponibilidade de aço em suas fábricas em Michigan e Tennessee. A empresa fecha as prensas de estampagem quando o aço não é entregue no prazo. Isso aumentou as despesas operacionais e interrompeu os cronogramas de produção, disse o diretor financeiro da E&E, Brian Swanson.
Os preços da sucata de aço, minério de ferro e outros insumos usados para fazer aço também aumentaram recentemente, especialmente na China, onde a produção de aço se expandiu este ano para alimentar projetos de infraestrutura financiados pelo governo.
O aumento do consumo de aço da China fez diminuir a oferta no mercado de exportação global, ao qual alguns compradores dos Estados Unidos recorrem quando os preços domésticos disparam.
Retomada
As siderúrgicas dos EUA continuam retomando a capacidade de produção. A United States Steel reiniciou recentemente o último alto-forno ocioso em sua usina de Gary, Indiana, depois de prever em julho que o forno provavelmente permaneceria desligado pelo resto do ano.
O forno, que derrete o minério de ferro usado para fazer aço, tem capacidade para aumentar a produção de aço bruto na Gary Works em cerca de um milhão de toneladas anuais. A U.S. Steel reiniciou neste verão dois outros altos-fornos em Gary e um forno em sua usina perto de Pittsburgh.
A Big River Steel, da qual a U.S. Steel adquiriu o controle total na semana passada, recentemente colocou em operação 1,65 milhão de toneladas adicionais de capacidade anual de produção de aço em sua usina em Arkansas. A ArcelorMittal e a Cleveland-Cliffs também reiniciaram os altos-fornos durante o terceiro trimestre.
Mas a produção e a utilização de aço permanecem menores do que há um ano. No geral, a produção de aço nos EUA na semana encerrada em 5 de dezembro caiu 13% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o American Iron and Steel Institute, um grupo comercial.
Cerca de 71% da capacidade de produção dos EUA está sendo usada, abaixo dos quase 80% do ano anterior. Alguns fornos permanecem desligados ou operando bem abaixo da capacidade devido à manutenção programada ou por que as siderúrgicas dependem de setores muito atingidos pela pandemia.
Montadoras
Um dos motivos pelos quais a produção continua menor do que no ano passado foi a perda repentina e completa de pedidos de clientes importantes como a indústria automobilística. As retiradas provocaram cortes drásticos na produção em toda a indústria do aço, o que esgotou os estoques de aço.
Como outras fábricas e negócios em geral, as empresas de aço tiveram que lidar com um número crescente de funcionários infectados com covid-19 ou desempregados por razões relacionadas, deixando as usinas cada vez mais suscetíveis a interrupções na produção.
Don Furko, presidente do sindicato United Steelworkers da usina de carvão metalúrgico da U.S. Steel em Clairton, Pensilvânia, disse que candidatos a emprego estão sendo entrevistados para preencher vagas, que agora são necessárias para uma maior produção.
Fonte: Valor