Conjuntura: País cresce 2,7% na comparação com o fim de 2009
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2010 confirmou o forte ritmo de crescimento da economia brasileira. Na série com ajuste sazonal, o PIB cresceu 2,7% sobre o trimestre anterior, o equivalente a 11,2% em termos anualizados. Na comparação com o primeiro trimestre de 2009, a alta foi de 9%, a maior da série histórica iniciada em 1995. Se fosse apenas pela demanda interna, o resultado teria sido ainda maior e chegaria a 11,8%. Isso não ocorreu porque uma parcela do consumo e do investimento foi atendida por importações, o que fez o setor externo "tirar" 2,8 pontos percentuais do PIB brasileiro.
As compras externas de bens e serviços subiram 39,5% sobre janeiro a março de 2009, percentual muito superior aos 14,5% das exportações. Essa explosão de importações foi a contrapartida da crescente demanda doméstica (consumo das famílias e do governo, investimento em máquinas e equipamentos e na construção e variação de estoques), diz o economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero. Para comparar, em 2009 o setor externo colaborou positivamente com 0,1 ponto para o PIB, que caiu 0,2%.
Para Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria, a distância entre o aumento da demanda interna e a expansão do PIB deve diminuir ao longo do ano, como efeito da maturação dos investimentos realizados desde o ano passado. O economista estima que o PIB passará por expansão de 6,6%, enquanto a absorção interna da economia no ano será de 7,4%.
Um ponto importante do resultado das contas nacionais foi o avanço acentuado da taxa do investimento como proporção do PIB, que atingiu 18% no primeiro trimestre, como nota o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho. É um número bastante superior aos 17,1% do PIB do trimestre anterior e dos 16,3% do mesmo trimestre de 2009. "O dado é bastante positivo, embora não tenha sido suficiente para interromper o crescimento da utilização da capacidade instalada da indústria", diz.
Velho aposta na continuidade da expansão firme da formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe na construção civil em máquina equipamentos) nos próximos trimestres, porque a confiança dos empresários segue elevada, dada a expectativa favorável sobre a demanda futura. A LCA Consultores destaca o fato de o investimento ter voltado ao nível pré-crise. "No período janeiro-março, a FBCF ficou 0,4% acima da observada em julho-setembro de 2008."
Responsável por 60% do PIB, o consumo das famílias cresceu no primeiro trimestre 1,5% sobre o anterior, uma desaceleração em relação ao ritmo dos três trimestres anteriores. "Isso foi até certo ponto surpreendente, levando em conta o bom desempenho do crédito ao consumo e da massa salarial nos primeiros três meses do ano", diz o analista Antonio Madeira, da MCM Consultores. A forte base de comparação ajuda a explicar esse movimento, pois o consumo avança desde o segundo trimestre de 2009 a um ritmo forte.
Para Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, o consumo das famílias deve continuar a perder força, enquanto os investimentos permanecem em níveis elevados. "São fatores transitórios que influenciaram o PIB forte no primeiro trimestre e, agora que eles saíram, vão provocar uma desaceleração considerável na leitura do segundo trimestre, que já está em curso, como os dados de produção industrial e comércio varejista mostram."
Diante da forte expansão dos investimentos - 26% maiores no primeiro trimestre de 2010 sobre igual período do ano passado - o economista-chefe do Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, avalia que um novo ciclo de crescimento foi inaugurado na economia brasileira. "Tivemos o crescimento puxado pelo consumo, como no Plano Cruzado, nos anos 80, e o crescimento sustentado pelas exportações, como ocorreu nos primeiros anos do governo Lula", diz ele, para quem o crescimento agora é impulsionado pelos investimentos. "É um investimento que ocorre em todos os setores, demandando máquinas e equipamentos e também mão de obra."
Nos primeiros três meses do ano, a atividade registrou também grande recomposição de estoques. Pelas contas da LCA, a variação de estoques respondeu por 1,7 ponto percentual da alta de 2,7% registrada pelo PIB no primeiro trimestre. Para Madeira, essa formação de estoques, que ajudou o crescimento no primeiro trimestre, pode levar a uma moderação da atividade industrial nos trimestres seguintes.
Fonte: Valor Econômico/Sergio Lamucci e João Villaverde, de São Paulo
PUBLICIDADE