O desaquecimento das economias dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) fez as duas regiões perderem mais participação na exportação brasileira de manufaturados. O Brasil deve bater recorde de exportação total tanto para os europeus quanto para os americanos este ano. Essas vendas, porém, devem crescer menos que a média total. De janeiro a setembro de 2011, a UE respondeu por 19,04% da venda brasileira de manufaturados ao exterior. Nos nove primeiros meses do ano passado a fatia foi de 19,79%. No mesmo período, a fatia dos Estados Unidos recuou de 13,2% para 12,3%.
Os europeus não perderam espaço somente nos manufaturados, mas também nos básicos. De janeiro a setembro do ano passado, a UE absorvia 23,2% da venda brasileira de básicos ao exterior. No mesmo período deste ano, a fatia caiu para 22,5%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Os americanos mantiveram estável sua fatia nos básicos brasileiros vendidos ao exterior, com participação nos dois períodos de 6,8%. Juntos, os básicos e os manufaturados correspondem a 83,8%. O restante são semimanufaturados.
As vendas de manufaturados para a zona do euro cresceram 14,5% de janeiro a setembro de 2011, na comparação com o mesmo período do ano passado. A exportação para os Estados Unidos na mesma classe de produtos cresceu 11,3%. O desempenho das duas regiões, porém, ficou abaixo da elevação média de 19% do embarque total de manufaturados.
Enquanto os europeus e americanos perderam espaço na compra de manufaturados brasileiros, os países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) avançaram. A fatia do bloco na venda de manufaturados do Brasil ao exterior aumentou de 25,3% para 27,3%. Os sócios do Mercosul compraram 28,3% a mais de manufaturados brasileiros de janeiro a setembro deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Na exportação brasileira de básicos, a China puxa o bloco asiático, que ampliou sua fatia de 45,8% para 47,5%.
"A perda de participação dos Estados Unidos e da União Europeia se deve ao menor crescimento econômico dessas regiões, o que afeta principalmente a demanda por manufaturados", diz Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados. "Já o avanço da Ásia nos básicos se deve à demanda da China e também do Japão, embora em menor escala, de produtos como o minério de ferro, que ganhou representatividade na exportação brasileira por conta da elevação de preço", diz. Nos primeiros nove meses deste ano, a venda de minério de ferro ao exterior chegou a US$ 30,6 bilhões, um aumento de 58,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. A participação do produto na exportação brasileira saltou de 13,3% para 16,1%.
Sílvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, acredita que a tendência de queda de participação dos europeus nas exportações brasileiras, seja em básicos ou manufaturados, deve se acentuar no ano que vem. Ao mesmo tempo, os asiáticos, devem ganhar espaço.
"A China vai desacelerar, mas mesmo assim vai crescer bem acima da média do mercado internacional", diz Campos Neto. Segundo estimativas da Tendências, o país asiático deve crescer 9,2% neste ano. Para o ano que vem a expectativa é de 8,7%. Para os Estados Unidos, a expectativa é de crescimento em 2012 é maior que o deste ano, mas em ritmo bem menor. A consultoria estima crescimento de 1,5% em 2011 e 1,8% para o próximo ano. A tendência de ganho dos asiáticos em relação aos Estados Unidos e aos europeus, portanto, deve ser mantida em 2012, diz Campos Neto.
O cenário de exportação de manufaturados é mais nebuloso, devido às perspectivas para os europeus e para os argentinos, que contribuíram bastante em 2011 para o avanço dos países do Mercosul na exportação brasileira. "O cenário argentino começa a mudar, o que deve levar a um crescimento mais lento no ano que vem. Isso, ao lado da propensão do país em adotar medidas protecionistas, deve dificultar o crescimento das vendas brasileiros ao país", acredita Campos Neto. Este ano, diz, a Argentina deve crescer 6%. Em 2012, porém, a previsão é 4%. Para os europeus há expectativa também é de desaceleração, com crescimento de 1% neste ano e 0,8% em 2012.
Como resultado desse movimento, diz ele, a exportação de manufaturados vai perder ainda mais espaço para os básicos, cuja participação na pauta brasileira passou de 44,7% de janeiro a setembro de 2010 para 47,9% este ano. "A desaceleração nos Estados Unidos e na União Europeia ajudará a acentuar essa tendência de exportar mais matéria-prima aos asiáticos e menos manufaturados de maior valor agregado para as regiões mais desenvolvidas", acrescenta Fábio Silveira, sócio da RC Consultores.
"A economia europeia já esfriou mais um pouco e no ano que vem deve esfriar mais ainda", diz Silveira. Em conjunto com a desaceleração da China e a lenta recuperação americana, ele acredita que o valor exportado pelo Brasil no ano que vem será menor do que o de 2011. Com estimativa de embarques de US$ 250 bilhões neste ano, Silveira acredita que o Brasil venderá ao exterior cerca de US$ 240 bilhões no próximo ano. A queda, diz, será mais influenciada pela redução de preços do que de volume. Com isso, o superávit deve cair para cerca de US$ 20 bilhões em 2012 - para este ano ele prevê US$ 30 bilhões.
Fonte: Valor Econômico/Por Marta Watanabe | De São Paulo
PUBLICIDADE