Não é apenas no Brasil que se teme o processo de desindustrialização: em boa parte do mundo o mesmo receio é experimentado em grau maior ou menor. Os industriais brasileiros sempre apontaram a política de juros altos com um dos maiores "inimigos" da produção, ao lado dos custos trabalhistas e a carga fiscal. Para o consultor Amir Khair, no front externo alguns elementos que influem no aprofundamento do processo de desindustrialização são a radicalização da concorrência internacional devido à redução do ritmo de consumo dos países desenvolvidos; a elevação da liquidez internacional promovida pelos bancos centrais dos países desenvolvidos para salvar seu sistema bancário; e a realocação da produção chinesa em direção às economias emergentes.
Na visão de Khair, a atual estratégia do governo de redução da taxa Selic, associada à diminuição dos juros bancários, visa ampliar o consumo e, com isso fortalecer a indústria sem a necessidade de novos investimentos, pois a maior parte do crescimento será atendida por ela usando sua capacidade ociosa. "Com o aumento das vendas, crescem os lucros e, num segundo momento, as inversões em capacidade instalada."
Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, a saída, não só para a indústria de transformação, mas para o Brasil, passa pela solução dos problemas que afetam a nossa competitividade. "Além de juros menores para as empresas, na ponta, ainda é preciso reduzir o preço da energia elétrica, investir na infraestrutura, manter a taxa de câmbio num patamar competitivo e reduzir a carga tributária e a burocracia."
Skaf entende que esses obstáculos estruturais associados à incerteza e baixo crescimento da economia internacional fazem com que as perspectivas para a indústria de transformação do país não sejam promissoras. "A variação da produção deve ser de 0% em 2012."
Segundo Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as taxas de juros afetam a produção industrial essencialmente de duas formas: encarecimento do custo operacional das empresas (principalmente o relativo ao capital de giro) e do custo para investir. Ele cita os dados a Pesquisa Industrial Anual (2009) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelos quais as despesas financeiras representam 5,5% do custo total das indústrias. "As altas taxas de juros tornam o crédito caro, prejudicando tanto o pagamento das contas do dia a dia, como os planos de investimentos", diz.
Na mesma linha, Skaf confirma que o nível da taxa de juros cobrada das empresas é um obstáculo que tem impactos fortemente negativos no poder de concorrência do produto brasileiro. "Os juros e os altos spreads cobrados pelos bancos encarecem consideravelmente os custos de capital e, com isso, muitos projetos de investimentos são adiados ou não realizados", diz, detalhando que o custo do capital de giro está próximo de 39% ao ano, uma taxa seis vezes maior do que a dos concorrentes estrangeiros, e representa 7,5% dos preços industriais.
Pelos cálculos de Skaf, as perspectivas de investimentos da indústria de transformação para 2012 são de redução de 3,4% em relação a 2011, e a queda nos investimentos em máquinas e equipamentos deve ser ainda maior, de 11%. "Isso é um custo muito alto para o desenvolvimento do Brasil e vai afetar negativamente o crescimento do PIB neste ano, que estimamos será inferior a 3%."
Já o presidente da CNI espera que a queda da taxa Selic dissipe um pouco o pessimismo no ambiente de negócios das indústrias. Andrade observa que, com a Selic menor, os juros de mercado tendem a cair, reduzindo o custo operacional e o custo para investimentos, promovendo uma melhora na situação financeira das empresas e estimulará os investimentos. "Isso aumentará o crescimento da economia como um todo."
Andrade ressalta, no entanto, que as indústrias têm dificuldade de acesso ao crédito. A Sondagem Industrial da CNI (de março), aponta que o acesso ao crédito foi avaliado como difícil pela maioria das empresas. "Essa percepção vem crescendo trimestralmente", diz.
Fonte: Valor Econômico/Por Juan Garrido | Para o Valor, de São Paulo
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