Às voltas com problemas de abastecimento interno do milho e baixos preços recebidos pelos produtores de arroz, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vive uma disputa feroz pelo último cargo vago em sua diretoria. Entre discussões sobre o que fazer para evitar a falta de milho para granjas e indústrias, a Conab assiste, quase paralisada, à briga de bastidores entre dois parlamentares influentes do PMDB pela diretoria financeira da estatal. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), quer emplacar no cargo seu irmão, Oscar Jucá Neto. Mas o deputado federal Mauro Benevides (CE) faz força para nomear seu neto, Matheus Benevides Gadelha.
O embate é ainda mais acirrado porque os dois candidatos ocupam cargos na Conab, que tem um orçamento superior a R$ 5,2 bilhões para 2011. Jucá assessora a diretoria de Administração e Benevides, a Presidência da estatal. A disputa já percorreu gabinetes de ministros, avançou para os salões do Congresso e foi parar no Palácio do Planalto. O vice-presidente Michel Temer já foi acionado. Há temor no governo em contrariar os dois influentes aliados. A situação é mais delicada no caso do irmão de Jucá. Isso porque, há dois anos, Oscar foi demitido da Infraero pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, empenhado em limitar as indicações políticas na estatal de aeroportos. O caso virou uma intensa polêmica pública entre Jucá e Jobim.
Em meio à briga pemedebista, o governo anunciará nos próximos dias a nomeação de outro político para a Conab. O ex-deputado federal de Goiás, Marcelo Melo (PMDB), será diretor de Operações e Abastecimento. Ele substituirá Rogério Colombini (PRB), indicado pelo então vice-presidente José Alencar. A nomeação é uma forma de compensar o PMDB goiano, já que o novo presidente da estatal, Evangevaldo Moreira dos Santos, chegou ao cargo pelas mãos do PTB de Goiás. Dois atuais diretores, Silvio Porto (PT) e Rogério Abdalla (PMDB), devem permanecer em seus postos.
Mesmo com a disputa política, que mergulhou a estatal em quase quatro meses de embates partidários, a Conab tenta resolver os problemas do milho e do arroz. A estatal já gastou R$ 400 milhões para sustentar os preços do arroz com aquisições diretas (AGF) e prêmios ao escoamento do produto (PEP). E deve usar mais R$ 300 milhões para tentar evitar um maior descolamento entre as cotações de mercado (abaixo de R$ 19 por saca) e os preços mínimos de garantia (R$ 25,80). Mas esbarra na dificuldade de armazenar a produção, já que vários silos foram descredenciados e algumas empresas relutam em pagar 5% de garantia para operar com a Conab.
No caso do milho, o governo tenta evitar uma disparada das exportações do grão, cuja demanda internacional está aquecida. A Conab vendeu 2,7 milhões de toneladas de milho nos últimos meses, mas não conseguiu evitar a alta dos preços.
Fonte:Valor Econômico//Mauro Zanatta | De Brasília
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